São Paulo, Brasil
Desde primeiro de janeiro de 2021, ele assumiu o sonhado cargo.
Andrés Enrique Rueda Garcia, finalmente, chegou à posição que desejava, desde 2002, quando se tornou sócio.
Presidente do Santos.
E encontrou a situação pior do que previa.
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Se viu como uma dívida de mais de R$ 700 milhões para administrar.
R$ 120 milhões a serem pagos até dezembro.
Salários de jogadores e funcionários atrasados.
Clube proibido de contratar pela Fifa, por comprar e não pagar jogadores.
Contas da antiga administração reprovadas em 2019 e 2020.
Situação que causou o impeachment de José Carlos Peres.
Rueda tinha noção do que encontraria.
Ele mesmo emprestou dinheiro, do próprio bolso, ao clube. Em 2015 e 2020. Situação deprimente.
"É algo amador, que não concordo. Mas não houve saída", repete o dirigente.
Seu último empréstimo foi de R$ 15,6 milhões, em outubro de 2020, dois meses antes de ser eleito. Para que o clube completasse o pagamento ao Hamburgo do zagueiro Cleber. A dívida levou quase quatro anos para ser paga, o que causou a punição pela Fifa.
Rueda é muito frio em relação aos números. Matemático por formação, com especialização em engenharia de sistemas, chegou ao cargo de diretor de tecnologia na Bolsa de Valores e Bolsa Mercantil de Futuros.
Dentro do quadro atual do Santos, ele decidiu. Não agirá como torcedor demagogo, como muitos dirigentes fizeram.
Os conselheiros mais próximos do dirigente e o próprio treinador argentino Ariel Holan sabem a difícil decisão que foi tomada.
Vender as duas grandes estrelas do time. Soteldo e Marinho.
Por uma simples questão matemática, de sobrevivência.
Negociar os atletas para acabar com a proibição de contratar jogadores, imposta pela Fifa. E seguir a vida, apostando em jovens e com a folha de pagamento mais baixa.
Atualmente, o Santos gasta R$ 12 milhões com seu time, em palavras do próprio Rueda.
E o clube acaba de fechar a negociação com Soteldo.
O talentoso meia venezuelano foi para o Toronto.
Por 6 milhões de dólares, cerca de R$ 32,7 milhões.
Os 4 milhões de dólares, que tinha direito, cerca de 21 milhões, vão para o Huachipato, para pagar a dívida pela contratação do jogador.
E ainda mais 500 mil dólares, cerca de R$ 2,7 milhões, para completar o pagamento exigido pelo clube chileno. Para acabar com a ação na Fifa, que impedia o Santos de comprar jogadores.
O Santos pediu 8 milhões de dólares, cerca de R$ 43,6 milhões, baixou para 7,5 milhões, R$ 40,9 milhões.
Mas acabou cedendo.
Em uma futura venda terá direito a 12,5%.
Os chilenos até já assinaram a liberação nesta madrugada.
O Santos acabou de liberar o jogador nesta manhã.
Depois de dois anos e meio, Soteldo decidiu ir embora. E pediu publicamente para o Santos negociá-lo com o Toronto. Procurou Rueda. Disse que deu seu máximo ao clube, recebeu vários salários atrasados, não criou problemas. E quer seguir sua vida, sua carreira no Canadá.
Fechada a transação, ele será um "Designated Player" do Toronto. Ou seja, um dos três jogadores do elenco com direito a receber mais que o teto fixado pela MSL, a Major League Soccer, a Liga Norte-Americana de Futebol, que também engloba o Cananá.
Santos já havia fracassado contra o Barcelona equatoriano, pela Libertadores, na terça-feira
ConmebolDe acordo com a imprensa norte-americana, Soteldo receberá cerca de US$ 4 milhões, cerca de R$ 21 milhões, por temporada. Ele quer um contrato de cinco anos, mas o clube canadense oferece quatro.
Já livre da dívida com o Huachipato, Rueda prometeu a Ariel Holan que o clube buscará atletas para reforçar o fraco elenco.
O perfil será pensando no futuro. Jovens promissores que possam dar lucros ao serem vendidos.
E a situação delicada é a de Marinho.
O maior ídolo santista.
O atacante vem sendo sondado desde o início do ano.
Rueda sonha com uma negociação de 7 milhões de euros, cerca de R$ 46 milhões.
Mas Marinho fará 31 anos, daqui cinco dias.
E clubes asiáticos e árabes, principais interessados, até agora, querem pagar a metade desse valor. O Santos foi sondado se venderia o atleta por 3,5 milhões de euros, R$ 23 milhões, no início do ano. E recusou.
Mas o matemático Rueda sabe.
As contas apontam.
Precisa vender as duas maiores estrelas, Soteldo e Marinho. Para se livrar da sanção da Fifa, manter os salários em dia e baixar a folha de pagamento.
Além de Rueda, os membros do Conselho de Gestão sabem que não há saída.
José Carlos de Oliveira, Dagoberto Oliva, José Berenguer, José Renato Quaresma, Rafael Leal, Ricardo Campanário, Vitor Sion, Walter Schalka e o presidente vêm conversando há meses sobre essa situação sem saída do Santos.
A decisão de cortar na própria carne está tomada.
Soteldo é o primeiro.
Marinho deverá ser o segundo.
A saída será mais do que sofrida.
Será necessária para o endividado e proibido de contratar pela Fifa, por calote, Santos Futebol Clube.
Ariel Holan sabe desse caminho sem volta.
Para ter reforços, precisa perder seus jogadores de maior potencial.
Simples, e triste, assim...
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