Nicola Rizzoli, o árbitro da final da Copa de 2014, e a crise Covid-19
Hoje o designador dos mediadores na Série A do Calcio, ele garante que o seu pessoal está à postos para a retomada, desde que haja a total segurança
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Com justa ansiedade a Itália esportiva aguarda o dia 28 de Maio, próxima quinta-feira. Um verdadeiro conclave virtual, debate entre autoridades do governo e do Calcio, decidirá as datas e as normas indispensáveis ao retorno do Futebol na Velha Bota. Justa ansiedade, mesmo. Na Alemanha, a Budesliga já retomou as suas atividades. A Espanha e Portugal também se aprestam a uma volta efetiva. A Itália, porém, escaldada pelo atraso com que os seus mandatários enfrentaram a crise da Covid-19, titubeia, hesita em recolocar a pelota nos gramados. Um personagem geralmente comedido nas suas posturas mas determinado nas suas opiniões, obviamente crucial nos próximos procedimentos, com serenidade e firmeza antecipa: “Estamos prontos, é claro. Desde que obtenhamos o máximo de segurança.”

O protagonista, de fato essencial na “sicurezza” dentro de campo, se chama Nicola Rizzoli. Nascido em Mirandola, perto de Bolonha, em 5 de Outubro de 1971, arquiteto de diploma, árbitro da Série A da Bota de 2002 a 2017, uma década de FIFA, é hoje o designador dos mediadores do campeonato nacional. “Por definição,” Rizzoli afirma, “cabe ao árbitro estabelecer a conexão entre as regras e a sua aplicação. E, nesse sentido específico, nós já estamos a postos. Não interrompemos nossos treinamentos, nem a nossa disponibilidade. Apenas, atentos, aguardamos pelos protocolos de segurança. Cada jogo tem um árbitro e uma equipe de auxiliares. Por rodada, somos oitenta em ação. Pessoas que provêm de múltiplas partes da Itália. Até nas viagens internas, lógico, precisaremos adotar inúmeros cuidados.”

Não confundir, todavia, precaução com medo. Nas férias de Verão ele se empenha na agressividade do Ciclismo de montanha. E, no Inverno, à afoiteza do esqui na neve. A cautela ele reserva às coisas particulares. Pouco se sabe sobre os seus projetos como arquiteto. E pouco se exibe com a “fidanzata”, a namorada Eulalia Santato, a quem conheceu na agência em que mantém uma conta bancária e com quem convive faz uma década. Brilham mais, na sua biografia, as suas esplêndidas atuações na final da Champions League de 2013 (Bayern de Munique 2 X 1 Borussia Dortmund, em Wembley, Londres, Inglaterra), e na decisão da Copa do Brasil de 2014 (Alemanha 1 X 0 Argentina, no Estádio do Maracanã). Numa eleição entre os seus colegas de apito, no começo de 2020, Rizzoli foi votado um dos cinco melhores do século.

Embora discreto inclusive na fala, Rizzoli não sonega do interlocutor alguns pontos de vista. Sobre o eventual veto às reclamações dos atletas num prélio, ele responde: “Os protestos são sempre antipáticos. E a implantação de uma norma que imponha uma certa distância entre o jogador e o árbitro me parece interessante, até em termos culturais. Claro que é inviável, impossível, medir tal distância, um metro, um metro e meio. Mas, um afastamento, digamos, civilizado, pode, e deve, criar um hábito novo.” Ele ainda descarta preocupações com o VAR: “Não vejo qualquer problema. Duas pessoas numa sala, o operador em outra, máscaras, divisão de plexiglass. Sem risco”.

Meticuloso, um filho zodiacal do signo de Libra, Rizzoli fazia questão, por exemplo, de ele mesmo costurar, nos seus uniformes, os distintivos da FIFA: “Do modo exato que aprendi com a Vovó.” E por quê virou árbitro? Sem resposta, apenas relembra a sua participação no filme “Il Cielo Capovolto” (literalmente “O Céu de Cabeça para Baixo”), um documentário que descreve a bela trajetória do Bologna, o seu time de infância, até a conquista do seu último “scudetto”, em 1964. No filme, papeia com outro “tifoso”, o compositor-cantor Gianni Morandi, e discute a escolha do icônico Concetto Lo Bello para a condução de um cotejo fatal: “Eu nunca entendi o que leva alguém a virar árbitro”. Eulalia concorda: “Quando o Nik voltava pra casa, depois de uma partida, eu só fazia uma pergunta: ‘E aí, foi pior pra mim ou pra sua mamãe?’”
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