Com direito inclusive ao VAR, a França é a campeã de 2018
Num jogo empolgante, em que a Croácia mandou enquanto teve pernas, os "Bleus" dão a Deschamps o duplo título, jogador em 98 e agora treinador
Silvio Lancellotti|Do R7
Por duas vezes a terceira colocada, na Suécia/58 e no México/86, vice na Alemanha/2006, enfim, precisas duas décadas depois do seu título dentro de casa, em 1998, a França voltou a subir ao topo do pódio de uma Copa do Mundo, agora na Rússia/2018. Num cotejo emocionante, em que não escassearam os lances lindos e as situações polêmicas, no Estádio Luzhniki de Moscou, repleto em seus 78.011 lugares, presentes até os três mandatários, Kolinda Grabar-Kitarovic da Croácia, Emmanuel Macron da França e o anfitrião Vladimir Putin, pelo resultado de 4 X 2 a suficientemente pragmática, objetiva seleção dos “Bleus” de Didier Deschamps, suplantou a corajosa mas extenuada, esgotadérrima “Vatreni”, a equipe “Ardente” de Zlatko Dalic.
Foi o sexto confronto das duas bandeiras na História do Futebol. Nos cinco desafios anteriores aconteceram dois empates e três triunfos da França. No único oficial, em 98, numa das semis da Copa que organizaram, os “Bleus” sobrepujaram a “Ardente” por 2 X 1. Ou seja, estavam invictos, e preservaram a primazia. Curiosamente, foi também um duelo multinacional. Dos 23 convocados por Deschamps, apenas quatro não descendem de imigrantes: o atacante suplente Thauvin, e três titulares, o arqueiro Loris, o lateral Pavard e o avante Giroud. Dos 23 pupilos de Dalic, apenas dois, e reservas, o arqueiro Livakovic e o volante Bradaric, atuam por clubes da sua pátria.
De que maneira se portaria o elenco de Dalic obviamente exaurido, eu seu físico, depois de três prorrogações, e de duas disputas de penais, na prática um jogo mais do que os descansados de Deschamps? Como se estivessem na sua estreia na Copa, mandavam no prélio até os 18’ quando sofreram uma dupla punição. Primeiro, Griezmann cavou uma falta que, o mediador Néstor Pitana, da Argentina, erroneamente confirmou. Então, o mesmo Griezmann levantou e, numa tentativa desafortunada de rebater de cabeça, Mandzukic desviou na direção da própria meta, um insólito autogol numa decisão de Copa, o primeiro de tal tipo na história da competição.
Não se abalou a “Ardente”, porém. Continuou a jogar em velocidade, incisivamente, a penetrar na retaguarda dos “Bleus”, atônitos diante de tanta vibração. E o empate surgiu, com justiça, aos 28’, numa jogada de vídeogame, infração levantada por Modric, no flanco esquerdo, até Vrslajko no destro, devolução de cocoruto a Vida, toque de lado a Perisic, que ajeitou de direita e fulminou, um belo tiro cruzado de esquerda, sem chance para Lloris.
Numa outra situação bastante inusitada, todavia, a França desempataria. Aos 38’, a bola resvalou na mão, quem diria, de Perisic, pertinho da linha de fundo da sua própria área. Reclamação dos “Bleus”. O italiano Massimiliano Irrati, na pilotagem do VAR, notificou Pitana, que examinou as repetições, durante mais de dois minutos, no monitor do gramado. Lance duvidoso, uma decisão de risco. O árbitro, no entanto, considerou o lance faltoso. Pênalti. Griezmann cravou, 2 X 1, impecável, pelota num canto e Subasic no outro.
Muito mais aplicada, a Croácia terminou a etapa inicial com 61% de posse da pelota. Ainda assim, infortunada, atrás no resultado. E o seu predomínio permaneceu em boa parte da etapa derradeira. Tanto que, aos 54’, Deschamps optou por trocar Kanté, o seu mastim de meio-campo, por um volante, Nzonzi, novo em folha. O tempo, contudo, se transformaria no principal inimigo da “Ardente”. Principalmente porque, aos poucos, ficou transparente que se encurtavam as forças dos rapazes de Dalic. Bingo! Aos 60’, enfim Paul Pogba armou um contra-ataque eficiente e enfiou a Mbappé que cruzou. Griezmann aparou e recuou a Pogba que chutou de destra, a zaga devolveu e, então, de esquerda, ele mesmo enviou o torpedo, 3 X 1.
Não havia mais de onde a Croácia recolher alento para a reação, correr em busca de dois tentos, de uma quarta prorrogação, quem sabe uma nova batalha de penais. De fato, aos 65’, o garoto Mbappé, garoto mesmo, de dezenove anos, não um suposto menino de 26, seu colega de PSG, bateu de fora da área da “Ardente” e realizou 4 X 1. Placar cruel, injusto para a então derrotada que merecia algum bafejo da sorte. Pois aos 69’, numa pelota trivialmente atrasada, o arqueiro Lloris, pedantemente, quis driblar Mandzukic e entregou as suas redes vazias ao adversário, Croácia 2 X 4.
Valeu como consolo, honraria. Valeu também o premio de craque da Copa que a FIFA concedeu ao capitão Luka Modric, da "Ardente!". Claro, os homens de Dalic se decepcionaram. Nada mais natural. Então, na descida das tribunas para a entrega da taça, protocolarmente, cavalheirescamente, debaixo de um temporal absurdo, inolvidável, Macron beijou a colega Kolinda, e o treinador Deschamps, sob aquele banho de água gelada nada habitual, pôde celebrar um formidável recorde: como o brasileiro Mário Jorge Lobo Zagallo (58/70) e como o germânico Franz Beckenbauer (74/90), um vero campeão do mundo como jogador, na sua casa, em 98, e novamente, na Rússia. Allez!
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