Globo expurga fracos Estaduais às quartas. Por perda de audiência
A emissora prefere não mostrar os insignificantes jogos dos Estaduais no meio da semana. Clubes pequenos revoltados. Mas nada podem fazer
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
"Uma grande traição."
Este frase resume o descontentamento de um dirigente de clube pequeno, dita na sede da Federação Paulista de Futebol, para o presidente Reinaldo Carneiro Bastos.
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Mas ele não teve como argumentar.
A ira deste dirigente do Interior se justifica.
Na sua ótica, o Campeonato Paulista é a grande e única vitrine para que seu clube, outrora tradicional, seja exibido, volte a ser visto, falado. Graças aos jogos contra os grandes transmitidos pela TV Globo, dona dos Estaduais, assim como monopoliza o futebol deste país.
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Só que os executivos da emissora sabem que, com a mudança no comando do Brasil, as verbas de publicidade federal passarão a ser justas. Acabaram os privilégios de décadas.
Assim, não há como desperdiçar. Mostrar jogos insignificantes, que não levam a nada nos Estaduais durante a semana. E foi tomada a decisão que enfrenta a hipocrisia. Nada de partidas transmitidas às quartas-feiras. O confronto com o time grande jogando no Interior, em estádios ultrapassados, com iluminação precária, para promover o nome da cidade, o prefeito, não interessa.
Jogos de janeiro e fevereiro, com os grandes ainda começando a serem montados, com equipes fazendo rodízio, para tentar evitar contusões graves, poupando estrelas, são os piores. Os matadores de Ibope.
Melhor para a emissora colocar filmes.
Nesta quarta-feira, será o clássico contemporâneo nacional "Fala Sério, Mãe".
Vale o resumo da película, feito pela próprima emissora.
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"Ângela Cristina, mãe da adolescente Maria de Lourdes, precisa lidar com as dificuldades e delícias de guiar sua filha durante uma das fases mais complicadas da vida. Ela vive uma montanha-russa de emoções, medos e frustrações. Por outro lado, a filha Malu, como prefere ser chamada, também tem suas insatisfações."
No elenco, Larissa Manoela, Ingrid Guimarães.
Há a certeza de que o filme arrebatará muito mais telespectadores do que Oeste de Itápolis e o imprevisível Palmeiras, com rodízio de sete, oito jogadores.
Seguindo a lógica, os olhos dos cariocas ficarão livres de Fluminense e Madureira.
Assim como os mineiros estão poupados de Atlético Mineiro e URT.
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Assim como os gaúchos não serão obrigados a ver Avenida e Aimoré ou Pelotas e São José.
E será assim em todas as quartas-feiras, até março, quando os estaduais entram na sua fase decisiva.
A verdade é que, ninguém mais suporta os Estaduais.
Nem a Globo, dona do direito de competição.
Os torneios, fundamentais nas décadas de 50, 60, 70 perderam o sentindo. Com a integração nacional, com os torneios nacionais, Campeonatos Brasileiros de verdade, depois com a globalização, valorização da Libertadores, não há motivo para os estaduais.
Eles são estorvos.
Impedem que a pré-temporada seja feita de verdade, em vez de 30 dias, que já seria um período pequeno, ela tem 18 dias.
Travam os clubes grandes envolvidos na Libertadores.
Expõem treinadores em busca de espaço, principalmente, os inexperientes. André Jardine é ótimo exemplo.
Não há mais nem a desculpa da revelação de jogadores. Os empresários já dominam o interior de São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul. Não há sequer um atleta com excelente potencial de 16 anos que não seja de um agente. E que não esteja de malas prontas ou já até já esteja no Exterior.
Os times pequenos são acúmulos de veteranos ou de jogadores jovens de péssima qualide. Times são montados por empresários para durar enquanto houver jogos pela competição. Prefeituras aceitam servir como mera vitrines desses agentes de segunda linha.
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Como a audiência do futebol segue caindo 22% nos últimos dez anos na tevê aberta, a Globo busca mais audiência desprezando os Estaduais. Por enquanto, eles são mostrados nos finais de semana,no domingo. Mesmo assim, com reclamações, por derrubar a audiência do "Programa do Faustão".
Se os dirigentes de clubes seguem comprometidos, amedrontados diante das Federações, sem força para se juntarem e acabar com os Estaduais, ou pelo menos entrarem apenas na fase aguda, nas quartas-de-final, por exemplo, a Globo decidiu agir.
E eles foram banidos de sua programação.
Pelo menos nas quartas-feiras de janeiro e fevereiro.
A exposição dos times pequenos caiu pela metade.
Mas a postura da emissora carioca é irreversível.
E absolutamente comercial.
Não há traição alguma, como argumentam dirigentes de equipes pequenas.
A Globo comprou os Estaduais.
E mostra se compensar.
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Em janeiro e fevereiro não compensa.
O título de amanhã, por sinal, é muito conveniente.
"Fala Sério, Mãe"...
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