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Ferroviário e Corinthians.Em Londrina.Indecente venda de mando

CBF segue apoiando a venda de mando de jogos. Desrespeito à competição e às torcidas. Postura vergonhosa

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Por R$ 450 mil, o Ferroviário abriu mão de sua torcida. E jogará em Londrina
Por R$ 450 mil, o Ferroviário abriu mão de sua torcida. E jogará em Londrina

São Paulo, Brasil

Paulo Rogério, Zé Antônio, Carlos, Arenghi e Dirceu; Ademar, Zé Roberto, Carlos Alberto Garcia e Xaxá; Nenê (Nivaldo) e Brandão.

Técnico: Armando Renganeschi.

Com essa equipe, o Londrina empatou em 2 a 2 com o Atlético Mineiro e encerrou sua mais brilhante participação no Campeonato Brasileiro. Depois de eliminar Corinthians, Flamengo, Vasco, Santos e Caxias. 


A campanha do Brasileiro de 1977, que terminou em 1978, é inesquecível.

Depois veio a conquista do Brasileiro da Segunda Divisão, em 1980.


E, a decadência.

Nos anos 2000 não conseguiu nem disputar a Quarta Divisão do Brasileiro, enfiado em dívidas, muitas delas trabalhistas. Chegou a cair para a Segunda Divisão Parananense.


Só em 2014 voltou à Série C, Terceira Divisão.

Em 2015, voltou à Série B. 

Está empacado na Segunda Divisão.

Ganhou a Primeira Liga quando ela já estava esvaziada, assassinada por covardia dos clubes.

O estádio do Café, com capacidade de 30 mil torcedores, deixou de ter regularmente a visita das grandes equipes do Brasil, como acontecia no final da década de 70.

A cidade é apaixonada por futebol.

E serve como exemplo do que jamais deveria acontecer neste país.

A nefasta venda de mando de jogos.

Na próxima quinta-feira, dia 7 de fevereiro, o Londrina enfrentará o Americano, em Campos, pela Copa do Brasil.

Mas no estádio do Café estarão jogando o Ferroviário do Ceará e o Corinthians.

Na mesma noite.

Como?

Por que?

Porque o clube cearense, com total apoio da CBF, vendeu o mando de seu jogo para a empresa Roni7 Eventos.

E, em vez de atuar na sua casa, diante de sua torcida, por dinheiro desequilibra a competição, facilita a vida do time paulista. Há a certeza que o time de Carille jogará como se estivesse em casa, com as arquibancadas repletas de corintianos.

"Nós finalizamos as negociações positivamente para a troca do mando de campo. Nós temos que olhar para estabilidade financeira do clube e também para o nosso foco principal no ano que é a Série C do Campeonato Brasileiro.

Nessa competição, queremos o acesso para a Série B ou que possamos permanecer", diz o vice-presidente do Ferroviário, Newton Filho.

O dirigente fez os cálculos simples. 

O estádio do Ferroviário, Elzir Cabral, tem a capacidade de 4.200 pessoas, em Fortaleza.

Flamengo contra o Fluminense. Em Brasília. Por dinheiro. Inaceitável
Flamengo contra o Fluminense. Em Brasília. Por dinheiro. Inaceitável

Mais lucrativo foi aceitar os R$ 450 mil livres da Roni7 Eventos, empresa especialista em aproveitar a brecha da venda dos mandos.

Afinal, o regulamento da Copa do Brasil prevê que 60% da renda ficará com o classificado nesta primeira fase da competição, resolvida em um jogo só. 

Neste confronto, o empate é do Corinthians.

O Ferroviário segue o caminho de inúmeros outros clubes.

Com o incrível incentivo da CBF.

Na Copa do Brasil, a partir da terceira fase, só serão aceitos estádios com capacidade para dez mil torcedores sentados e iluminação capaz de permitir a transmissão dos jogos. Na quarta fase, a exigência é de 15 mil torcedores sentados.

Se o Ferroviário, por exemplo, conseguir ir adiante na competição, não poderia atuar em casa já na terceira fase. 

No Campeonato Nacional, a mesma situação descabida acontece.

A entidade deve manter em 2019 o que já valeu no Brasileiro de 2018. Os clubes da Série A, a mais importante deste país, puderam vender cinco mandos, para qualquer estado da primeira até a 33ª rodada. Faltando cinco rodadas para o Brasileiro acabar, se a equipe não tivesse vendido os cinco mandos, poderia vender só dentro do seu estado.

É uma uma indecência.

Desrespeito à competitividade.

Fora o desprezo às torcidas dos times menores, que são privadas de acompanhar os confrontos contra os grandes do país, há uma premiação à incompetência de outras cidades, mais ricas, porém incompetentes para terem seus clubes na Série A.

Brasília, Londrina, Manaus são alvos fáceis.

Empresas como a Roni7 Eventos se aproveitam dessa postura inaceitável da CBF.

De vez em quando perdem dinheiro.

Como aconteceu em 2018, quando a mesmo Roni7 Eventos levou Madureira e São Paulo para Londrina.

Jornais noticiaram que foram oferecidos R$ 120 mil livres para cada equipe.

Mais R$ 60 mil ao vencedor.

Ou elas dividiriam o dinheiro, em caso de empate.

Só de cotas, o investimento foi de R$ 300 mil.

Mais as viagens e estadia, cerca de mais R$ 100 mil.

Os ingressos cobrados ficaram entre R$ 83,00 e R$ 63,00.

O São Paulo venceu a partida por 1 a 0.

A arrecadação foi um fiasco: R$ 142.880,00 para apenas 4.455 pagantes.

O estádio do Café não chegou a ter 20% de sua capacidade.

Foi só um tropeço.

Na quinta-feira, quem sabe, a revanche.

Agora, o preço cobrado para Ferroviário e Corinthians será de R$ 160,00 a R$ 120,00, fora as meias.

Ou seja, a aposta é na carência do torcedor de Londrina.

O clube que já foi semifinalista do Campeonato Brasileiro está na Segunda Divisão.

E os grandes do futebol deste país passam longe do estádio do Café.

Ver o Corinthians contra o Ferroviário do Ceará é uma patética compensação.

E caríssima.

Está tudo errado.

Por alguns tostões a mais, a equipe nordestina abre mão de ter mais chance de fazer história.

Mostrar que é um clube de futebol e não um banco.

Facilita a missão corintiana.

Esse dinheiro pode ajudar.

Mas quanto valeria eliminar o Corinthians?

Fazer uma partida histórica?

A culpa é da permissiva CBF que estimula essas vendas.

Desmoraliza seus próprios campeonatos.

1978. Quando a cidade de Londrina não precisava ver jogos de cearenses e paulistas
1978. Quando a cidade de Londrina não precisava ver jogos de cearenses e paulistas

Situação constrangedora também para os londrinenses.

Principalmente os mais velhos.

Que tiveram orgulho do desempenho da equipe que representava a cidade, na semifinal do Brasileiro.

Com direito ao recorde do estádio, quando se permitia torcedores em pé.

Foram 54.178 deles no dia 15 de fevereiro de 1978. 

No confronto, por coincidência, o Corinthians.

41 anos depois, o mesmo clube paulista.

Mas do outro lado, não estará o Tubarão.

Mas sim um time cearense.

Vergonhoso.

Em todos os sentidos...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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