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Silvio Lancellotti - Blogs

Tóquio, Dia 15 - Isaquías, Hebert, o Futebol, e sete medalhas de ouro

Um recorde, três numa mesma data, façanha inédita na História Olímpica do Brasil. Com direito a chegada arrasadora na Canoa, a nocaute insólito no Boxe e até a pênalti perdido por Richarlison.

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Isaquías, um sucesso arrebatador
Isaquías, um sucesso arrebatador

Mal começaram. E, praticamente, já se acabaram. Neste sábado, 7 de Agosto de 2021, os Jogos de Tóquio/2020, aqueles da XXXII Olimpíada da Era Moderna, entraram no Dia 15, o penúltimo, das suas competições. Com justo orgulho o Time Brasil festejava a mais produtiva edição do certame, na quantidade de medalhas, desde sua estreia no evento de Antuérpia, Bélgica, em 1920. Antes que se abrissem as atividades do sábado, havia subido ao pódio, efetivamente, em 16 ocasiões: 4 vezes pelo ouro, 4 pela prata e 8 pelo bronze. Porém, tinha assegurado outras 4, apenas à espera da determinação da sua cor respectiva. E mergulhou no Dia 15 com uma das exibições individuais mais empolgantes que eu pude testemunhar em 53 anos de trabalho profissional desde a Cidade do México/1968, o ouro maravilhoso de Isaquías Queiroz na Canoagem. E também houve, obra e graça de Hebert Conceição Sousa, um fato inédito no Boxe Olímpico, um clássico nocaute técnico.

Hebert, um nocaute inédito no Boxe Olímpico
Hebert, um nocaute inédito no Boxe Olímpico

No quadro, 18 medalhas. E mais três nas malas. Batido o recorde das 20 que o COB estabelecera como a meta para Tóquio/2020. Além de ultrapassadas as 19 do Rio/2016. E, o Time Brasil queria mais. O novo objetivo: superar as 7 de ouro de 2016. Com o laurel de Isaquias, alcançara o degrau das 5. E com o de Hebert, escalara o patamar das 6. Ainda haveria outra oportunidade neste Dia 15, com os rapazes do Futebol, que buscariam o topo do pódio frente a Espanha. Então, no domingo, no Dia 16 destes Jogos, e sempre pelo ouro, as meninas de José Roberto Guimarães no Vôlei enfrentariam as dos EUA e a pugilista Bia Ferreira, Peso Leve (57 a 60kg), se digladiaria com a irlandesa Kellie Anne Harrington.

Isaquías e o seu instrumento de trabalho
Isaquías e o seu instrumento de trabalho

Seguramente, o triunfo memorável de Isaquias inspirou as/os colegas de delegação. Baiano de Ubaitaba, 27 anos de idade, a sua história olímpica tinha se iniciado no Rio, quando ele arrematou duas medalhas de prata, mais uma de bronze, e virou o maior colecionador de pódios, pelo Time Brasil, num único evento. Das três provas de 2016, uma o COI retirou do cardápio, a dos 200m com a Canoa de Velocidade, quando ele obtivera o bronze. Não teve a menor sorte nos 1.000 da dupla. Erlon Silva, parceiro de sete anos, desistiu dos Jogos semanas antes da viagem ao Japão, por causa de um problema de má vascularização no fêmur da coxa esquerda. Na pressa, Isaquias se juntou a Jacky Godmann, um filho de canoístas, ótimo remador, mas sem tempo para ambos se entrosarem. Pena, por um triz, amargaram o quarto lugar. Restava ao estóico baiano a Canoa de Velocidade, 1.000m.

Isaquías e Jesus Morlán
Isaquías e Jesus Morlán

Sossegadamente, Isaquias cumpriu sua missão numa das semis e se classificou em primeiro, o tempo de 4’05”579, muito inferior aos 3’59”894 das eliminatórias. Claro, lhe sobrariam as fichas para a aposta na decisão, duas horas depois. Inclusive porque o seu algoz nas duas de prata de 2016, o alemão Sebastian Brendel, não se classificou. Na final, o baiano obedeceu cegamente ao projeto que Jesus Morlán, o seu treinador desde 2013, meticulosamente lhe deixou traçado ao falecer em 2018, depois de quase dois anos de padecimento com um tumor no cérebro. Conter-se nos primeiros 250m, igualar-se aos ponteiros nos 500, assumir a ponta em torno dos 750 e daí irromper, com o máximo de aceleração. Isaquias completou a distância no tempo de 4’05”579, quase um barco, ou 1”056 adiante de Serghei Tarnovschi, da Moldávia, um sucesso de fato arrebatador.


