Mesquinhez da bilionária CBF. Sem VAR, Série B vira roleta russa
O Botafogo foi o clube prejudicado ontem. Goleiro do Sampaio Correa caiu com a bola dentro do gol. E o gol não foi confirmado. Porque não há VAR na Série B. A conivência dos clubes é cumplice da situação
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

São Paulo, Brasil
Enquanto Rogério Caboclo luta para voltar ao cargo de presidente da CBF, depois de acusado de assédio sexual e moral, o futebol brasileiro dá outro vexame internacional.
A cena é bizarra, digna de várzea.
A partida era entre o bicampeão brasileiro, da Conmebol, e 21 vezes vencedor do Carioca, o Botafogo, contra o campeão da Copa do Nordeste e 35 vezes campeão do Maranhão, o Sampaio Correa.
A partida acontecia em São Luís, o time nordestino vencia por 1 a 0, até que aos nove minutos do segundo tempo, Mota rebote e Ronald chutou. O goleiro caiu com bola e tudo muito além da linha do gol. Empate, sem dúvida alguma.
Os milhares de telespectadores que acompanhavam a partida, ontem à noite, assistiram estarrecidos, o juiz Jean Pierre Gonçalves Lima, do Rio Grande do Sul, fez o jogo prosseguir. O auxiliar Mauricio Coelho Silva Penna, também da Federação Gaúcha, apontou que a bola não teria entrado. A partida seguiu e o time maranhense venceu por 2 a 0.
O lance fundamental seria corrigido de maneira muito fácil pelo uso do VAR.
Mas acontece que a CBF não usa a tecnologia que está mais do que dominada no mundo todo. Considera que a Série B não merece os gastos.
A situação é revoltante.
A entidade que só existe para organizar campeonatos nacionais e cuidar das Seleções Brasileiras Masculina e Feminina, desde a base até a categoria principal, é muito rica. Porque fatura nos jogos e campeonatos que o Brasil participa.
E com contratos com bilionários patrocinadores.
Tem R$ 873 milhões aplicados em bancos, de acordo com o balanço de 2020.
O gasto com o VAR na Série A, em 2019, custou R$ 19 milhões. A entidade entrou com R$ 12 milhões e os clubes dividiram R$ 7 milhões.
Com tanto dinheiro, a entidade não tem a dignidade de investir, colocar o VAR na Série B. Há cinco campeões da Série A disputando o torneio.
A convivência dos clubes é assustadora. A CBF é sempre obrigada a discutir com os dirigentes das equipes cada torneio nacional que organiza. Todos sabiam que não haveria VAR na Série B em 2021.
Se submeteram à roleta russa do torneio, com um erro primário como o de ontem prejudicar seu clube.
"Peço a palavra antes da coletiva do técnico Marcelo Chamusca para manifestar indignação do Botafogo com seguidos erros de arbitragem. O primeiro em Recife já notificado pelo presidente (Durcesio Mello) e hoje no Maranhão.
"Nos últimos cinco gols, três foram com erros gravíssimos e dois já nos acréscimos em consequências dos erros, o que interfere no resultado da partida e da competição. Vamos entrar com representação na CBF para manifestar indignação. Não queremos favorecimento. Queremos competição com igualdade e justa", disse o diretor de futebol do Botafogo, Eduardo Freeland.
O Botafogo tem uma dívida que ultrapassa R$ 1 bilhão. Os recursos são escassos para montar uma grande equipe que garanta o retorno à Série A. Em 18 pontos disputados, ganhou apenas 8. Duas vitórias, duas derrotas, dois empates. Está na nona colocação.
Ninguém pode afirmar o que aconteceria na partida de ontem, se o gol legítimo fosse confirmado. Talvez o time não perdesse três pontos. Talvez empatasse. Talvez vencesse. O que aconteceu na prática é que foi absurdamente prejudicado.
Todos os 20 clubes seguem expostos, por conta da mesquinhez da CBF.
Sim, os estádios da Série B oferecem piores condições do que os da Série A. Mas todos os jogos são transmitidos. Ou seja, há como implantar a tecnologia do VAR.
Do que adiantam os R$ 873 milhões investidos?
Quando inúmeros clubes importantes, se fossem empresas, estariam com as portas fechadas, falidos?
E mesmo tendo dinheiro de sobra se nega a colocar a modernidade à disposição dos clubes, para garantir a justiça na Série B, que garante, todo ano, os quatro primeiros na Série A, na elite do futebol deste país?
A mesquinhez da CBF e a conivência dos clubes garantem o desprezo ao VAR na Segunda Divisão.
E lances vergonhoso como o de ontem em São Luís.
Como o torneio já começou, com a ausência de VAR no regulamento, ele não será implantado até o campeonato acabar.
Que os dirigentes tenham coragem e enfrentem a CBF em 2022.
E exijam o VAR no próximo Brasileiro da Série B. Já obrigando planejamento para que seja usado nas Séries C e D.
A bilionária CBF precisa mostrar para que existe.
Ou deixar a organização dos campeonatos aos clubes.
E seguir enriquecendo com as Seleções Brasileiras...
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A seleção brasileira sempre foi motivo de orgulho do Brasil, desde que entrou em campo pela primeira vez, em 1914. Mas, tal como uma mina de pedras preciosas em um garimpo, ela sempre foi uma fonte de polêmicas entre vários dirigentes da entidade por ela responsável: até 1979 a CBD (fundada em 8 de junho de 1914) e, desde então, a CBF que, neste domingo (6), teve seu presidente, Rogério Caboclo, afastado por um período de 30 dias, após ser acusado de assédio moral e sexual Veja também: Rogério Caboclo é afastado do comando da CBF após denúncia de assédio