“Só estamos tranquilos dentro da sede”, diz torcedor de organizada
Integrante de torcida carioca já participou de briga e conta como funciona um confronto
Futebol|Do R7*
O fanatismo alimentado por uma rivalidade que extrapola os limites de um campo de futebol faz com que torcedores vão aos jogos se preparando para uma briga. É o que relata ao R7 Júnior, torcedor de uma organizada do Rio de Janeiro, que teve a identidade preservada por questão de segurança.
Ele, que mora em São Paulo, mas já viajou o Brasil para acompanhar o time que ama, já presenciou e participou de brigas. Uma delas no Rio de Janeiro, com a torcida rival que queria um acerto de contas.
Foi em um jogo da final do Campeonato Carioca, no qual a torcida adversária armou uma emboscada para pegar os mais de 30 integrantes que caminhavam pela cidade de Mesquita. Júnior estava no grupo e conta que não estava uniformizado, mas mesmo assim foi reconhecido.
— Fomos pegos de surpresa. No local que estávamos reunidos, chegou a torcida deles. Vieram correndo, estavam em maior número. Alguns dos nossos correram, outros que estavam comigo correram atrás. Não conseguimos pegar.
Segundo o torcedor, houve confronto corporal, mas não havia armas. Para esta partida, a Polícia Militar do Rio de Janeiro havia proibido a entrada da torcida da qual Júnior faz parte. Mesmo assim o grupo entrou, mas sem a camisa da torcida.
A relação com a PM é um assunto que Júnior não gosta de falar. Ele diz que, mesmo em brigas em que a torcida está em menor número, não é bom recorrer à polícia porque pode até piorar a situação.
— Se você estiver apanhando e chamar a polícia, eles batem mais ainda. Eles não conversam. Apenas xingam, nos chamam de irresponsáveis e falam para nós calarmos a boca. Isso quando já não chegam tacando spray de pimenta na nossa cara.
Em um episódio, ocorrido em 2013, no Pacaembu, a torcida estava jurada de morte e mesmo assim foi para o jogo contra o Corinthians.
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— Prometeram nos pegar, matar. Aí, na saída do estádio a PM só escoltou os ônibus que voltavam para o Rio. Como moramos em São Paulo, estávamos sem proteção nenhuma. Viemos do Pacaembu até a Barra Funda. Eram cerca de 50 da nossa torcida, ninguém estava uniformizado, mas o clima era tenso. Durante o caminho fomos recolhendo tudo o que encontrávamos pelas ruas. Pau, pedra, tudo para nos defender, caso alguém tivesse nos esperando. Nessa hora tudo vira arma.
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Segundo Júnior, não há como saber quando vai haver uma nova briga.
– As brigas são inesperadas. Elas acontecem sem que um ou outro marque. E outra: nem precisa ser jogo das mesmas equipes. Por exemplo, caso uma aliada nossa vá jogar no Rio contra um rival, a possibilidade de armar emboscada é grande.
Dificuldade de largar — Hoje com 21 anos de idade , sendo que a maioria deles dedicado à torcida, Júnior confessa que já cogita largar a vida de torcedor assíduo. No entanto, alguns impedimentos o amarram à relação perigosa, feita de medo constante de ir aos estádios. Ele conta que sua família pede para que ele fique em casa, mas as suas amizades não o deixam simplesmente largar e o fazem mentir, dizendo que nunca participou de nenhuma confusão.
— Eu penso em largar sim. Sem briga, poder ir e voltar sozinho de um jogo. Mas o que me impede são os meus amigos. Quero que na hora do aperto eles possam contar comigo. Na real, nós só estamos tranquilos dentro da sede. Fora dela o clima é de tensão, que alterna em uma adrenalina constante. A maioria não participa de brigas, mas a minoria prevalece e comanda tudo.
* Gilmar Junior, estagiário do R7