Flamengo faturará R$ 750 milhões. E pechincha indenização aos mortos
Após rejeição de sua baixa proposta hoje, clube fará nova reunião na quinta-feira. Promete aumentar o dinheiro oferecido. Situação constrangedora
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
O último ato da direção do Flamengo, comandanda por Eduardo Bandeira de Mello, aconteceu em dezembro de 2018.
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E era a previsão total das receitas de 2019.
Nada menos do que R$ 750 milhões.
Valores contavam com cerca de R$ 150 milhões da venda de Lucas Paquetá com o Milan, já que a maior parte do dinheiro será paga este ano.
Além disso, R$ 108 milhões só de patrocínios, royalties e publicidade.
As transmissões pela tevê devem render perto de R$ 200 milhões.
A venda de atletas deve gerar R$ 70 milhões.
O orçamento previa mais de R$ 200 milhões apenas para investimento no futebol.
Metade, R$ 100 milhões, só para a compra de jogadores.
Ou seja, Bandeira de Mello deixou claro que centenas de milhões ficariam à disposição do seu sucessor.
Repetindo, previsão total das receitas, R$ 750 milhões.
O que significariam R$ 20 milhões?
E mais dez pensões de R$ 10 mil a cada família dos dez meninos que perderam a vida no Centro de Treinamento Ninho do Urubu. Dez garotos entre 14 e 17 anos. Entregues em confiança ao clube mais popular do Brasil. Mas que os colocou em dormitórios improvisados em contêineres. Com uma só saída. Que não resistiu a um provável curto circuito em um dos aparelhos de ar-condicionado.
Os meninos foram mortos em um incêndio terrível.
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Perderam a vida asfixiados ou carbonizados.
O CT Ninho do Urubu, que estava sem alvará do Corpo de Bombeiros, serviu como armadilha mortal aos garotos.
Já prevendo que o Flamengo ofereceria uma quantia irrisória às famílias, o Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro tomou frente às negociações.
Os promotores chegaram a um número em consenso com os familiares dos meninos mortos.
Indenização de R$ 2 milhões e mais uma pensão de R$ 10 mil mensais até que cada um deles completasse 45 anos.
Como a idade média dos garotos fica em cerca de 15 anos, seriam mais 360 meses, correspondentes a 30 anos.
Mais R$ 3,6 milhões a cada um.
R$ 36 milhões em 30 anos.
O clube pagaria R$ 1,2 milhão por ano às dez famílias dos mortos.
Mas os dirigentes do Flamengo disseram 'não'.
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Os promotores do Ministério Público revelaram o que o clube não quis assumir para a imprensa.
Foram entre R$ 300 mil e R$ 400 mil, dependendo do maior ou menor número de familiares, por cada menino morto.
E mais um salário mínimo, R$ 998,00, por dez anos e ponto final.
Mesmo sendo de domínio público que a esmagadora maioria dos atletas recebia R$ 10 mil mensais, jovens promessas do futebol brasileiro.
Dirigentes flamenguistas alegaram que a proposta era maior do que os donos da boate Kiss ofereceram aos mortos no terrível incêndio em Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Sim, compararam os meninos que o Flamengo deveria abrigar no seu Centro de Treinamento aos estudantes, muitos deles maiores, que foram se divertir e perderam a vida na boate.
Lamentável.
A reação negativa aos dirigentes do clube que deverá faturar R$ 750 milhões em 2019 dominou as redes sociais do Brasil.
O Ministério Público do Trabalho é bem claro.
Se não houver acordo, haverá uma batalha jurídica.
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O que será terrível para a imagem do Flamengo.
O novo presidente Rodolfo Landim precisa preservar o clube.
A hora é de assumir responsabilidade.
Ninguém gosta de gastos.
Mas dez famílias perderam seus filhos no Ninho do Urubu.
Não há ninguém para culpar pelas mortes.
A não ser a insegurança, o improviso, o descaso do Flamengo.
O clube não evitou a tragédia.
E agora está pechinchando as indenizações.
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Algo triste.
Não condiz com a história do Clube de Regatas do Flamengo.
E muito menos com quem faturará R$ 750 milhões em 2019...
(Mas a situação poderá ficar ainda mais constrangedora. Na quinta-feira haverá nova reunião. O Flamengo promete aumentar um pouco sua proposta. Quanto vale a vida de um garoto morto em um dormitório improvisado em contêineres?)
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