Corintiano condena ostentação e aposta em “sono” para brilhar na zaga menos vazada do Brasileirão
Yago, de 22 anos, passa longe de baladas e evita postar fotos chamativas nas redes sociais
Futebol|Vinícius Bacelar, do R7
Dono da camisa 3 do Corinthians apesar de reserva, o jovem Yago prega a paciência e aposta em noites de sono para um dia se firmar na zaga titular da equipe menos vazada do Campeonato Brasileiro. O atleta, de 22 anos, considera-se até um jogador diferente no mundo da bola.
Casado com Bruna, de 21 anos, e “pai” da cachorrinha Yula, o atleta não tem o costume de frequentar grandes festas e baladas. O zagueiro gosta de ir à igreja e sair para jantar com a mulher. Ele também condena a costumeira ostentação dos boleiros nas redes sociais: “Tento usar a imagem e a influência que tenho para levar uma mensagem mais positiva na internet.”
Atrás dos titulares Gil e Felipe, além do reserva imediato Edu Dracena, Yago parece não se incomodar com o banco no Corinthians. Depois de um início difícil no Timão, quando se sentia envergonhado no meio de atletas consagrados como Emerson Sheik e Paolo Guerrero, o zagueiro amadureceu após o empréstimo ao Bragantino.
Com o aval do técnico Tite e contrato até dezembro de 2018 (80% dos direitos econômicos pertencem ao clube e 20% ao próprio atleta), Yago conta em entrevista suas qualidades para ganhar uma chance na zaga que sofreu apenas 14 gols em 19 partidas do Brasileirão. Confira a seguir os principais trechos do bate-papo:
R7: O que você pode oferecer para se tornar titular de uma zaga tão forte como a do Corinthians?
Yago: Fica difícil falar que dá para agregar alguma coisa a uma zaga como essa. Tem Felipe, tem Gil e tem Dracena. Minha ideia para o restante do ano é esperar e trabalhar bem. A gente sabe que, quando menos espera, a oportunidade aparece. Eu não acredito que faria algo diferente do que os outros (zagueiros do Corinthians) fazem atualmente.
R7: Mas qual é a sua principal qualidade?
Yago: Eu me acho veloz por ser um zagueiro. Também tenho um bom desarme na disputa um contra um. Porém, a principal virtude, que talvez me trouxe até aqui, é a técnica com a bola no pé, a saída de bola.
R7: Como é o Yago fora do campo? O que você gosta de fazer nas horas de folga?
Yago: Eu sou um cara religioso. Muita gente, quando pensa em jogador de futebol, pensa em noitada. Eu sou bem mais tranquilo. Vou para a igreja e saio para jantar com a minha mulher. Às vezes, fazemos um programa a três: eu, ela e a minha cachorrinha (Yula, uma yorkshire de seis meses), que é a nossa "filhinha".
R7: Você e sua mulher também não curtem ostentar nas redes sociais, como fazem alguns boleiros...
Yago: Não gosto mesmo deste tipo de coisa. Tento usar a imagem e a influência que tenho para levar uma mensagem mais positiva na internet. Minha mulher também é quietinha. Mais do que eu, inclusive.
R7: Você acredita que este estilo mais discreto ajuda dentro de campo?
Yago: Conheci vários casos assim (de jogador que não vingou por abusar das festas). Não sei dizer se é algo cientificamente comprovado, mas sinto diferença quando durmo tarde. O repouso na noite anterior ajuda bastante dentro de campo, sem dúvidas.
R7: Você já jogou improvisado como lateral esquerdo. Esse pode ser um caminho também?
Yago: Não é a minha ideia ir para a lateral. Claro que no último caso... Sei lá. O Uendel pode ficar suspenso e o (lateral reserva, Guilherme) Arana pode ter uma diarreia (risos)... mas não é o meu pensamento.
R7: Como foi a volta do empréstimo para o Bragantino? Temeu não retornar para o Corinthians?
Yago: Quando estava no Bragantino, houve algumas sondagens de times como o Vitória, o Atlético-PR e até de um clube português. Tive uma regularidade em Bragança. Fiz mais de 60 jogos em um ano e seis meses lá. Acabou meu contrato e não sabia exatamente o que iria acontecer. Só sabia que tinha que me reapresentar ao Corinthians. Meu empresário me ligou no meio das minhas férias, mas achava que só iria completar treino aqui.
R7: Você chegou e já falou com o Tite? Como foi este encontro?
Yago: Eu estava saindo com a minha mulher para tirarmos o visto americano, meu telefone tocou e era o Tite. Levei até um susto. Tinha planejado viajar para a minha lua-de-mel (Yago e Bruna se casaram no último mês de dezembro), mas ela não conseguiu tirar o visto e a viagem não aconteceu. Achei que voltaria para o Corinthians para compor elenco apenas, mas depois que o Tite me ligou, comecei a ver que o negócio era sério.
R7: E que o Tite te falou nesta ligação?
Yago: Falou para eu me cuidar, manter o peso. O Corinthians já ia disputar a Pré-Libertadores em janeiro e o elenco não tinha muitos zagueiros. Era o Gil, o Felipe, eu e o menino da base, o Pedro. Quando saí daqui para o Bragantino, com 19 anos, não estava bem. Acho que até por isso trouxeram o Dracena, mas voltei de outra forma e a comissão técnica ficou surpresa.
R7: O que aconteceu no Bragantino para você voltar melhor?
Yago: Alguns jogadores não sentem a transição da base para o profissional, mas, quando subi, o Corinthians tinha acabado de ser campeão mundial. Tinha o Emerson Sheik, o Guerrero...fiquei um pouco assustado. Tinha medo de receber a bola, de dividir com os caras e eles ficarem bravos. Sentia vergonha de tudo. E quando você tem medo de errar, você erra mesmo.
R7: Como foi a sensação de marcar um gol na Arena Corinthians? (contra a Penapolense no Paulistão)
Yago: Foi um misto de emoções. No primeiro tempo fiz um gol e estava bem. Já no segundo, até um pouco por displicência minha também, tomamos três gols. Acabei falhando em um. É uma noite que o cara não consegue dormir, fica pensando no que poderia ter feito.
R7: Você voltaria a jogar por uma equipe de Série B caso não tenha oportunidades no Corinthians?
Yago: Batalhei muito para chegar até aqui. Não posso cuspir para cima. Já disputei duas séries B, mas a minha ideia é sempre evoluir. Talvez ser emprestado para outro time da Série A. Não sei, não sei. Sou paciente. Posso esperar uma oportunidade aqui no Corinthians porque aqui eu sempre cresço. A não ser que chegue outro zagueiro. Aí é uma situação diferente. Por enquanto, estou satisfeito.
R7: Como você consegue se manter tranquilo na reserva? Não fica ansioso?
Yago: A pior dificuldade do ser humano é saber esperar. É difícil porque todo atleta quer atuar. Há alguns exemplos no futebol. O próprio Felipe é um caso aqui no Corinthians. Esperou mais de um ano e hoje está bem.
R7: Você se inspirou em alguém para jogar na zaga?
Yago: Na base, eu jogava de volante. Não gostava de atuar na zaga. Não me inspirei em nenhum zagueiro de antigamente. Hoje me inspiro no Gil. É um cara maduro dentro e fora de campo também.