"Hoje, o Campeonato Carioca é o ex-campeonato mais charmoso do mundo". O desabafo revoltado do atacante Fred, ao término do Fla-Flu, no último domingo (5), tem sentido. Afinal, um torneio que teve em seu regulamento inicial a polêmica "lei da mordaça", como aconteceu agora em 2015, não pode ser comparado ao campeonato glamouroso descrito tantas vezes nas crônicas libertárias de Nelson Rodrigues. E como no ex-campeonato mais charmoso do mundo 'falar é prata e calar é ouro', Fred ainda corre o risco de ser punido por expor sua opinião.
Expulso no clássico com o Fla, Fred dispara: 'O Carioca tem que acabar'
A história é a seguinte: antes mesmo de a bola rolar, o Carioca deste ano já se mostrava bastante duvidoso e distante dos tempos áureos de Zico e Rivelino. No regulamento inicial, um artigo indicava que os clubes participantes eram passíveis de multa em caso de críticas contra a federação ou contra o torneio.
Felizmente, pouco depois a Justiça do Rio decidiu acabar com a apelidada "lei da mordaça" e o artigo 133 do regulamento geral foi à lona. Isso graças a uma ação civil movida pela Defensoria Pública, que entendeu que a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), ao criar o dispositivo, feria a liberdade de expressão e de imprensa.
Mas, no mês passado, quando o técnico Vanderlei Luxemburgo, impedido de escalar jogadores da base do Flamengo no duelo contra o Bangu, disse que era necessário "dar porrada na federação" por conta do esdrúxulo regulamento, que permitiu a inscrição de apenas cinco atletas amadores, tal liberdade de expressão passou longe de existir. Na ocasião, o "Profexô" tomou dois jogos de gancho e apareceu na entrevista coletiva seguinte ao episódio com um adesivo colado na boca em forma de protesto.
"Não tiro uma vírgula do que eu disse. Falei 'dar porrada na federação', mas é impossível eu fazer isso, pois vou quebrar minha mão. Foi uma interpretação mal intencionada ou tendenciosa. Falei no sentido de crítica, a ditadura já acabou, a Constituição Brasileira mostra isso. Briguei muito pelos direitos quando fui estudante e agora não posso falar?", reclamou o técnico rubro-negro. "Queria a melhora do futebol brasileiro. Quando me posicionei não foi em relação ao presidente, mas sim contra a federação, que não quer dar chance aos jovens", completou.
Outra polêmica causadora de discórdia no Carioca foi a do preço dos ingressos, que uniu a dupla Fla-Flu contra a Federação de Futebol do Rio de Janeiro. Aliados ao consórcio que administra o Maracanã e temendo por seus cofres vazios, os dois clubes rivais foram contrários à política de tabelamento do preço dos ingressos. Só não ganharam o apoio do Vasco da Gama, que por meio do presidente Eurico Miranda disse ser impossível atuar no Maracanã em moldes diferentes aos sugeridos pela Ferj.
Com tudo isso, Flamengo e Fluminense cogitam agora a criação de uma liga independente para 2016 - ou, pelo menos, entrar em campo com reservas. Em entrevista à ESPN, o presidente rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, disse que os clubes estão disputando o Estadual em sinal de protesto e que o atual modelo não será mais aceito.
"Estamos rompidos. É definitivo. Disputamos o campeonato de 2015 em respeito à imprensa, à televisão e aos torcedores. Mas, na realidade, sob protesto. A partir de 2016, a discussão será outra. Fla e Flu estão estudando de que maneira vamos nos portar. Mesmo que a gente perca dinheiro, partir para outra solução. Tentei dialogar, fui às reuniões e tinha esperança do diálogo. Mas a partir do momento que o Flamengo e Fluminense são tratados de uma maneira inaceitável, aí não há diálogo. Acaba o respeito".
Será que a possível liga independente criada pela dupla Fla-Flu poderá fazer do Carioca novamente o "campeonato mais charmoso do mundo"? Fred aguarda por isso.