O fracasso do Sport. O clube se sabotou. E ficará pelo terceiro ano na Série B. Pernambuco não merecia esse vexame
A grande decepção na Série B foi o Sport, que não subiu outra vez para a elite. Ficou 26 rodadas entre os quatro colocados. Aposta em veteranos, perda do comando do treinador, saída de Juba. Erros primários
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
A grande desilusão entre os clubes que fracassaram, na tentativa de volta à Série A, tem nome.
Sport Club do Recife.
Como uma equipe que ficou entre os quatro primeiros por 26 rodadas, das 38, na segunda divisão, conseguiu terminar o torneio em sétimo lugar?
Clube com a maior torcida de Pernambuco, dos mais estruturados do Nordeste, que já havia confirmado o recebimento de R$ 68 milhões da Liga Futebol Forte como antecipação de um quinto do direito de transmissão pelos próximos 50 anos, a partir de 2025.
Com prestígio suficiente para ser uma das quatro equipes da Série B, que recebeu dinheiro antecipado da CBF, nos momentos cruciais da definição dos classificados.
Mas, ao contrário de Vitória, Juventude e Atlético Goianiense, o clube pernambucano não teve competência para subir. A quarta vaga ficou com o Criciúma.
Os erros do Sport foram fatais.
A queda começou quando a diretoria não conseguiu segurar Juba. O principal responsável pelas jogadas ofensivas. O lateral, que se transformou em excelente meia-atacante, recebia R$ 60 mil. E seu empresário avisou que o Sport teria de aumentar, e muito, o salário para que ele ficasse.
Os dirigentes titubearam, o rival Bahia ofereceu R$ 240 mil, e ele foi, sem constrangimento, jogar em Salvador, com contrato de cinco anos. Saiu em agosto.
O Sport terminou o primeiro turno na quarta colocação.
Para tentar acabar com o sentimento de frustração, os dirigentes fizeram uma velha aposta. E contrataram, para uma terceira passagem, Diego Souza.
Só que o atleta de 38 anos chegou muito diferente do jogador excepcional de 2014 e do competitivo de 2016. A idade e a péssima forma física pesaram. Não bastaram seu carisma, seu nome, a enorme identificação com a torcida.
De acordo com a imprensa pernambucana, Enderson Moreira não pôde opinar. A contratação foi uma prerrogativa da direção do clube.
E o treinador tinha um ídolo na fase final da carreira.
Vagner Love.
Aos 39 anos, com popularidade de sobra, ele já sentia o peso da idade, da competitividade. E a queda no segundo semestre foi enorme.
No futebol cada vez mais disputado fisicamente, era bem difícil privilegiar Love no esquema tático. Fazer com que a equipe corresse por ele, com enorme dificuldade de recomposição e sem velocidade no ataque.
Se Love não tinha mais explosão muscular, Diego Costa se mostrava muito pesado. Sem força física para movimentação. Acabou sendo uma enorme decepção. Virou reserva. Sem contestação.
Os dirigentes foram convencidos, dessa vez por Enderson, que valeria a pena apostar na juventude de João Peglow, atacante que surgia com enorme potencial no Internacional. Foi contratado por empréstimo na janela do meio do ano.
Só que ele tinha de cumprir oito partidas de suspensão pela participação em uma briga, quando atuava no Dnipro, da Ucrânia. E, finalmente, quando pôde jogar, se transformou em outra desilusão.
Com o time decepcionando e mostrando que não havia garantia de estar na Série A em 2024, a fanática torcida começou a cobrar duramente.
Foi quando Vagner Love, em setembro, ao lado dos outros jogadores, decidiu dar uma declaração pública. Contra a imprensa pernambucana. E contra a própria torcida, que exigia melhor futebol do time.
"Não adianta alguns meios de comunicação, da imprensa, ou torcedores quererem vir fazer algo pra estragar nosso ambiente, nosso trabalho, que não vão conseguir. A gente está muito focado no que a gente quer. Tem torcedores que vão apoiar.
"E aqueles que não quiserem podem ficar nas suas casas."
Foi a grande bobagem.
Jornalistas pernambucanos e a torcida do Sport aceitaram a declaração de guerra.
E Vagner Love logo sucumbiu, com seu péssimo futebol, e acabou sendo ainda mais cobrado pela imprensa e xingado pelos torcedores.
Tudo o que o ex-jogador do Palmeiras, Corinthians e Flamengo fez foi criar um ambiente insuportável para o Sport.
Enderson Moreira ficou tão perdido que chegou a dizer que ele deveria ter sido mandado embora antes de o Sport ficar longe da volta à Série A.
Foi demitido faltando uma rodada para a segunda divisão acabar. Nas suas últimas 15 partidas, 3 vitórias, 7 empates e 5 derrotas. Um vexame.
"A gente tem que entender ciclos. E o ciclo do Enderson poderia ter sido encerrado um pouco antes. Talvez no momento em que a gente não estava conseguindo o resultado", disse o treinador, expondo a direção do clube pernambucano, que não enxergou o fracasso antecipado.
Ele perdeu o controle do grupo. O título pernambucano e o vice da Copa do Nordeste nada significaram diante do objetivo maior: ficar entre os quatro primeiros da Série B.
Enderson foi indicado por Tiago Nunes e ficou com seu cargo no Sporting Cristal, do Peru.
O Sport agora terá, de novo, de se reestruturar, para tentar voltar para a Série A em 2024.
Mais uma temporada desperdiçada.
Três anos longe da elite do país.
O clube, apontado pela CBF como campeão brasileiro de 1987, não merece essa desilusão.
Neste 2023, se sabotou.
Que a direção possa entender de vez.
Pôr toda a responsabilidade em veteranos, no fim de carreira, não funciona mais.
O futebol continua cada vez mais competitivo.
Pernambuco não merecia estar fora da Série A mais uma vez...
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