Churrasco, festa e liberdade: a estreia do Brasil na periferia de SP
No Jaraguá, autônomo voltou a assistir a Copa em casa após ficar quatro anos preso. No mesmo bairro, família manteve a tradição de fazer churrasco na laje
Copa 2018|Kaique Dalapola, do R7
Copa nos Extremos: o R7 vai acompanhar todos os jogos do Brasil em extremos de São Paulo e trazer as histórias das festas preparadas pelos moradores da periferia.
Na estreia da seleção, contra a Suíça na tarde deste domingo (17), a reportagem do R7 foi até o Jaraguá, na zona norte de São Paulo, para acompanhar a partida com o autônomo Valmir Sanches, 54, que voltou a assistir uma Copa do Mundo em casa.
Em 2014, Sanches estava preso e assistiu às partidas dentro do CDP (Centro de Detenção Provisória) Vila Independência. “No presídio a gente pintava as celas e torcia bastante", relembra. "Ficamos triste com os 7 a 1, normal. Mas não tem comparação, aqui fora com a família é bem melhor.”
Sanches reuniu a família — filhos, cunhado e netos — e assistiram à partida na garagem de casa. Apenas uma bandeira do Brasil embaixo do televisor mostrava a torcida. Ninguém vestia camisetas ou portava acessórios da seleção.
“Depois da última Copa deu uma desanimada. A gente está acompanhando e torcendo, mas não é a mesma coisa”, diz Valmir Sanches Júnior, filho do dono da casa.
A menos de um quilômetro da casa de Sanches, outra família se reuniu para assistir ao jogo. Mais confiante, eles prepararam a casa com bandeiras e quase todos estavam com a camisa da seleção.
Para a cozinheira Zeranete Gomes da Silva, 44 anos, a derrota da última Copa também causou desânimo na família, mas a expectativa aumentou depois que Tite assumiu o time.
Ela afirma ser muito fanática pelo São Paulo e apaixonada pela seleção. “Torço muito, fico brava, xingo, gosto muito de futebol, tanto o São Paulo como o Brasil”, diz. Tratando de clubes, Zaranete era minoria em sua casa. Quase todos são palmeirenses.
Comandando a churrasqueira estava o dono da casa, o analista de contas Antônio Brito, 47 anos, enquanto a família assistia e comentava sobre os lances, principalmente as polêmicas não marcação de falta no zagueiro Miranda, no gol do Suíça, e do pênalti em Gabriel Jesus.
“Aqui sempre tem festa nos jogos da seleção. Reunimos a família, fazemos um churrasco e torcemos muito. Esse ano o hexa vem, com certeza”, disse Brito. Nas próximas partidas, no entanto, o analista disse que não está confirmada a festa, por causa do trabalho: “Se folgar, com certeza tem churrasco”.