Globo prepara Galvão Bueno para ser comentarista
O narrador, principal figura do esporte da emissora, trocará de função. Voltará às origens. E se tornará comentarista depois da Copa da Rússia
Cosme Rímoli|Cosme Rímoli
"Fecha-se um ciclo. Uma história que tem muitos anos. Posso dizer que fiz milhões de amigos. Tenho que estar emocionado e feliz, até porque a próxima Copa é no Brasil. Depois disso pode ser que eu esteja lá, mas não trabalharei, só assistirei.
"Vou pensar um pouco na família, que é a coisa mais importante que eu tenho."
A promessa foi feita por Galvão Bueno em novembro de 2011. Ele projetava que a Copa no Brasil, em 2014, seria a sua última competição esportiva. Seria, simbolicamente, o décimo Mundial seguido. Já estava começando a se materializar o livro autobiográfico, que lançaria após a disputa. E foi publicado em 2017.
Milionário, já tinha certeza de que proporcionaria uma vida confortável para todos os familiares. Há décadas é a pessoa mais bem paga em todo o departamento de Esportes da Globo. E um dos maiores salários da emissora.
Galvão sonhava em terminar a carreira de narrador com o Brasil hexacampeão, com uma festa gigantesca.
Só que o destino interferiu. A Copa foi um desastre. Embora muito lucrativa para a Globo, em parceria com a CBF e Fifa, o vexame do 7 a 1 para a Alemanha ainda está tatuado em cada brasileiro. Galvão decidiu prosseguir, adiar em quatro anos, ano menos, sua promessa de parar. Tal qual Silvio Caldas, o anúncio de sua despedida ficou na promessa.
Mas Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno é de carne e osso. Ele completará 68 anos em julho. Sua voz e seu fôlego já não são mais os mesmos. Pessoas ligadas à narração já perceberam sua inteligência. Galvão há pelo menos cinco anos está se poupando nas transmissões. Não narra como antigamente, segue cada lance, cita o nome da cada jogador.
Não.
De forma cada vez mais escancarada, Galvão prefere comentar a partida, trocar ideias com os comentaristas. E só narrar os lances agudos. Este recurso tem sido usado de forma muito frequente. No intervalo e mesmo após os jogos, ele tem se mostrado cada vez mais feliz comentando do que narrando. Como deixa ainda mais claro no seu programa no Sportv, Bem Amigos.
Galvão Bueno em 2022 completará 72 anos. Ele sabe que as chances de narrar o Mundial do Catar são quase nulas. Mas ele não consegue ficar longe da televisão. E, a bem da verdade, a Globo não quer abrir mão do personagem mais representativo das suas transmissões. Amado ou odiado, Galvão segue sendo o mais citado nas redes sociais após cada partida. A interatividade, a Internet tem cada vez mais peso para a emissora carioca.
Nestes quatro anos que antecedem o Mundial do Catar, está previsto um período de transição em relação a Galvão Bueno. Ele narrará com toda autoridade o Mundial da Rússia. Comandará suas mesas redondas e talvez até comece a citar os patrocinadores que toparam pagar R$ 180 milhões pela competição.
Mas a previsão é que Galvão Bueno deixe a narração de futebol. E se transforme em comentarista. Onde ele ficaria livre para fazer o que mais gosta: opinar sobre tudo e todos. A bola rolando ficaria para uma voz mais jovem.
Além de Luís Roberto, 56 anos, Cleber Machado, 55 anos, a Globo não contratou Gustavo Villani, da Fox Sports, à toa. Aos 37 anos, versátil, com capacidade de narrar bem e com conhecimento, os principais esportes e até Fórmula 1.
A emissora quer rejuvencer o esporte. Além de levar a sério o projeto de quebrar padrões e transformar Glenda Kozlowski em narradora.
Para começar a acostumar a audiência e o próprio Galvão Bueno à função de comentarista, será esta função que o narrador de 67 anos ocupará no renovado programa Seleção, do canal Sportv. Ele não terá a apresentação, nem será dono do programa, como no Bem, Amigos.
Se Galvão puder se controlar, André Rizek será o apresentador e comandante dos debates. Com inúmeras novidades e recursos tecnológicos, o programa terá no narrador sua principal atração.
A transição para que Galvão Bueno deixe a narração e vire comentarista está sendo feito com o maior respeito, maior cuidado. Para que não ocorra qualquer problema. Nenhum ressentimento.
Galvão Bueno é muito vivido. E sabia que esta hora iria chegar. Em cada transmissão, ele deixa claro o maior prazer que tem ao comentar do que narrar. A Globo também não quer, de maneira alguma, o rompimento. Pretende segurá-lo como comentarista por muitos anos ainda. Sabe de sua popularidade.
Pouca gente sabe, mas o que Galvão Bueno pretendia fazer no jornalismo era comentar. Começou a narrar graças à sua poderosa voz e noção de timing. Se tornou o maior narrador da televisão brasileira, nas últimas três décadas. É algo marcante.
Mas o tempo passa para todos.
E a vida é irônica.
O futuro de Galvão Bueno está no seu passado.
Se tornará comentarista, como tanto desejava.
Quando passou em um teste no começo da década de 70.
Na extinta rádio Gazeta, em São Paulo.
A troca de função ocorrerá após o Mundial da Rússia.
Sem data fixa.
Pode ser imediatamente ou depois de um período.
Mas a transição ocorrerá.
E Galvão poderá palpitar mais ainda do que já costuma fazer...
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.