Gastos com o ineficiente Jô podem chegar a absurdos R$ 47,8 milhões
Processo na Fifa, contrato de três anos e meio com um atacante que tinha 33 anos. Negociação emotiva transforma Jô em grave problema
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Em julho de 2007, quando o Ministério Público Federal bloqueou o dinheiro da Media Sports Investment, por suspeitar da origem do dinheiro que chegava ao Corinthians, o presidente da MSI, o iraniano naturalizado inglês Kia Joorabchian decidiu sair do país.
E acabar a parceria.
O que implodiu com o 'reinado' de Alberto Dualib no Parque São Jorge, de 14 anos.
As principais estrelas que trouxe já tinha levado embora, por saber do início das investigações. Carlitos Tevez e Mascherano, um ano antes.
Kia já havia se apossado da principal promessa da base do Corinthians, João Alves de Assis Silva, Jô. Esperto, o presidente da MSI já mandou o atacante, com 17 anos, para a Rússia, atuar no CSKA Moscou, ainda em 2005.
Jô foi indicado por Kia por Andrés Sanchez. Era o jogador que tinha mais orgulho, viu 'nascer' no Parque São Jorge e sabia que faria carreira sólida, inclusive internacional.
16 anos se passaram.
Andrés estava certo, a carreira do atacante foi importante, com direito a atuar no Manchester City, disputar a Copa do Mundo de 2014. Disputar Olimpíada, Copa do Mundo. Trocou dez vezes de clubes.
Até voltar ao Corinthians, aos 33 anos. E assinar um contrato de três anos, com salários de R$ 700 mil mensais.
Por interferência de Andrés Sanchez, que não quis saber de opinião de treinador algum. Jô estava contratado e ponto final.
Só que o tempo é implacável. Com todos. Jô não é exceção. O jogador ágil, cabeceador, de arrancadas surpreendentes para a estatura de jogador de basquete, 1m93, ficou para trás.
Já com 34 anos, não está conseguindo render nem a metade do que já jogou no Corinthians. Na sua segunda passagem em 2017.
Marcou só dez gols e deu duas assistências, em 48 jogos.
Mesmo sendo privilegiado no esquema de Vagner Mancini. Homem de referência no ataque, sem obrigação de marcar, recompor. Mesmo assim, segue lento, aceitando passivamente a marcação dos zagueiros adversários. Não tem a mínima agilidade para fazer o trabalho de pivô.
Infelizmente virou um peso para a equipe.
Ele já foi afastado para se recondicionar fisicamente. O que seria reflexo de sua turbulenta saída do Nagoya Grampus, quando não jogou no primeiro semestre de 2020, depois de brigar com a diretoria do clube.
Mesmo assim, com inúmeros treinamentos individualizados, especiais, ele não consegue render.
Vivido, ex-jogador, ex-dirigente, o técnico Mancini sabe que tem um enorme problema nas mãos.
Um ídolo, adorado pela diretoria, principalmente pelo homem mais poderoso do Corinthians, Andrés Sanchez, que não consegue render.
A torcida corintiana já perdeu a paciência com o atleta.
O persegue nas redes sociais, não o quer mais no Corinthians.
A ponto de ficarem atacante a esposa do jogador, Claudia da Silva.
Ela respondeu em março.
E deixou escapar, sem querer, o que todos sabem.
Seu marido não é o mesmo artilheiro de 2017, campeão brasileiro.
"Não adianta mandarem directs, ficarem a semana toda me atormentando. Eu bloqueei comentário, mas vocês ficam o tempo todo atormentando a minha família, falando que meu marido está gordo, que ele não é o mesmo de 2017.
"Óbvio, estamos em 2021, eu não sou a mesma de 2017. Vocês têm que entender que a carreira de um jogador é feita de altos e baixos, existe um ser humano, existe sentimento, eles não são máquinas. Infelizmente a alegria do torcedor é quando a bola entra no gol e levanta o troféu para bater no peito que é corintiano.
"Mas não se esqueça que ele também é corintiano, ele também sofre quando o Corinthians perde, quando não consegue dar o melhor. Mas vocês não vão frustrar a vida do meu marido, ele ainda tem muita história para ser escrita."
O que era ruim, ficou muito pior.
O Corinthians foi condenado por aliciamento, convencer Jô a abandonar o Nagoya Grampus, com contrato em validade, para voltar ao Brasil. A multa é de 3,4 milhões de dólares, R$ 18,4 milhões.
Os dirigentes alegam que o Nagoya havia 'mandado Jô embora', ele estava livre no mercado.
Só que o clube japonês levou o processo às últimas consequências, alegando que o Corinthians convenceu Jô a abandonar o Japão.
O clube deve R$ 949 milhões.
Recorreu só tem uma chance de não gastar mais R$ 18,4 milhões por Jô, ser absolvido na última instância esportiva, o CAS, Tribunal Arbitral do Esporte, na Suíça.
O atacante tem contrato de três anos e meio, 42 meses com o Corinthians.
São garantindos, R$ 29,4 milhões no seu bolso.
Se perder a briga com o Nagoya no CAS, o clube terá comprometido R$ 47,8 milhões com o jogador.
Cerca de R$ 1,1 milhão por mês com o jogador, por três anos e meio.
Por conta do ex-presidente Andrés Sanchez.
Não há o menor movimento no clube para um acordo, para a rescisão de contrato.
Jô segue treinando forte.
Se submetendo a treinamentos físicos especiais.
Dieta controlada.
Mas seu desempenho segue muito abaixo.
A situação é complicadíssima...
Quatro clubes do Brasil possuem dívidas de cerca de R$ 1 bilhão
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