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Copa 2018

Fim da linha para o Brasil no Terminal Guaianases

Entre correria e dia normal de trabalho, passageiros e autônomos dão jeito para assistir jogo da eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 2018

Copa 2018|Kaique Dalapola, do R7

Haitiana Jesula chorou após derrota do Brasil contra Bélgica
Haitiana Jesula chorou após derrota do Brasil contra Bélgica

Copa nos Extremos: o R7 acompanha todos os jogos do Brasil em extremos de São Paulo e traz as histórias das festas preparadas pelos moradores da periferia.

O último jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo da Rússia acelerou o ritmo no Terminal Guaianases, no extremo da zona leste de São Paulo. Mas não mudou a rotina das pessoas que vivem nele.

Thiago não parou de vender batatas durante o jogo
Thiago não parou de vender batatas durante o jogo

Enquanto o Brasil encarava a Bélgica, no jogo que eliminou a seleção brasileira após derrota por 2 a 1, nesta sexta-feira (6), Thiago Silva, 16 anos, gritava “batata dois reais” na entrada do terminal de ônibus. “Os caras estão ganhando milhões para jogar na seleção, eu tenho que trabalhar aqui.”

Passando por televisões de comércios próximos ao terminal de ônibus, a haitiana Jesula Romulus, 30 anos, acompanhava a partida abraçada a uma bandeira brasileira e vestindo a camisa 10 da seleção, com o nome de Neymar Jr. "Amo o Brasil, torço muito."


Conforme o tempo do jogo ia passando, Jesula ficava cada vez mais nervosa. Gritava, pulava, ameaçava chorar e agarrava cada vez com mais força a bandeira brasileira.

Barraca do Ceará reunia pessoas para assistir ao jogo da seleção
Barraca do Ceará reunia pessoas para assistir ao jogo da seleção

Com um chapéu verde e amarelo e jeito agitado, o santista Thiago só conseguia ver os lances da seleção durante as pausas entre servir uma porção de batata frita e outra. Às vezes se esticava e outras vezes atravessava a rua para ver a televisão em uma barraca que vendia refrigerantes, cerveja e churrasco.


Em frente à televisão da barraca de Francisco Patrício da Silva, conhecido no local como Ceará, 33 anos, algumas pessoas paravam para assistir ao jogo antes de pegar o transporte para casa.

Ricardo e Fabiana assistiram ao 1º tempo na rua
Ricardo e Fabiana assistiram ao 1º tempo na rua

“A fila do ônibus estava enorme, por isso vamos assistir o primeiro tempo aqui, depois vamos para casa”, disse a atendente Fabiana da Silva Francisco, 39 anos. Ela assistia à partida ao lado do marido, o motorista Ricardo de Castro, 38 anos. “O Brasil tinha que ganhar para eu emendar o feriado, só voltar a trabalhar na quarta-feira”, afirmou.


O casal só ficou até o fim do primeiro tempo. Com o Brasil perdendo por 2 a 0, eles decidiram voltar para casa e assistir o fim do jogo onde moram, no Itaim Paulista, extremo leste da cidade.

A confeccionista Maria Aparecida Filho, 52 anos, tentou assistir ao jogo em casa, mas não conseguiu. Ela chegou às 14h50 no terminal e foi umas das primeiras da fila da linha que vai até a Vila Yolanda 2. O ônibus, que segundo Maria costuma passar a cada 20 minutos, demorou mais de uma hora para chegar ao terminal.

Maria Aparecida (com a camisa do Brasil) na fila do ônibus para Vila Yolanda 2
Maria Aparecida (com a camisa do Brasil) na fila do ônibus para Vila Yolanda 2

Quando chegou no fim da linha, no bairro onde mora, o jogo já havia acabado, e Maria não viu o Brasil sendo eliminado. “Se tivesse passado, pelo menos dava uma amenizada na raiva pela demora do ônibus, mas nem isso aconteceu”, disse a confeccionista.

Mas antes de a partida acabar, vários sentimentos estampavam o rosto de quem passava pelo terminal.

Durante o intervalo da partida, as pessoas começaram a nova saga para ir embora e assistir ao segundo tempo em casa. “Não quero falar, estou com pressa para ver o Brasil se lascar”, disse um homem que passava correndo com uma criança, rumo ao terminal de ônibus.

Barraca de batatas em frente ao terminal
Barraca de batatas em frente ao terminal

O fluxo também aumentava a freguesia na barraca do Thiago. “O movimento estava bom mesmo antes do jogo, que estava todo mundo indo para casa”, disse. Como era um dia atípico, de festa por causa da seleção, o jovem estava acompanhado da namorada, a estudante Bianca Elias, 15 anos.

O rapaz mora em uma comunidade ao lado do terminal, trabalha cerca de 10 horas por dia e não estuda desde o começo do ano, quando se matriculou no primeiro ano do ensino médio de uma escola pública da região.

“Hoje estou focado no trabalho mesmo, para ajudar em casa e ter um futuro melhor.” Thiago mora com a mãe, três irmãos mais novos e um mais velho. “Sei que estudar também ajuda para melhorar no futuro, mas por enquanto estou precisando de dinheiro.”

Edson Júnior e Bruna assistiram na barraca do Ceará
Edson Júnior e Bruna assistiram na barraca do Ceará

O segundo tempo começou. A barraca do Ceará enchia para os minutos decisivos da partida. As duas cadeiras de plástico do pequeno comércio eram ocupadas por outro casal. Sempre trocando carinho, o casal de autônomos Edson de Oliveira e Silva Júnior, 22 anos, e Bruna de Oliveira Feitosa, 24, tinham estilos diferentes de torcida.

“Vai, agora a Bélgica vai fazer o terceiro... Olha o gol”, disse ela, em uma das chegadas da seleção europeia. “Para com isso, amor. O Brasil vai virar, lembra o jogo que fez dois nos acréscimos”, retrucou Júnior.

Os dois só começaram a torcer igual novamente quando o Brasil fez o gol, aos 30 do segundo tempo, com Renato Augusto. “Vamos Brasil, ainda dá”, disse ela enquanto ele pulava e esfregava as mãos acreditando no empate.

Os 15 minutos finais foram os momentos de maiores aglomerações na barraca do Ceará. Nos últimos instantes da partida, o dono da barraca precisou mexer três vezes na antena do televisor, para o sinal da partida voltar.

Gol reanimou torcedores na barraca
Gol reanimou torcedores na barraca

Entre brincadeiras, nervosismo e superstições, os torcedores nervosos ainda mostravam esperança pela seleção. “Faz o gol Neymar, eu te amo Brasil”, disse a haitiana Jesula.

A torcida não funcionou. A Copa acabou para os Brasil. Jesula, a haitiana, chorou. Lágrimas. Bem diferente dos finais de tarde de sexta-feira, o Terminal Guaianases estava vazio.

Sem o gorro verde e amarelo, Thiago seguia trabalhando e já estava conformado: “Somos nós que fazemos o Brasil. Perdeu no jogo, mas a nossa luta todo dia continua a mesma coisa, então não vai mudar nada”.

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