Incoerente, tenso. Tite mudou. Virou um poço de insegurança
O fracasso do Brasil na Copa mexeu com Tite. Não existe mais o treinador seguro das propagandas na tevê. Aliás, contratos não foram renovados
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Quem teve a chance de acompanhar a coletiva de Tite, na Arábia Saudita, se decepcionou.
O treinador está muito mudado.
Parece não ter superado o fracasso na Copa do Mundo.
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O homem ousado, certo do que faz, desapareceu.
Não seria contratado hoje para propagandas onde transpirava confiança, superação, convicção nas escolhas.
Na véspera de um amistoso contra a Argentina, sem Messi, o técnico age com mais preocupação do que teve em jogos eliminatórios na Rússia.
Está cheio de segredos.
Fez treinos secretos.
Está um poço de insegurança.
Sabe que o resultado será levado em consideração.
A ISE, empresa árabe que comprou dez anos de amistosos da Seleção Brasileira, entre 2012 e 2022, repassou o direito para a britânica Pitch. Mas exigiu dois jogos na Arábia Saudita depois da Copa de 2018.
O primeiro foi contra o fraco selecionado local, na sexta-feira passada, com vitória preguiçosa por 2 a 0.
O segundo será amanhã contra a Argentina, outro país que tem seus amistosos vendidos da mesma forma que o Brasil.
Então para a Pitch o melhor foi fazer um amistoso entre os dois.
Para dar mais 'emoção' e atrair mais telespectadores, será oferecido um troféu para o vencedor do jogo. Se houver empate, pênaltis.
Até no Brasil, a Seleção não despertou atenção.
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A Globo conseguiu apenas 17 pontos com o amistoso na sexta-feira passada.
Todos os veículos de comunicação brasileiros criticaram a partida da Seleção.
Tite não teve outra saída a não ser assumir que também viu o fraco futebol.
Ele poupou seis jogadores importantes para enfrentarem os argentinos.
O goleiro Alisson, o lateral-direito Danilo, o zagueiro Miranda, o lateral-esquerdo Filipe Luís, o volante Arthur e o atacante Roberto Firmino.
Ele os colocará amanhã, em Jedá.
Mas preferiu esconder os treinos.
E, pela primeira vez que assumiu a Seleção, esconder a escalação.
"Não sou previsível e metódico o tempo todo. Eu não me sinto muito confortável, porque não é a minha praia, mas em algumas circunstâncias, é importante. Não quero, se não tenho os atletas definidos, dar ao adversário a oportunidade de conhecer a escalação, até neste momento em que não temos esquema definido", disse, preocupado em não dar pistas para o técnico argentino, Lionel Scaloni.
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Não é por acaso que a CBF finalmente tenha entendido a importância de um psicólogo esportivo. Alguém para tentar fortalecer os jogadores, e quem sabe, o treinador nas disputas que o Brasil terá pela frente.
Gabriel Puopolo de Almeida já está trabalhando com a sub-20. Já trabalhou no Barueri e na base do São Paulo.
É incrível a mudança de atitude de Tite.
Suas convicções parecem mesmo ter sumido.
A começar por seu principal jogador, Neymar.
Ele havia deixado claro que não mudaria a forma dele atuar na Seleção.
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Desde que Tite assumiu insistiu que o via aberto pela esquerda.
Mas optou agora por usar o jogador como meia, na função que exerce no PSG.
Contraditório, o técnico garantiu que jamais 'violentaria' as características de um atleta, fazendo com que jogue com a camisa da Seleção de forma diferente do que atua no clube.
Fabinho é volante no Liverpool.
Mas o técnico da Seleção exigiu que fosse lateral direito.
Preocupado com resultados, Tite tem chamado jogadores que não chegarão para a Copa de 2018. Thiago Silva terá 37 anos em 2022. A mesma idade de Miranda. Assim como Filipe Luís.
A explicação está no medo de perder.
Sua incoerência também se mostrou nas convocações de jogadores envolvidos nas semifinais da Copa do Brasil. Mesmo a Seleção enfrentando times fraquíssimos como Estados Unidos e os humildes atletas de El Salvador. Chamou Fagner, Dedé e Lucas Paquetá.
Na sua aventura na Arábia, havia chamado Everton, desprezando se o Grêmio tinha partida fundamental ontem no Brasileiro contra o Palmeiras.
Tite não tem mais a mesma simpatia dos clubes.
O fracasso na Copa fez com que seus contratos de publicidade não fossem renovados.
Não é mais garoto-propaganda do Itaú.
Nem da Samsung.
Muito menos da Cimed.
Assim como a Faculdade Mauricio de Nassau.
Não há como não notar o péssimo momento do treinador.
Ele sabe que tudo pode piorar com uma derrota amanhã.
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A pressão só aumentaria.
Assim como a rejeição à Seleção.
Por isso, tratou de desprezar a coerência.
E virou um poço de insegurança...
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