Autor da maior fake news das Copas espera rever textão na Rússia 2018
Quem nunca 'ficou enojado' com 'a verdade sobre 1998' em artigo espalhado pela internet a cada derrota em Mundial? R7 encontrou responsável pelo viral
Copa 2018|André Avelar, do R7
O Brasil ainda não conhece os convocados para a Copa 2018, mas já sabe que tem textão no forno em caso de eliminação da seleção. Há mais de 15 anos, um artigo com diferentes versões vem se repetindo nas redes sociais com o “escândalo que todo mundo suspeitava”. Ou você nunca ficou enojado com a verdade sobre 1998, 2002, 2006... 2014?
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Com tom alarmista, bem-escrito e jeito de furo jornalístico, o artigo originalmente dizia que o Brasil havia trocado o título da Copa 1998 pela sede do último Mundial. Nada disso foi comprovado. Tampouco naquela altura estava sendo investigado por alguns dos principais jornais do mundo. Em linhas gerais, o texto nada tem de verdade. Nem mesmo o suposto autor, de nome imponente, Gunther Schweitzer, é jornalista como creditado na assinatura da mensagem. Pura fake news.
O R7 localizou o suposto autor do texto. Hoje dono de uma empresa de eventos esportivos em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, o profissional de educação física Schweitzer leva com muito bom-humor a gafe que cometeu ao encaminhar uma corrente de internet sem saber ao certo a veracidade. Ele explicou que recebeu a mensagem (essa sim de autor desconhecido) ainda quando era analista de produção na Volkswagen Caminhões, em Resende, no Rio de Janeiro, e repassou a amigos sem apagar sua assinatura de e-mail.
Daí em diante, o texto viralizou como se fosse de autoria dele. Bastava então uma eliminação da seleção brasileira em Copas para reaparecer com versões adaptadas ao momento, como alterações no nome do jogador em questão e nos membros da comissão técnica. Gunther brinca que “às vezes faz uns bicos de jornalista” e se diverte com versões que vão do futebol à política, passando por cancelamento de shows de música e premiações do Nobel de Literatura.
“Não me canso de ver versões desse texto. Já arrumaram tantas. Mas, sinceramente, do jeito que está, com o Neymar dando esses migues dele pra lá e pra cá, vai ter muita encrenca já antes da Copa”, disse Schweitzer, que ainda cornetou a escalação de Tite. “As versões podem começar desde agora com as escalações do Tite. Ele pega gente de tudo que é lugar do mundo, faz uns esquemas loucos. Se não der certo, vai chover textão de novo.”
No primeiro modelo, o ex-jogador Leonardo é quem teria se revoltado com a venda do pentacampeonato. O combinado, segundo o texto, era que o Brasil facilitasse a vitória da França. O ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, o ex-técnico Jorge Mário Lobo Zagallo e até um representante da Nike estariam no esquema.
O fenômeno da fake news
O termo “fake news” ganhou notoriedade nos últimos anos, mas não passa da antiga “notícia falsa”. Em geral, interessados em determinado direcionamento político ou econômico se empenham em propagar a desinformação ou o boato com o intuído de obter vantagens. A fácil distribuição de informação intensificou esse fenômeno nas redes sociais.
Não é possível posicionar no tempo o início da fake news. Sabe-se, no entanto, que ele já existia quando a própria internet nasceu, segundo aponta o vice-presidente de pesquisas e analista emérito da Gartner, Whit Andrews.
“Quando me tornei usuário de internet, em 1994, imediatamente tomei nota de notícias falsas sobre a usenet, onde bots e trolls postavam críticas políticas”, disse Andrews. “Não posso dizer que eventos da fake news acontecerão em 2018, mas concordo que devemos supor que notícias falsas não diminuirão no futuro imaginável.”
Ainda no início da navegação na web, as dificuldades com a banda larga faziam com que grande parte dos usuários no Brasil copiassem um texto e colassem no corpo de um e-mail antes de enviar a seus destinatários. Hoje, o mais comum é enviar o link diretamente ou até marcar a pessoa nas redes sociais. Daí, por exemplo, a confusão com o texto da Copa 1998.
Da derrota da seleção brasileira para a francesa na Copa do Mundo de 1998 para cá foram: oito técnicos (Vanderlei Luxemburgo, Candinho, Emerson Leão, Luiz Felipe Scolari, Carlos Alberto Parreira, Dunga, Mano Menezes e Tite), quatro Copas (Japão e Coreia, Alemanha, África e Brasil), um campeonato mundial (2002) e muitas versões do mesmo texto.
Assim como o Banco de Olhos de Sorocaba não está jogando córneas doadas no lixo, uma professora feminista do Distrito Federal não tentou passar batom em um aluno e a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) não foi morta porque tinha ligações com o crime organizado, o conteúdo do texto de Schweitzer é falso.