Pai de boliviano morto quer distância do futebol

O dia 23 de fevereiro de 2013 foi a data em que o torcedor Limbert Beltrán, apaixonado pelo San José, de Oruro, se despediu definitivamente do futebol.

Neste dia, o corpo de seu filho Kevin Beltrán Espada, de 14 anos, foi enterrado em Cochabamba (Bolívia), após ele ter morrido, três dias antes, atingido por um sinalizador lançado da torcida do Corinthians.

O garoto havia viajado de sua cidade só para assistir, em Oruro, ao jogo entre San José e Corinthians pela Libertadores. Seu pai, professor de história no ensino médio da Bolívia, não podia ir junto.

Limbert tinha de dar aula no dia seguinte àquela quarta. E deixou o filho ir, esperando que ele se divertisse com a aventura. Depois da perda e do arquivamento do caso, sem que culpados fossem punidos, para o pai, o futebol acabou.

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— Eu era hincha (torcedor) dos bons, daqueles que vibram, se alegram e voltam para casa em paz quando a partida termina. Agora, o que vou ganhar ao ver um jogo? Como se sente um pai que vê o filho ir ao estádio e passa por isso? E as pessoas gastam milhões em marketing promovendo o jogo...Obviamente, a mim não interessa mais.

Depois do episódio, 12 torcedores ficaram presos na Penitenciária de San Pedro, em Oruro. Sete foram libertados primeiro e cinco, depois, quando o prazo de seis meses para investigações se esgotou.

A libertação dos torcedores contou com o trabalho do governo brasileiro junto ao boliviano e era vista como uma espécie de contrapartida pelo asilo, em solo brasileiro, de senador boliviano procurado pela Justiça de seu país.

— Não foi só o interesse dos dirigentes esportivos que contou no caso da morte de meu filho. A falta de conclusão também se deveu a interesses maiores, políticos e diplomáticos, que envolveram os governos dos dois países.

A demora para os presos brasileiros serem soltos foi atribuída em parte ao pai do menino. Segundo advogados, Limbert não assinava um acordo para que fosse instaurada a Justiça Restaurativa, em que todas as partes saem satisfeitas de um conflito judicial.

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— Não houve nenhuma justiça restaurativa. Fique satisfeito com algo neste episódio? Não tive culpa pela permanência deles, era um prazo estabelecido pela Justiça.

Entre eles havia dois com indícios de culpa, se encontrou pólvora e os mesmos artefatos, o que não se considerou quando acabávamos de colocar esta questão, então o segundo grupo foi liberado. Logo depois da soltura, Limbert conta que foi abordado por um dos torcedores, que chegou a tirar satisfações com ele.

— Quando saíram os últimos torcedores, apareceu um que veio falar comigo, reclamando por que eu não cumpri acordo. Não descumpri acordo nenhum. Isso me incomodou muito, me senti ainda mais invadido. Depois do retorno, a maioria dos torcedores continua frequentando os estádios. Três deles se envolveram em novas brigas.

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Cleuter Barreto Barros e Leandro Silva de Oliveira, os dois a que Limbert se refere, foram filmados em uma briga com vascaínos, no estádio Mané Garrincha, em Brasília, em agosto de 2013.

Em fevereiro de 2014, Tiago Aurélio dos Santos Ferreira participou da invasão de corintianos ao CT Joaquim Grava. Depois ele esteve envolvido em uma briga, no segundo semestre, durante partida contra o São Paulo. Limbert ficou sabendo dos episódios.

— Está difícil a justiça dos homens punir os culpados. Mas há a justiça divina. Já soube que alguns deles voltaram a se envolver em confusão, mostrando que não são santos. O que me conforta é que a justiça de Deus não falha.