Cruzeiro e Vasco já decidiram um dos campeonatos mais polêmicos da história
O título ficou com o clube carioca, mas até hoje é contestado pelos cruzeirenses

A RECORD mostra, neste domingo (27), o jogo entre Cruzeiro e Vasco da Gama, que se enfrentam pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro, numa partida com muita história entre dois dos times mais vitoriosos do Brasil. O que poucos se lembram é que esses dois clubes já decidiram o campeonato nacional, para ser mais preciso, no ano de 1974, numa competição marcada por polêmicas e um regulamento criativo.
Nossa viagem histórica será para o Campeonato Brasileiro de 1974, que até hoje é comemorado pelos cruzmaltinos como primeiro título nacional do Vasco e contestada pelos cruzeirenses, que reclamam até mesmo do local onde o jogo decisivo foi disputado.

O torneio
O Campeonato Brasileiro de 1974 foi disputado por 40 clubes. Agora, aperte os cintos para tentar entender como funcionava o regulamento da competição. A primeira fase consistia em jogos em turno único, com os clubes divididos em duas chaves de 20.
Até aí está simples né? Pois bem, começa a complicar... Para a próxima fase, se classificavam ao todo 24 times, que eram: os dez primeiros colocados de cada chave, mais os dois clubes com mais pontos (abaixo desses), mais os dois clubes com maior arrecadação/público entre os não classificados pelos critérios anteriores, ufa... Não entendeu? Tudo bem, ninguém entendeu.
Agora, as coisas simplificam... Na segunda fase, temos quatro grupos com seis clubes cada, que se enfrentaram em turno único. Classificando para a próxima fase o campeão de cada chave.
A terceira e última fase foi um quadrangular final, turno único, onde todos os clubes se enfrentam. O campeão seria aquele que tiver melhor campanha na fase final (spoiler, isso não aconteceu). O regulamento previa que, em caso de empate, o título seria decidido em jogo único, tendo como mandante o clube de melhor campanha em toda essa longa competição.
Mas, explicada a confusão que era o regulamento, vamos para o que interessa, que era a bola rolando.

O quadrangular final
Cruzeiro, Vasco da Gama, Santos e Internacional se classificaram para a fase aguda da competição. No jogo inaugural, com gols de Luis Carlos e Roberto Dinamite, para o Vasco, e Pelé, descontando para o Peixe (no que foi seu último gol em campeonatos nacionais), o Vasco superou o Santos num Maracanã com mais de 97 mil pagantes. Fechando a rodada, Valdomiro, para o Internacional, e Roberto Batata, para o Cruzeiro, marcaram no empate em 1 x 1 no estádio do Beira Rio.
Na rodada seguinte, Cruzeiro e Vasco da Gama empataram por 1 x 1 no Mineirão, com gols de Zé Carlos para o time mineiro e Alfinete para os cariocas. Esse jogo foi marcado por uma confusão, envolvendo a arbitragem e a diretoria da Raposa, algo que mudaria o campeonato. No outro jogo da rodada, o Santos eliminou o Internacional com gols de Brecha e Fernandinho. Claudiomiro descontou para os gaúchos.
Na última e decisiva rodada, o Santos poderia ser campeão caso vencesse o Cruzeiro, mas o time mineiro superou o Peixe em pleno Morumbi, por 3 a 1, gols de Palhinha, Nelinho e Dirceu Lopes. Nenê Belarmino descontou o placar.
O Vasco, por sua vez, empatou com o Internacional e perdeu a chance de ser campeão num Maracanã completamente lotado. Chegou a abrir 2 a 0 com gols de Roberto Dinamite e Zanata, mas tomou um empate inesperado no segundo tempo, com gols de Lula e Escurinho, acabando com a festa dos quase 120 mil vascaínos presentes no Maraca.

O local do jogo
Vasco da Gama e Cruzeiro terminaram empatados com 4 pontos (naquele período vitória representava 2 pontos e empate 1). De acordo com o regulamento, a equipe com a melhor campanha deveria decidir o título em casa. Ou seja, como o Cruzeiro atendia a estes critérios, a final seria no Mineirão.
Mas, é aí que começa a confusão. O Vasco entrou na justiça pedindo que a final fosse no Maracanã. Alegavam, no processo, que dirigentes da Raposa tentaram agredir o árbitro Sebastião Rufino (do empate entre as equipes no quadrangular final) e usavam um dispositivo previsto no regulamento para conseguir isso nos tribunais. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) suspendeu o jogo decisivo até que o recurso vascaíno fosse julgado. No fim, todos entraram em acordo e o jogo foi realizado no Maracanã, o que representava uma grande vantagem para os vascaínos.
A final polêmica
Maracanã completamente lotado e tudo pronto para uma grande partida, que realmente aconteceu. Mas o protagonista do jogo, no fim das contas, foi o polêmico juiz Armando Marques.
Em campo, o Vasco abriu o placar aos 14 minutos da primeira etapa, com Ademir. O Maracanã explodiu em êxtase pelo que poderia ser o gol do título de Jorginho Carvoeiro, mas Marques anulou, alegando impedimento.
No segundo tempo, o público vascaíno ficou assustado com a pressão celeste, Nelinho empatou para a Raposa aos 14 da segunda etapa e encheu os mineiros de esperança. Mas, mesmo melhor na partida, o Cruzeiro tomou o gol vascaíno aos 33 minutos do segundo tempo (marcado pelo predestinado a herói Jorginho Carvoeiro).
A maior polêmica ainda estava por vir, no apagar das luzes (43 minutos), o meio campista Zé Carlos recebeu cruzamento da direita e fuzilou o gol vascaíno para empatar a partida. Mas, sem nenhuma explicação, o árbitro Armando Marques anulou o gol cruzeirense e encerrou o jogo aos 45 minutos, sem acréscimo, mesmo com toda cera do Andrada (arqueiro vascaíno).
O Vasco era pela primeira vez campeão brasileiro, o Cruzeiro adiava o sonho do segundo título e ainda carregava o gosto amargo de se sentir injustiçado pela arbitragem e bastidores da competição.
1º de agosto de 1974
Vasco da Gama 2 X 1 Cruzeiro
Maracanã, Rio de Janeiro
Público: 112.933 (pagantes – imagine quantas pessoas realmente estavam lá...).
Árbitro: Armando Marques (SP).
Gols: Ademir e Jorginho Carvoeiro (Vasco); Nelinho (Cruzeiro).
VASCO DA GAMA: Andrada; Fidelis, Miguel, Moisés e Alfinete; Alcir, Zanata e Ademir; Jorginho Carvoeiro, Roberto Dinamite e Luis Carlos. Treinador: Mário Travaglini.
CRUZEIRO: Vitor; Nelinho, Perfumo, Darci Menezes e Vanderlei; Piazza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Roberto Batata, Palhinha (Joãozinho) e Eduardo (Baiano). Treinador: Hilton Chaves
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