Em 1991, o inesquecível dia 24 de Março de Ayrton Senna na F-1
Apenas 72 horas depois de completar 31 de idade, o então piloto da McLaren conquistou de modo dramático a primeira vitória num GP da sua terra
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

São Paulo, autódromo de Interlagos, no comecinho da tarde de domingo, 24 de Março de 1991. Ayrton Senna da Silva havia completado os seus 31 anos de idade no dia 21. Já era um piloto de Fórmula 1 desde 1984, duas temporadas na Toleman e três na Lotus. Já fora campeão do mundo logo na sua estréia pela McLaren em 1988. E já havia reprisado a façanha em 1990. Já acumulava 27 vitórias em 112 corridas. E na manhã anterior, o sábado de tomadas de tempo para o GP do Brasil, havia cravado a sua “pole position” de número 54. Ótimos auspícios, apesar das nuvens escuras sobre a cidade.

Nunca, afinal, ele havia subido ao topo do pódio em sua própria casa. Nas seis provas em que o GP aconteceu em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, sofreu uma desclassificação, abandonou em três ocasiões, obteve um segundo lugar e um horroroso 11º. Então, participou dos desenhos de um novo traçado para o longo circuito de Interlagos e lá, em 1990, foi terceiro, numa corrida que estava inteiramente dominada. Volta 42 de um total de 71. Ayrton, disparado na liderança, depara com o japonês Satoru Nakajima, da Tyrrell, um trapalhão ambulante, seu ex-companheiro de Lotus, a passear pelo “Bico do Pato”, final da “Curva do S”. Ao invés de abrir espaço, Nakajima fecha Ayrton e o esbarrão danifica o aerofólio da McLaren. Compelido ao “pit stop”, Ayrton acaba num lastimoso terceiro lugar. Admitiria: a jornada mais frustrante de sua vida.

Como havia ocorrido na temporada afortunada de 1990, a de 1991 se iniciara em Phoenix, Arizona, EUA. Ayrton fora o ganhador de ambas as corridas. E o GP do Brasil enfim se provaria mágico na sua carreira brilhante. Com certeza, o sucesso mais marcante dos seus 41 triunfos, até que um acidente absurdo o levasse em Ímola, Itália, no GP de San Marino, 1º de Maio de 1994. Ayrton batalhou roda a roda com Nigel Mansell, da Williams, até o inglês rodar na volta 40. Então, vários problemas mecânicos propiciaram ao italiano Riccardo Patrese, o companheiro de Mansell, uma paulatina aproximação. Quebrada a sua quarta marcha, por um tempo Ayrton se obrigou a passar, direto, da terceira para a quinta. Um sacrifício brutal. Perderia quase quatro quilos.

Depois, muito pior, marcha nenhuma engrenava sem que ele prendesse a alavanca com a sua mão direita enquanto utilizava a esquerda para dirigir. Uma câmara “onboard” atestou que, a partir da volta 66, apenas lhe sobrou a sexta marcha. Por sorte, na de número 69 desandou a chover e Patrese optou por não se arriscar. Ayrton cruzou a linha de chegada em 1h38'28”128. O italiano, 2”991 atrás. Superaria Ayrton se houvesse mais uma volta.

Tornaram-se históricos os gritos de Ayrton, mescla de emoção, de alegria e de catarse, captados pelo sistema de áudio, nos momentos derradeiros da corrida, antes da bandeirada alvissareira. Claramente extenuado, no pódio, ele mal teve forças para levantar o seu troféu. Em 1993, no seu último período de McLaren, Ayrton voltou a ser o primeiro no GP do Brasil. Em 1994, enfim no volante de uma Williams, o seu grande sonho, abandonaria a prova. Aliás, naquele fatídico e também inolvidável 94 ele não completaria nenhuma.
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