Doha, Catar
Os jornalistas com acesso inédito à concentração do Brasil, sob o comando de Tite, estavam estranhando o que acontecia.
Neymar muito mais sério, compenetrado no treino, enquanto Vinicius Júnior se mostrava mais sorridente. Brincalhão, provocava os companheiros. Tentava as jogadas mais difíceis, os dribles improvisados. Embora tão habilidoso quanto, Neymar alternava dribles e passes.
Nada de reclamações, simulações, chiliques por não receber a bola, por dribles desarmados com força.
Aos 30 anos e meio, tinha sido ponderado nas suas entrevistas antes da Copa do Mundo. Demonstrava a ansiedade por querer ganhar, mas não deixava escapar um pingo de arrogância.
Amadureceu, depois de tanto ser cobrado, atacado, concluíram jornalistas mais vividos, aqui em Doha.
Mas...
Ele havia preparado uma surpresa antes de o Brasil começar a sua participação na Copa do Mundo.
Ele fez questão de postar nas suas redes sociais, com alcance de mais de 240 milhões de pessoas, uma singela foto sua com o calção azul da seleção brasileira.
Com um simples detalhe, mas que é provocação que ultrapassa os limites para os demais 31 selecionados que estão aqui no Catar.
Neymar exibia uma sexta estrela no calção.
A mensagem que ele deu ao mundo é clara.
A Copa do Mundo de 2022 já tem dono: o Brasil.
Lembrando que cada uma das cinco estrelas que a seleção ostenta no peito representa a conquista de um Mundial.
Lógico que a reação foi imediata.
E partiu do jornal alemão Bild.
"Primeiro ataque de arrogância de Neymar."
Foi a manchete.
Tudo o que Neymar fez foi dar motivação para os adversários.
Porque se Neuer, goleiro alemão, postasse uma camisa com uma quinta estrela, representando essa Copa do Mundo, os brasileiros teriam a mesma reação. Criticariam a arrogância do goleiro, que tomaria com certeza a conquista do torneio, sem nem mesmo entrar em campo.
Ou se Messi mostrasse uma camisa argentina com duas estrelas em cima do símbolo da AFA.
Ou Cristiano Ronaldo apontando para a camiseta de Portugal já com sua primeira estrela.
A ofensa de Neymar foi infantil, provocativa, e tem dois efeitos colaterais.
Motiva os adversários da seleção brasileira pelo título.
E traz todos os holofotes para o atacante, mostrando que não houve amadurecimento nenhum. E, sim, que sua arrogância, prepotência trará antipatia. Não para a maioria dos seus seguidores, formada por crianças e adolescentes, mas os jogadores, árbitros e jornalistas do mundo todo.
Como um vírus de gripe, a antipatia atinge, se espalha para a seleção brasileira.
Fosse qualquer outro jogador, Tite estaria obrigando o atleta a se desculpar publicamente. Dizer que foi uma brincadeira.
A CBF publicaria nota de desculpa.
Mas, como foi Neymar, jogador ainda responsável por uma dependência crônica, todos se calarão, em Doha.
E a imagem do calção com a sexta estrela se espalha.
Será muito lembrada durante o Mundial.
Pelos adversários.
Mas não há motivos para surpresas.
Foi apenas Neymar sendo Neymar...
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