Naming rights para o Morumbi. Cinco anos de Ceni. Argumentos de Casares para ficar mais três anos no poder. 'Não é golpe!', jura
Em oito meses, Casares tenta, pela segunda vez, mudar o estatuto do São Paulo. Para que permita a sua reeleição na presidência. Em janeiro, a proposta foi rejeitada. Agora, com o futebol forte, pode ser aprovada amanhã
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
O São Paulo deveria estar em clima de euforia.
Apesar de dívidas de mais de R$ 700 milhões, o clube está dividido politicamente.
Por conta do desejo do presidente Julio Casares querer sua reeleição.
A possibilidade de o mesmo presidente ter dois mandatos seguidos no São Paulo foi banida em 2016.
E o próprio Julio Casares foi um dos ativos defensores contra a continuidade.
Votou em aberto pelo "não".
Agora, que é presidente, tudo mudou.
Desde que assumiu, ele vem trabalhando contra o que chama de "erro no estatuto" do São Paulo, a impossibilidade de reeleição.
Em janeiro deste ano, os sócios já rejeitaram a tentativa de possibilidade de reeleição.
Casares não desistiu e conseguiu que a proposta fosse de novo levada a votação, oito meses depois.
Leia também
O presidente do Conselho Deliberativo, Olten Ayres de Abreu Júnior, que também será beneficiado, podendo ser reeleito, se a proposta for aprovada, não vê incoerência alguma. Ele diz que no estatuto do clube, propostas não precisam ser apresentadas para votação uma só vez.
Para conselheiros e sócios, o discurso de Casares é que três anos é muito pouco tempo para os projetos que reestruturem o São Paulo.
Planos que ele tem para sanar as dívidas que travam o clube. Eles vão desde a busca de patrocinadores mais fortes ou até mesmo transformar o futebol do São Paulo em SAF, vendendo ações para investidores. Ou colocar, simplesmente, ações do clube na Bolsa de Valores.
Casares não só não aceita quem classifica a sua atitude como "golpe". Ele processou dois sócios que escreveram que sua tentativa de se manter no poder é antidemocrática.
O presidente e Olten Aires entraram com processo de difamação. Com custos pelo próprio São Paulo.
O clube até divulgou nota oficial.
"As ações são de iniciativa dos dirigentes, que foram ofendidos por estarem em seus cargos. Como a ofensa se deu em virtude do exercício do cargo, o São Paulo FC tem um seguro para tais situações e pretende ser ressarcido por isso. Os custos serão contratados pelo SPFC, em virtude da ofensa ter ocorrido em virtude do cargo, e o clube irá requerer ressarcimento por isso."
A possibilidade de reeleição já foi aprovada pelo Conselho Deliberativo.
Casares sabe que tem muito mais possibilidade agora, por conta do bom momento do futebol.
A votação acontece faltando poucos dias para a final da Copa Sul-Americana. O dirigente repete que, depois de dez anos, o São Paulo chegou a três semifinais: Paulista, Copa do Brasil e Sul-Americana. E com o clube devendo mais de R$ 700 milhões.
Aliás, Casares tem usado o sucesso do time comandado por Rogério Ceni como grande argumento para mudar o estatuto. Para que Ceni tenha mais quatro anos no comando da equipe. E impor uma filosofia mais profunda, como nos tempos de Telê Santana, na década de 90.
Homem de marketing, ele defende a chance de ficar seis anos comandando o São Paulo. Por conta de busca de recursos para melhorias estruturais no Morumbi, no clube social, nos Centros de Treinamentos profissional e amador.
Um desses projetos é tentar vender os naming rights do Morumbi.
Conselheiros da oposição seguem afirmando que o dirigente está articulando um "golpe".
Mudar os estatutos já aprovados para que siga mandando por três anos, quando o clube já havia decidido que os presidentes só podem ficar um mandato.
"Como pode ser um golpe se você passa por um crivo de processo de consulta, de um trâmite, de voto? E como pode ser um golpe se a reeleição permite o candidato de se candidatar, mas a decisão é democrática no enfrentamento de adversário, com liberdade de escolha?"
"Isso não é golpe, pelo contrário", garantiu Casares ao globoesporte.com.
Na prática, o mandato de Casares terminaria no final do próximo ano.
Confrontado sobre o motivo que o fez mudar de ideia e agora defender a reeleição, ele negou ser em benefício próprio. Já que, se a proposta for aprovada amanhã, buscará mais três anos de poder.
"Tudo na vida é dinâmico. Naquele momento, o quadro era outro, e quando você assume com tantas demandas... A mudança da tecnologia, redes sociais, das demandas financeiras, do mundo do futebol que muda bastante e, principalmente, das demandas importantes. Depois que olha de perto é claro que você muda no sentido de entender que tem um mandato mais longo ou o direito de uma reeleição, que acho mais democrático."
A pressão é enorme no Morumbi.
Pela possibilidade de reeleição.
"Não é golpe", reafirma o dirigente aos veículos de comunicação.
"É correção no estatuto", garante a sócios e conselheiros.
A oposição promete convencer os sócios do contrário.
A votação é amanhã...
Novo Maradona? Conheça o jovem georgiano que é destaque do Napoli
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.