O momento preciso do cruzado de esquerda que fulminou o ucraniano
O momento preciso do cruzado de esquerda que fulminou o ucraniano

Baiano como Isaquias, mas um soteropolitano da capital, 23 de idade, Hebert encontrou um rival bem complicado na final da categoria Peso Médio (69 a 75kg) de Tóquio. Aos 26 anos, Oleksandr Khyzhniak tinha desembarcado no Japão como o primeiro do ranking na sua turma de 25 incritos e com um cartel absurdamente vasto, uma invencibilidade de 62 combates. Hebert era o terceiro. Curiosidade: o ucraniano, por eleição de colegas, preside o Conselho de Atletas da Associação Internacional do Boxe Amador, a AIBA. No ringue, porém, não se portou nada politicamente e, logo, adotou a pancadaria sem estilo, inclusive golpes na nuca. Hebert demorou a tentar uma iniciativa. Num combate de três assaltos, em que manda o volume de jogo, o caminho mais curto para a derrota. Todavia, a 1’29” do encerramento do terceiro round, aplicou um cruzado de esquerda fatal no queixo do adversário. Khyzhniak desabou na lona e o árbitro decretou o nocaute, fato raríssimo numa contenda não profissional. Cristalizado o sexto ouro do Brasil em Tóquio/2020.

Kawan, 19 anos e a final nos Saltos Ornamentais
Kawan, 19 anos e a final nos Saltos Ornamentais

Faltavam dois para relegar às calendas o primado do Rio. Proviria, a igualdade, sete medalhas de ouro, no cotejo do Futebol contra a Espanha? No percurso entre a capital e a cidade de Yokohama, onde o Brasil abiscoitou o título da Copa do Mundo de 2002, agora sede da final olímpica, se desenrolou o contraste entre uma alegria surpreendente e uma insólita, chocante decepção. Piauiense de Parnaíba. 19 de idade recém-completados em 17 de Junho, Kawan Figueiredo Pereira se imiscuiu, num grupo de 18 rapazes, no rol dos doze melhores dos Saltos Ornamentais, prova da Plataforma de 10m. E o elenco do Voleibol Masculino, do qual se esperava o ouro, perdeu o bronze, quem diria, para a Argentina.


O momento da finalização de Matheus Cunha
O momento da finalização de Matheus Cunha

Embora tudo mal, pelo ridículo da humilhação, no fundo tudo bem, pois mais interessava, àquela altura, chegar ao ouro de número sete. Precisamente através do Futebol do Time Brasil orientado por André Jardine. Ironicamente, a seleção verde-amarela desperdiçou uma raríssima chance de perpetrar 1 X 0 aos 34’ no primeiro pênalti registrado pelo VAR na estreia do recurso numa Olimpíada, pênalti que o apitador australiano Chris Beath apontou depois de checar os replays, saída estapafúrdia do arqueiro Unai Simon em Matheus Cunha. Richarlison exagerou nos fricotes e enviou a pelota muito acima do travessão.

A comemoração de Matheus Cunha, 1 X 0 em favor do Brasil
A comemoração de Matheus Cunha, 1 X 0 em favor do Brasil

Logo depois, porém, aos 45, ele mesmo salvou uma bola que escapulia através da linha de fundo e, numa puxeta, alçou até a mesma marca do pênalti, onde o habilidoso Matheus Cunha aparou no peito, se desvencilhou de dois marcadores e fuzilou, 1 X 0. Na segunda etapa, o Brasil não aproveitou dois contra-ataques cruciais e, aos 61’, na infinita falha da sua retaguarda em cruzamentos, a pelota sobrou para o empate de Oyarzábal. E a segurança virou pesadelo. Tenso, paulatinamente o Time Brasil começou a se descontrolar. Dependeria de um erro da Espanha ou um lance individual. Nada. Só a prorrogação.


Os abraços em Malcom, o autor do gol do ouro
Os abraços em Malcom, o autor do gol do ouro

Problemaço para os pupilos de Jardini, a Espanha apertou a marcação. Em compensação, paulatinamente, também, esgotou-se o fôlego dos seus meio-campistas. E o Brasil melhorou, particularmente porque, ao invés de insistir no trança-trança diante da área da adversária, escolheu o que seria mais lógico, atuar nos contra-ataques. Valeu. E aos 108’ minutos, do flanco direito, Anthony lançou Malcom pela esquerda. O ex-corinthiano investiu, veloz, e atirou à saída de Unai Simón. 2 X 1. Bastaria preservar a atenção nos dramáticos minutos derradeiros, até o Rei da Espanha na correria pelo igualdade. Não deu. Brasil bi no Futebol. Sete ouros em Tóquio, a beleza de três numa única data. E fica, desse Dia 16, a frase esplêndida que o fenomenal Isaquias utilizou para celebrar o seu galardão de encantamento: “Dedico a cada família que perdeu um ente querido para a Covid-19”.

Isaquias e o seu objeto sagrado
Isaquias e o seu objeto sagrado

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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