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Silvio Lancellotti - Blogs

Corinthians X Inter, a história de uma rivalidade muito diferente

Especialmente de 1976 em diante, polêmicos erros de arbitragem e denúncias vazias craram as bases de uma antipatia inusitada no Campeonato Brasileiro

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

O "Mosqueteiro" e o "Saci Colorado"
O "Mosqueteiro" e o "Saci Colorado"

Nesta tarde de domingo, 23 de Setembro de 2018, na sua Arena-ainda-sem-nome-de-Itaquera, Região Leste de São Paulo, o Corinthians hospedará o Internacional de Porto Alegre em circunstâncias singularíssimas. Com apenas 33 pontos ganhos dentre 75 disponíveis, somente 6 acima da Zona de Rebaixamento à Série B, a 9 de distância da cota de classificação à Libertadores, evidentemente já não tem qualquer possibilidade de abiscoitar o seu oitavo título do Campeonato Brasileiro. Ocorre, porém, que o “Colorado” ostenta 49 pontos e é o vice do líder São Paulo, nos 50. E o “Timão” se tornou crucial na briga pelo topo da tabela. Não pela óbvia antipatia estadual. Mas, por várias razões peculiares que o tornaram um rival do clube gaúcho.

O "Colorado" nos tempos do primeiro desafio contra o "Timão"
O "Colorado" nos tempos do primeiro desafio contra o "Timão"

O Corinthians e o Internacional se defrontam desde o dia 4 de Novembro de 1945, um amistoso no Pacaembu, 4 X 1 em favor do “Timão”. Daí, até o cotejo mais recente, 27 de Maio, no Beira-Rio de Porto Alegre, pelo Brasileiro de agora, “Colorado” 2 X 1, acumularam 85 duelos, com 30 triunfos do “Mosqueteiro” para 23, nos tentos 92 X 86. E, nesse percurso, pelo menos cinco combates se mostraram especialmente significativos, a partir do primeiro da série, aquele de número 22, realizado no Beira-Rio, o domingo de 12 de Dezembro de 1976. Então, o elenco de astros do Inter, liderado por Paulo Roberto Falcão, sobrepujou um Corinthians meramente mediano, 2 X 0, na oportunidade em que o alvinegro enfim disputava o título nacional.

O gol de Valdomiro, em 1976
O gol de Valdomiro, em 1976

Foguetório e buzinaço na rua à frente do hotel em que a delegação do “Mosqueteiro” se acomodava. Um cheiro e um gosto nada triviais da água que os atletas encontraram nos quartos, a ponto de Vicente Matheus (1908-1997), o presidente do Corinthians, comprar caixas da mineral em um supermercado. E a polêmica que envolveu o segundo gol do “Colorado”. Valdomiro cobra uma falta, a pelota resvala no travessão, cai em cima da linha da meta e volta na direção da área. O árbitro José Roberto Wright manda a peleja prosseguir mas o auxiliar corre no rumo do meio do gramado e o apitador, enfim, confirma os 2 X 0. Para piorar o cenário, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul trata pessimamente, violentamente, a torcida visitante.

Edílson, o árbitro da "Máfia do Apito"
Edílson, o árbitro da "Máfia do Apito"

Praticamente três décadas depois, em 2005, um escândalo batizado de “Máfia do Apito” de novo acentuou o drama. Comprovada a denúncia de que o árbitro Edílson Pereira de Carvalho havia manipulado os resultados de 11 jogos do Brasileiro, Luiz Sveiter, o presidente do STJD ordena a repetição de todos. Um dos prélios, Inter 3 X 2 Coritiba, preserva o placar. No caso do Corinthians, porém, sucede uma revolução. Tinha perdido do Santos, 2 X 4. Mas, na repetição, vence, 3 X 2. Tinha perdido do São Paulo, 3 X 2. Mas, na repetição, empata, 1 X 1. Quer dizer, resgata 4 pontos em relação ao “Colorado” e alcança a derradeira rodada do certame com a vantagem de 81 X 78. No caso de não haver a anulação, a folga seria do Inter, 78 X 77.


O lance de Fábio Costa em Tinga, 2005
O lance de Fábio Costa em Tinga, 2005

Na tarde de 20 de Novembro, no Morumbi, o alvinegro e o “Colorado” se igualaram, 1 X 1, numa porfia marcada por um equívoco absurdo do árbitro Márcio Rezende de Freitas, num choque em que o arqueiro do Corinthians, Fábio Costa, derrubou o Tinga quase na entrada da área pequena. Márcio expulsou Tinga por simulação. Daí, na rodada derradeira, ambos perderam, o Inter do Coritiba, 0 X 1, em viagem, e o “Mosqueteiro” do Goiás, 2 X 3 em Goiânia. E o clube gaúcho até hoje se considera torpemente surrupiado.

Então, se vingaria na rodada derradeira do Brasileiro de 2007. Nada mais lhe interessava. Possuía 54 pontos quando enfrentou o Goiás, 42, ameaçado de desabamento à Série B, em viagem ao Planalto Central. O Corinthians tinha 43 e foi a Porto Alegre brigar com o Grêmio. Saiu do Sul com um empate, 1 X 1. O “Colorado” porém caiu, 1 X 2. Livrou-se o Goiás. Ineditamente o “Timão” desceu à Série B. E até hoje acredita que o Inter, de proósito, se entregou.


Copa do Brasil 2009, o título ao "Timão"
Copa do Brasil 2009, o título ao "Timão"

Quando ambos voltaram a se desafiar, em 2009, na final dupla da Copa do Brasil, Fernando Carvalho, presidente do “Colorado”, chegou a distribuir à mídia um DVD com um batalhão de supostos erros de arbitragem em favor do “Timão”. O Corinthians levantou aquela competição, 2 X 0 no Pacaembu e 2 X 2 no Beira-Rio. Porém, a inimizade, claro, paulatinamente se exacerbou. Coincidência, contra o Inter, em 17 de Julho de 2014, o “Mosqueteiro” obteve o seu primeiro sucesso na sua Arena, por 2 X 1, tentos do peruano Paolo Guerrero e de Fágner. Aliás, no Brasileiro, em seus domínios, jamais perdeu do “Colorado”: realizou 2 X 1 em 2015, 1 X 0 em 2016. E não houve combate em 2017, o Inter relegado, também ineditamente, à Série B.

Em 2014, contra o Inter, a primeira vitória na nova Arena
Em 2014, contra o Inter, a primeira vitória na nova Arena

Quanto ao cotejo de agora, os teóricos da conspiração já toleram que fermentem as vãs especulações. Fanáticos pelo “Tricolor” imaginam que o Corinthians poderia, de propósito, topar uma derrota, exclusivamente de modo a evitar que o “Tricolor” se consolidasse como líder. Pior, para os crentes na estupidez, neste sábado o São Paulo enfrentou um adversário acessível, o América Mineiro, 30 pontos, no seu estádio do Morumbi, 47.846 presentes, e não cumpriu a sua obrigação. Bem superior, o elenco de Diego Aguirre inaugurou o placar, Diego Souza, aos 45’, e daí, inapetente, permitiu o gol de Matheusinho aos 80. Péssimo resultado, 1 X 1, que ampliou as fantasias ao nível da fervura. São Paulo 51 X 49 Inter, pobre “Timão” se, por acidente ou azar, na falha boba de algum alvinegro, o “Colorado” vier a ganhar.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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