Canarinho Mania: a história por trás do mascote 'pistola' da seleção
Inspiração americana e do Galo Doido é apenas um dos segredos do Canarinho. Sucesso absoluto, personagem foi pensado para o público jovem
Copa 2018|Guilherme Padin, do R7
O Canarinho ‘Pistola’, como é popularmente conhecido o mascote da seleção brasileira, é um sucesso nas redes sociais. Se tornou um fenômeno e conquistou uma parcela considerável dos brasileiros — até aqueles que não gostam de futebol, mas não resistem ao charme carrancudo do personagem.
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A reportagem do R7 investigou o motivo do sucesso estrondoso do bravo animal que, em menos de dois anos de vida, ganhou o Brasil.
Idealizado ao fim de 2016, ele surgiu em outubro daquele ano, em meio à arrancada de Tite — que assumiu a seleção quatro meses antes, em junho. Com quatro vitórias seguidas, o treinador gaúcho levou o Brasil do sexto lugar das eliminatórias sul-americanas (posição que não renderia vaga à Copa) ao primeiro lugar da tabela.
Curiosamente, a chegada à ponta da classificação ocorreu menos de uma semana após a ‘apresentação oficial’ do Canarinho ao público. Sua primeira aparição foi no site oficial da CBF, no início de outubro, apresentado de forma enigmática: uma série de fotos, sem explicação, apenas com o título “Canarinho: o mascote da Seleção Brasileira”.
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Todos querem o ‘pistola’
Gilberto Ratto, diretor de marketing da CBF, conta ao R7 que o perfil do mascote foi detalhadamente pensado para conquistar o sucesso que atingiu.
“Nosso foco era falar com todas as idades, mas dar ênfase no público jovem. Então fizemos uma pesquisa de costume dos jovens atuais”, diz ele, explicando a metodologia para criar o personagem.
“Reparamos que, para essa [nova] geração, não podia ser um mascote bonzinho e bobinho. Tinha que ser um que combinasse”, diz Ratto. “Aí desenvolvemos esta personalidade e até um jeito de andar para ele.”
"Para a geração mais jovem%2C não podia ser um mascote bonzinho e bobinho"
Questionado sobre o motivo da criação do personagem, Ratto relata que não houve um ‘pai’ do Canarinho. “Nossa intenção era aproximar a seleção brasileira do torcedor. Precisávamos de uma figura para isso”, diz. “Foi uma ideia em conjunto, que surgiu em várias reuniões entre o meio e o fim de 2016.”
Em maio do ano passado, a CBF lançou uma versão mais amigável de seu mascote.
Em um tuíte da própria confederação, a argumentação era de que ele serviria para ações sociais. O Canarinho ‘light’, no entanto, não voltou a ser utilizado.
“Foi algo que decidimos ali, naquele momento. Teve uma boa aceitação no evento, mas mesmo as crianças da ação social pediam o canarinho enfezado”, revela Ratto. “Então decidimos trabalhar apenas com a versão brava mesmo.”
Estilo ‘pistola’: sucesso nos EUA
As figuras carrancudas não são novidade no esporte mundial. Em ligas como NBA e NHL — de basquete e hóquei dos EUA, respectivamente —, não são comuns os mascotes com semblantes e comportamentos amigáveis e bondosos.
Um dos grandes êxitos na liga norte-americana de basquete, Benny, The Bull (o touro) é um sucesso consolidado do Chicago Bulls, uma das mais tradicionais franquias do torneio.
Foi no Bulls onde jogou Michael Jordan, maior jogador da história do basquete. Lá ele ganhou os seis títulos da NBA de sua carreira e da história da equipe de Chicago.
Na contramão de mascotes oficiais de clubes brasileiros, com perfis amigáveis, Benny construiu seu sucesso à base das ‘trollagens’ com os fãs e seu jeito sisudo.
O diretor de marketing da CBF conta que Benny serviu de inspiração para moldar a personalidade do Canarinho. “O mascote do Chicago Bulls nos ajudou nessa ideia. Com um pouco daqui, um pouco de lá, além das nossas referências, nasceu o Canarinho”, diz Ratto.
Torcidas organizadas x Memes
Se os mascotes oficiais no Brasil fazem um perfil tido como ‘fofo’, o cenário é o oposto nas torcidas organizadas das equipes mais tradicionais do país.
“Querendo ou não, as torcidas estão ligadas à violência. As torcidas nasceram na época mais violenta do brasil: a ditadura”, diz Gabriel Uchida, repórter fotográfico que acompanha e estuda as torcidas organizadas no Brasil. “Elas nasceram na ditadura, cresceram na ditadura e tiveram, em toda sua vida, uma rejeição da sociedade.”
"A seleção tem um público diferente das torcidas organizadas"
Embora a figura sisuda tenha se mostrado um exemplo de êxito com as torcidas e o mascote da seleção, Uchida não vê relação nos perfis do Canarinho e de outros símbolos de organizadas.
“Esse Canarinho ‘Pistola’ tem mais a ver com ‘memes’ e coisas engraçadas da internet. A seleção tem um público diferente do que são os torcedores de organizadas”, diz. “Entendo ele [Canarinho] como um ‘rebranding’ (estratégia de recomercialização de um produto) para trazê-lo para uma coisa mais popular e atual.”
No Brasil, em termos de clubes, o Atlético-MG é um dos poucos clubes tradicionais, senão o único a ter essa figura mal-humorada como mascote.
Ratto diz que o clube mineiro também serviu de exemplo. “Além do mascote dos Bulls, o Galo Doido, do Atlético Mineiro, também foi analisado”, revela o dirigente da entidade.
CBF não é contra os ‘fakes’
Os perfis não-oficiais do Canarinho, ou ‘fakes’, como são chamados, também fazem sucesso nas redes sociais. Algumas páginas no Facebook e Instagram ultrapassam os 100.000 seguidores.
Na imensidão da internet, Valter Frazão, 25, é dono da página Canarinho M1L GR4U, a mais curtida entre todas as redes. A página de Frazão conta hoje com mais de 150.000 curtidas.
“A personalidade dele é a mesma da maioria da população brasileira em relação ao futebol: o brasileiro xinga, critica e depois está lá, amando e comemorando as vitórias da seleção”, diz ele. “Basicamente, hoje ele é a personificação da população brasileira.”
Questionado se os perfis não-oficiais incomodam a CBF, Ratto garante que não. Muito pelo contrário, inclusive.
“Nós não brigamos por direitos [do uso de imagem]. A gente sabe que tem um monte de canarinhos ‘fakes’”, diz. “Querendo ou não, eles nos ajudam a divulgar. Exageram um pouco nos palavrões, às vezes, mas criam uma simpatia”, explica.
Sobre a palavra ‘pistola’, atribuída a um perfil enfezado, bravo, e não utilizada pela CBF, Ratto diz não que não há incômodo.
"Hoje ele é a personificação da população brasileira"
“Somos uma entidade séria, então não podemos utilizar o termo. Só usamos o nome Canarinho. Mas, não, não nos incomoda de maneira alguma”, garante.
Canarinho 'Pistola': os segredos do sucesso do mascote da seleção