Nove meses antes, Fla sabia do risco de incêndio na concentração
Troca de e-mails entre funcionários mostra. Em maio de 2018, o alerta foi dado. O conserto de R$ 8.500,00 foi pago. E não foi feito. Resultado: dez mortes
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Um conserto de R$ 8.500,00 poderia ter salvo as vidas dos adolescentes Athila Souza Paixão, Arthur Vinícius de Barros, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique da Silva, Rykelmo de Souza, Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías.
Essa é terrível conclusão na troca de e-mails tornada pública hoje.
Leia também
Entre funcionários do Flamengo e da empresa contratada para verificar o motivo do incêndio no improvisado dormitório na concentração do Ninho do Urubu.
Vale lembrar que o dormitório onde os meninos dormiam era contêineres soldados. E ficava em uma área que, para a prefeitura do Rio de Janeiro, constava um estacionamento.
O incêndio que custou dez vidas dos garotos entre 11 e 17 anos começou em um ar condicionado também improvisado. Os quartos eram interligados e havia apenas uma saída.
O Flamengo alegou que o incêndio teria começado graças a um curto circuito provocado pela queda inesperada de energia elétrica.
Mas a troca de e-mails mostra que havia problemas graves na instalação elétrica na concentração. Que foram constatados oficialmente no dia 10 de maio de 2018. Ou seja, oito meses antes do incêndio, 8 de fevereiro de 2019.
No dia 11 de maio de 2018, a seguinte mensagem foi escrita pelo funcionário do departamento pessoal, Wilson Ferreira, e enviado ao gerente de administração do Flamengo, Luiz Humberto Costa Tavares, à gerente de recursos humanos Roberta Tannure e a outro funcionário, Douglas Silva Lins de Albuquerque.
O conteúdo não poderia ser mais claro.
"A avaliação foi realizada na presença do Sr Adilson, da empresa CBI, este indicado pelo Sr Luiz Humberto (Gerente de Administração do Flamengo), sendo comprovado as não-conformidades e suas gravidades.
"Conforme a avaliação do Sr Adilson e relatório anterior, a situação é de alta relevância e grande risco, ficando este de apresentar uma proposta ao Sr Luiz Humberto para atendimentos emergenciais de alguns pontos: quadro elétrico (poste ao lado do refeitório), disjuntores e fiação no jardim, quadro elétrico atrás do alojamento da base."
Havia ainda dez fotos, anexadas ao e-mail.
Wilson Ferreira ainda destacava que havia a promessa que o CT seria demolido e reconstruído até o final de 2018.
Mas diante dos problemas elétricos, a empresa CBI foi chamada no dia 25 de maio de 2018, para fazer os consertos. Cobrou e recebeu, R$ 8.500,00.
Só que chegou fevereiro de 2019, o incêndio, e a morte dos dez jogadores de base do Flamengo. Queimados ou intoxicados pela fumaça dos contêineres.
Logo após o incêndio, a empresa Anexa Energia foi contratada para descobrir o que havia provocado a tragédia.
E a Anexa revela que os serviços que a empresa CBI recebeu para fazer, não foram realizados.
Principalmente junto ao disjuntor que respondia ao módulo onde estava o dormitório dos meninos da base.
Na análise, há a revelação que 'as tais gambiarras' que seriam consertadas pela CBI seguiam na instalação elétrica.
A conclusão é que "a causa do incêndio está ligada às tensões da instalação elétrica, que podem ter sido provocadas pelas oscilações da rede elétrica e/ou pela má instalação elétrica do CT".
A acusação é gravíssima.
O ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, garante que não sabia da situação.
Assim como o atual, Rodolfo Landim.
O diretor responsável pela administração do Ninho do Urubu, Marcelo Helman, nada declarou sobre a revelação.
Cabe ao Ministério Público agir.
E investigar a verdade.
Os e-mails são chocantes.
Levam à conclusão óbvia.
Um serviço de R$ 8.500,00, que o Flamengo pagou, não teria sido feito.
E custado dez vidas...
Veja quem são as vítimas da tragédia no CT do Flamengo
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.