O Botafogo domina o Brasil e a América. O Palmeiras, de Abel? Dá novo vexame. Salva o Flu. Acabaram as ideias. Reformulação é obrigação
Com todo mérito, o clube carioca venceu o Brasileiro, depois de 29 anos. Se junta a Santos e Flamengo, únicos clubes a ganhar o Campeonato Nacional e a Libertadores no mesmo ano. Lastimável foi o fim de torneio para o Palmeiras, time em plena decadência
Cosme Rímoli|Do R7
Foi uma cena dantesca.
A torcida começava a vaiar intensamente.
Começava o coro de ‘time sem vergonha’.
Autorizado pela direção do clube, o hino do Palmeiras foi tocado no último volume.
Os alto-falantes tremiam com a potência do som.
Para encobrir as vaias, os palavrões, o coro revoltado dos torcedores.
Isso porque o time de Abel Ferreira foi vice-campeão brasileiro.
A raiva, a frustração e a desilusão conseguiram ir bem além da derrota para o fraco Fluminense, por 1 a 0, no Allianz Parque.
E a vitória, mais que esperada, do Botafogo, diante dos reservas do São Paulo.
Com a merecida conquista do Brasileiro, depois de 29 anos.
A indignação tinha explicação.
O lastimável futebol da equipe palmeirense, que ainda tinha chances matemáticas de conquistar o inédito tricampeonato nacional.
A falta de gana, de luta, de entrega.
Parecia que era o Fluminense que tinha chance de conquistar o título.
Mas a falta de ideias e as inexistentes soluções táticas de Abel foram primordiais no vexame.
Até os pipoqueiros do estádio sabiam a estratégia de Mano Menezes.
Ele vive a pior fase de sua longa carreira, com sete demissões seguidas.
O ex-técnico da Seleção Brasileira fez o que mais gosta: retrancar seu time, no 5-4-1.
Treinou a exaustão seu sistema defensivo para encaixotar Estêvão e Raphael Veiga.
E preparou seus zagueiros para os previsíveis cruzamentos do time paulista.
Foi o que bastou.
Abel Ferreira, de maneira muito estranha, colocou seu time precisando desesperadamente vencer, com três meio-campistas participativos, mas pouco criativos: Aníbal Moreno, Richard Ríos e Maurício. Giay e Vanderlan, ambos os mais intimidados do elenco, nas laterais.
O travado, e sem habilidade alguma, Flaco López como referência no ataque.
O argentino disputou, sem sucesso algum, um torneio particular de salto em altura, com Thiago Silva e Thiago Santos.
O técnico português se recusou colocar em campo Felipe Anderson e Rômulo.
Admitiu que não confiava no potencial de articulação desses dois meio-campistas, que tanto fizeram sucesso na Lázio e Novorizontino.
O jogo foi de uma monotonia atroz.
Porque, também de forma decepcionante, o Palmeiras não entrou para marcar sob pressão o Fluminense.
Abel deixou o time carioca à vontade na saída de bola.
Decidiu por marcar só a partir da intermediária carioca, como se não tivesse pressa, não necessitasse, de forma desesperada, vencer.
Eram irritantes a morosidade, a submissão à marcação e a falta ‘de apetite’, dos jogadores.
O Fluminense percebeu que estava de um time tenso, mal organizado, sem ideias, totalmente previsível.
E foi criando coragem para soltar seus jogadores, com a bola dominada.
Aníbal Moreno vive fraquíssimo momento, errando passes fáceis, chegando atrasado na marcação.
Nesta temporada, Raphael Veiga alternou partidas excelentes, com omissas.
Hoje foi como se não tivesse entrado em campo.
Passivo, carimbador de bola.
Burocrático.
Sem confiança para tentar arrancadas, dribles.
Com Maurício sem nenhum cacoete para atacar de forma aguda pela esquerda, o Palmeiras outra vez se mostrou tombado para a direita.
Todos seus atletas buscavam o adolescente de 17 anos, Estêvão, para resolver.
Só que a marcação sobre ele foi dupla, e até tripla, durante o jogo.
Ele foi anulado.
O Fluminense já havia acertado o travessão, no primeiro minuto de partida, depois do cabeceio do zagueiro, em escanteio cobrado por Arias.
Tudo ruiu de vez aos 36 minutos, quando Nonato lançou Serna, que ganhou no corpo de Vanderlan, driblou Murilo e chutou no contrapé de Weverton.
1 a 0 Fluminense.
O jogo estava decidido.
O Palmeiras seguiu com seus jogadores parecendo conformados com o vice-campeonato.
Com ritmo inaceitavelmente lento.
Dudu e Rony, que não ficarão para o próximo ano, entraram.
E nada produziram.
O Fluminense conseguiu segurar a vitória mais que merecida, escapou do rebaixamento.
Sobreviveu na Série A de 2025.
E assume que fará uma significativa troca dos jogadores que foram campeões da Libertadores em 2023.
Já o Palmeiras não fala abertamente.
Mas Abel sabe que suas ideias se esgotaram com o atual elenco.
Não é por acaso que o Palmeiras só venceu o Paulista.
Fracassou na Libertadores, Copa do Brasil.
No Brasileiro foi segundo colocado, mas jogou mal em várias partidas.
Não se mostrou, durante toda a temporada, um time que merecesse confiança.
“Fica um vazio no peito, o mais importante era o título. Sempre busco os individuais. Deus sabe de tudo. Vamos seguir que ano que vem tem mais. Pecamos num momento que não podíamos, fizeram o gol numa transição. Pecamos na eficiência. Não conseguimos sair com a vitória, demos o máximo. Com 17 anos, estou vivendo algo inesquecível para mim. Amadurecendo cada vez mais, só agradecer”, disse Estêvão.
Enquanto o time descia para os vestiários, a torcida palmeirense vaiou muito.
Ensaiou o temido coro de ‘time sem-vergonha’.
A frustração era que o título esteve muito perto.
Principalmente quando o Botafogo tinha de se preocupar também com a Libertadores.
O time de Abel havia sido eliminado precocemente.
Mas deixou escapar pontos preciosos que acabaram por tirar o tri brasileiro.
Abel sabe que se não houver uma profunda reformulação, o Palmeiras tem grande chance de ter um frustrante 2025.
Não haverá alto-falantes que disfarcem o que é óbvio.
Não há mais do que tirar desse elenco.
Ele chegou ao máximo...
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