Encurralada, Globo decide ceder. Palmeiras perto de vitória histórica
Sem saída, emissora carioca decide equiparar Palmeiras a Flamengo e Corinthians. Pagar o que Galiotte exige. Reunião deve selar acordo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Faltando uma semana para o início do Campeonato Brasileiro, a Globo e a Turner fazem de tudo pelo Palmeiras.
Executivos globais já receberam carta branca da alta cúpula da família Marinho.
A ordem é para fechar com o clube de Mauricio Galiotte. Ter o direito de transmissão dos 38 jogos palmeirenses na tevê aberta se tornou obsessão.
Assim como o Cartola FC ter todas as equipes.
Principalmente os jogadores do campeão do país.
O fantasy game é a aposta da emissora para as futuras apostas esportivas de clubes brasileiros no país. Está formando uma legião cativa de apostadores.
Não há mais tempo a perder.
A guerra já dura um ano.
A Globo foi derrotada na sua estratégia de deixar o tempo passar. Apostar que a direção do clube, os patrocinadores e os torcedores pressionassem Galiotte para que assinasse para que o clube tivesse seus jogos mostrados na tevê aberta.
Jamais a emissora carioca encontrou tamanha resistência de um dirigente.
Ficou claro, da pior maneira, para a dona do monopólio do futebol no país que as coisas mudaram.
A princípio, a Globo queria cobrar uma multa de 20% do clube paulista por ter assinado contrato com a Turner para a transmissão dos seus jogos no Brasileiro na tevê a cabo. O que daria cerca de R$ 80 milhões por ano, de 2019 a 2024.
No pay-per-view, o castigo pela insubordinação seria 5,2% de redução. A cota palmeirense básica seria igual à de 17 clubes. Só Flamengo e Corinthians ganhariam mais 18,5 % cada. O restante seria dividido por 18 equipes.
Galiotte até se ofendeu com essa proposta.
Ele sabe que grande parte da diretoria palmeirense não suporta a Globo. Assim como a maior parte de conselheiros e torcedores. Por décadas, o clube foi menosprezado.
Corinthians e São Paulo tiveram privilégios, maiores números de jogos transmitidos. O Palmeiras era considerado 'derrubador de Ibope'.
Até mesmo os patrocinadores Crefisa e Puma deixaram o presidente palmeirense à vontade na negociação. Foram fiéis a ele, ao contrário do que esperavam alguns executivos, não exigiram o acerto para que suas marcas fossem divulgadas.
O tempo foi passando e Galiotte foi ficando mais raivoso ao perceber a estratégia da emissora, de tentar jogá-lo contra a comunidade palmeirense.
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Só que ele recebeu apoio de todos os lados. Principalmente nas redes sociais. Com situação financeira favorável, ele esperou.
Em relação ao contrato com a Turner, foi o dirigente que melhor negociou. O Palmeiras recebeu R$ 100 milhões pela transmissão de seus jogos nos canais Turner e Space.
Galiotte foi firme ao final do Esporte Interativo, quando dirigentes de Santos, Internacional, Ceará, Bahia, Athletico Paranaense e Fortaleza, que também assinaram com a Turner, pensavam em fazer um distrato. Afinal, não teriam dois canais com 24 horas de esporte para divulgar suas marcas.
O dirigente palmeirense foi firme e manteria as partidas do seu clube no Space e no TNT, canais oferecidos pela Turner. Acabou seguido pelos demais.
Galiotte só tinha uma divergência com a Turner.
Ele queria que os jogos do Palmeiras que acontecessem em São Paulo não fossem transmitidos para a Capital. Por dois motivos. O primeiro, menos preocupante, a arrecadação. O dirigente quer o estádio cheio nas 19 partidas como mandante.
O outro motivo: a possibilidade de fechar com o pay-per-view com a Globo. Ele queria o Palmeiras concorrendo com o Palmeiras mesmo. Ninguém pagaria para ver o jogo em casa, com a partida mostrada 'de graça' no canal a cabo.
A Turner relutou, relutou, relutou. Mas acabou cedendo nesta semana. Porque pretende seguir com o Palmeiras como seu maior aliado. Com direito a exclusividade em amistosos, excursões e bastidores do clube.
A medida exigida por Galiotte teve de se estender para Ceará, Bahia, Santos, Internacional, Athletico Paranaense (que ainda não fechou com o ppv com a Globo) e Fortaleza.
A medida agradou em cheio os executivos globais. Eles seguem cobrando o mesmo preço do Premiere que em 2018, entre R$ 79,90 e R$ 109,90 mensais. E estão livre da concorrência direta dos sete 'rebeldes' nas cidades onde acontecerão as partidas.
A Globo resolveu ceder ao Palmeiras. Não haverá mais multa na traição. Nem na tevê aberta e nem no pay-per-view.
Ou seja. Oferece R$ 100 milhões de luvas. E decidiu oferecer 10% do dinheiro do pay-per-view. Alega que, por contrato, Corinthians e Flamengo, com maiores torcidas, receberão mais.
Só que Galiotte não aceitou.
Ele quer exatamente o mesmo oferecido ao Corinthians.
Por conta do investimento no elenco e pelo resultado prático.
O Palmeiras é o atual campeão brasileiro.
Quer R$ 120 milhões e os mesmos 18,5% do pay-per-view de corintinanos e flamenguistas.
A Globosat reservou R$ 1,1 bilhão para ser divididos entre os 20 clubes que disputam o Brasileiro de 2019. Esse dinheiro vale para a Globo, tevê aberta.
40% iguais para todos, 30% conforme a colocação na tabela – o campeão leva R$ 33 milhões, o 16º lugar, R$ 11 milhões, e os quatro rebaixados, nada.
E 30% de acordo com a audiência.
R$ 650 milhões para o pay-per-view.
Esse era o planejamento.
Mas a insurreição do Palmeiras mudou tudo.
Haverá ainda uma última reunião na próxima semana com Galiotte.
A tendência é a Globo ceder em quase tudo.
Pagar a mesma luva que receberam Corinthians e Flamengo na aberta. E igualar o número de jogos transmitidos do clube de Itaquera ao do time da Água Branca.
O que seria inédito.
E ficar muito perto do pay-per-view, cerca de 17%.
A emissora carioca teme milhares de processos de assinantes do Premiere no Procon. Por cobrar o mesmo valor e não ter os jogos do campeão brasileiro. Além das partidas do Athletico Paranaense, que também se encaminha para um desfecho favorável.
A Turner já fez tudo que o Palmeiras exigiu.
E a Globo segue no mesmo caminho.
Galiotte caminha para uma vitória histórica...
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