Escândalos. Série B. Dívida, R$ 800 milhões. Cruzeiro
O Ministério Público de Minas Gerais tem um dossiê com mais de 600 páginas. Sobre o caos que foi a administração Wagner Pires. Inaceitável
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
A maior devassa do futebol brasileiro.
E que serve de lição para vários dirigentes.
Aqueles que insistem: o mau uso do dinheiro de um clube é problema apenas deste clube.
E acobertam diretorias irresponsáveis, inconsequentes que sucederam.
O Ministério Público de Minas Gerais teve desde ontem a prova.
Um relatório com mais de 600 páginas.
795 documentos, 1.116 transações financeiras e 803 comunicações eletrônicas foram dissecadas, com o envolvimento de 645 pessoas.
Detalham o absurdo que dominou o Cruzeiro na gestão Wagner Pires.
Que elevou a dívida de R$ 387 milhões para mais de R$ 800 milhões.
E jogou o gigante Cruzeiro na Série B.
A consultoria Kroll, especializada em gestão de risco, investigações corporativas, compliance e cibersegurança levou mais de três meses analisando as transações na administração de Pires.
E levantou vários crimes administrativos.
Há 12 pontos principais que foram expostos aos jornalistas.
São assustadores.
A Kroll omitiu os nomes dos envolvidos à imprensa.
Aqui estão os pontos.
- O Cruzeiro assinou contratos de intermediação de atletas sem que a participação desses intermediários nas negociações fosse cadastrada na CBF, o que é vedado pelo Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol. Esses contratos originaram 13 comissões, que somam R$ 13.270.715,00.
- O Cruzeiro ofereceu direitos econômicos de jogadores em garantia de pagamento de dívida em, ao menos, dois contratos, o que é proibido pelo Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol da CBF e pelo documento equivalente da FIFA. Entre os jogadores relacionados em um dos contratos estava um atleta amador, a época com 9 anos de idade. O Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol proíbe qualquer transação envolvendo direitos econômicos de menores até que o atleta complete 16 anos.
- Apesar de a Lei Pelé e o Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol da CBF vedar a remuneração do atletas menores amadores, familiares de, ao menos, dois jogadores de base do Cruzeiro recebiam pagamentos mensais por meio de empresas de consultoria abertas próximas a data de assinatura dos contratos com os atletas.
- Um intermediador recebeu comissão de R$ 500 mil pela negociação do um atleta menor amador com o Cruzeiro, o que é vedado pelo Regulamento Nacional de Intermediários da CBF.
- Um terceiro contrato foi identificado em que o Cruzeiro forneceu a um intermediador 10% dos direitos econômicos futuros de um menor amador, caso este viesse a se tornar profissional e posteriormente ser transferido do clube.
- O Cruzeiro pagou R$ 7.072.000 em comissões a intermediários de jogadores que já atuavam no Cruzeiro, por terem negociado aumento salarial para estes atletas. Além disso, o contrato de um intermediador previa recebimento de bonificação todas as vezes em que o atleta que ele representava atingisse metas de performance. Essas comissões, apesar de não serem regulares, podem ser consideradas inusuais e prejudiciais ao Cruzeiro.
- As despesas do Cruzeiro aumentaram em 50% no período entre 2018 e 2019 com relação ao biênio anterior, passando de R$ 770.097.107 para R$ 1.180.676.437 Os salários, que compõem 20% das despesas do clube, também tiveram um aumento do 50%, saltando de R$ R$ 156.581.352 para R$ 234.380.814.
- Entre as despesas analisadas, despesas pessoais e não condizentes com as atividades performadas pelo Cruzeiro, no valor de R$ 80.777,18, foram pagas com cartões de crédito corporativos emitidos em nome de quatro dirigentes, durante o período em análise. Os estabelecimentos incluíram lojas de eletrônicos, lojas de roupas, clínicas de saúde, bebidas alcoólicas, resorts de luxo e casas noturnas de entretenimento adulto.
- Foram realizados, durante o período em análise, pagamentos de notas de débito de dirigentes no valor de R$ 1.548.608, sem qualquer descrição da natureza desses gastos nos registros contábeis. A Kroll requisitou ao Cruzeiro comprovantes que justificassem suas despesas, mas não os recebeu até a conclusão dos trabalhos de investigação.
- O Cruzeiro pagou um total de R$ 8.521.311,80 a empresas vinculadas a dirigentes e/ou seus familiares durante o período em análise. As empresas favorecidas eram, em sua maioria prestadoras de serviços de consultoria e tinham contratos com o clube que abarcavam os serviços performados pelos dirigentes em seus cargos. Entre os pagamentos identificados, há empresas em nome do esposas de dirigentes, comissões e pagamentos de rescisão não previstos em contrato, bonificação de dirigentes por desempenho do time e recebimentos em duplicidade por parte de dirigentes.
- O Cruzeiro pagou R$ 6.068.078,33 a empresas vinculadas a 52 conselheiros, apesar de o Estatuto Social do clube vedar esse tipo de relação. A Kroll analisou em detalhe pagamentos a 12 conselheiros, que receberam acima de R$ 100 mil e perfazem 83% de todo o valor pago a esta categoria. Os pagamentos analisados referem-se contratos de mútuos, serviços de consultoria, advocacia e compras em estabelecimentos. A Kroll ressalta que parte destes pagamentos pode estar relacionada a atividades comerciais regulares, mas não recebeu os dados suporte para confirmar essa hipótese.
- Foram pagos R$ 2.139.653,74 a empresas de consultoria jurídica, tributária e de engenharia com descritivo genérico de atividades e sem comprovação de serviços prestados. Além disso, foram pagos R$ 591.250 em comissão por negociação de contratos com patrocinadores do Cruzeiro.
A eleição no Cruzeiro será daqui dois dias.
A primeira missão do próximo presidente é cobrar publicamente o Ministério Público.
Para que aja contra cada um dos escândalos.
Sem corporativismo.
Hipocrisia.
Diferenciar má gestão de crime...
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