"Brasil não tem política de prevenção à violência", diz especialista
Ele acredita que não faltam leis para punir torcedores briguentos, mas elas não são cumpridas
Futebol|Eugenio Goussinsky e Sylvia Albuquerque, do R7
O problema da violência no futebol brasileiro está longe de ser relacionado à falta de leis no Brasil, conforme afirmou o pesquisador da Unicamp, Felipe Tavares Paes Lopes. Para ele, há uma quantidade enorme de itens na legislação, visando punir torcedores violentos.
— No futebol, há lei pra burro. A mão de ferro da legislação é muito forte. O que há é a falta da aplicação destas leis.
Brigas entre torcidas de grandes clubes já deixaram mais de 100 mortes no Brasil
Lopes, que fez uma tese de mestrado voltada à violência no futebol, considera, no entanto, que essa equação de repressão e novas leis sendo criadas constantemente não é o melhor caminho para diminuir o problema da violência.
— As autoridades nunca implementaram uma política de prevenção. Na Alemanha, onde também existem brigas, há espaços públicos, socioeducativos, que dão assistência a estes torcedores, fazem um trabalho de conscientização, recebem jovens para atividades de convivência, dão aconselhamento e até encontram empregos.
“Só estamos tranquilos dentro da sede”, diz torcedor de organizada
Para ele, apesar de o Brasil ser um país com características distintas da Alemanha, e com um índice de qualidade de vida bem inferior, algo semelhante pode ser feito.
— Em primeiro lugar o torcedor tem de se sentir ouvido. E o foco da pura repressão tem de ser mudado para o da prevenção. Na Argentina, por exemplo, muitos líderes de torcidas foram presos, ficaram um bom tempo fora de cena e isso não diminuiu em nada a violência por lá.
Lopes diz que as brigas de torcedores são tentativas deles demonstrarem força, para eles e para uma sociedade que não os vê, e, independentemente da punição, irão ter continuidade se essa necessidade não for diminuída. E neste sentido, as autoridades públicas tinham de ter maior canal de diálogo com as organizadas, segundo o estudioso.
— O trabalho da polícia é fundamental. As punições são necessárias em muitos casos. Mas o trabalho tem de ser mais especializado. A torcida organizada é uma realidade, preenche lacunas sociais. E a violência, no futebol, como na sociedade, não é responsabilidade de um único ator.