Dorival ameaça: todos vão ter de ‘engolir’ a Seleção. Enquanto isso, Espanha e França dão inveja aos brasileiros. Espanhóis na final da Euro
Jogo espetacular na Alemanha, sem comparação com o péssimo futebol do time de Dorival. A Espanha conseguiu uma virada impressionante diante da França e está, com toda justiça, na final da Eurocopa. Colírio para quem assistiu o Brasil na Copa América

“Daqui a dois anos, essas mesmas pessoas que estão falando demais, e desnecessariamente, sem responsabilidade, talvez terão que engolir novamente uma grande conquista da nossa seleção.
“Tenham calma e paciência, e acompanhem.”
Essa foi o desabafo de Dorival Júnior, que atendeu ao presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, e deu várias entrevistas nos Estados Unidos, depois da vergonhosa eliminação do Brasil da Copa América.
O dirigente queria uma postura firme de Dorival, depois da campanha pífia do time, e, principalmente, da cena que ganhou o mundo, com ele tentando falar, enquanto os jogadores se abraçavam e seu filho, e auxiliar, Lucas Silvestre, decidia quem cobraria os pênaltis que eliminaram a Seleção, diante do Uruguai, Dorival levantando o dedo e tentando falar. Mas ninguém deu atenção ao ‘comandante’.
Ednaldo queria o resgate da importância, da hierarquia do cargo.
Mas as palavras de Dorival não repercutiram como ele e o presidente da CBF imaginavam.
Pelo contrário.
Vários veículos de comunicação e internautas consideraram ‘piada de mau gosto’, a nítida imitação de Zagallo.
A enorme diferença é que Dorival Júnior não venceu quatro Copas do Mundo.
E quando Zagallo falou ‘vocês vão ter de me engolir’, em 1997, o Brasil havia acabado de vencer a Copa América, na Bolívia.
O Brasil de Dorival caiu nas quartas, não chegou sequer a ficar entre os quatro na Copa América deste ano, nos Estados Unidos.
Tudo ficou ainda mais constrangedor com a disputa da Eurocopa simultaneamente à competição americana.
A semifinal de hoje, entre Espanha e França, foi de dar inveja.
Tamanho disparate tático, individual e do comprometimento dos jogadores das duas equipes.
Ao contrário dos brasileiros, perdidos em campo, desorganizados, sem rumo, irritadiços.
A Espanha, de Luis de la Fuente, e a França, de Didier Deschamps, fizeram um duelo do mais alto nível.
Ambas partindo do 4-3-3, com variações táticas, 4-2-2-2, 4-1-4-1, 4-3-2-1 durante o confronto.
A saída de bola consciente dos espanhóis, o poder de improvisação do meio para a frente francês.
A recomposição harmoniosa, veloz, que permitia que quem tivesse talento, como Lamine Yamal, de apenas 16 anos, de Mbappé, de Dembélé, de Nico Williams, de 21 anos, pudessem tentar dribles, infiltrações, triangulações, improvisações, sem medo.
Os 510 passes espanhóis contra 373 franceses denunciam a estratégia de controle de jogo, herdada do tiki-taka criado pelo inesquecível Johan Cruiff e desenvolvido por Pep Guardiola.
Os franceses, de Deschamps, buscavam a objetividade.
Foi um duelo eletrizante, do início ao final da partida.
Os gols fizeram prender a respiração quem teve o privilégio de estar na arena de Munique.
E aconteceram no primeiro tempo.
Mbappé deu uma assistência de puro talento e visão de jogo.
Kolo Muani não teve coragem de desperdiçar.
França 1 a 0, aos oito minutos.
Mas o jogo seguiu, como uma luta de alto nível de MMA, com pura trocação, sem medo.
Com os dois times sabendo o que fazer, com sincronia de movimentos.
E o improviso dos dribles.
Foi assim que Lamine Yamal, aos 20 minutos, deixou Rabiot desorientado com uma ginga e bateu no ângulo de Maignan, 1 a 1.
Os dois times adiantaram seus homens de meio.
E a troca de passe, com ataques em bloco, despertava um sentimento de irritação aos brasileiros.
A comparação com a insegurança, falta de coordenação, falta repertório ofensivo com o time de Dorival era instintivo.
Os espanhóis conseguiram a virada
Dani Olmo, que ganhou uma vaga no time, graças à contusão de Pedri, ficou com uma sobra da defesa francesa.
Driblou Tchouaméni e bateu forte.
A bola desviou em Koundé e foi para as redes.
Aos 24 minutos, 2 a 1, para a Espanha.
A partir daí o que se viu um duelo franco.
Com o time que era atacado voltar com todos seus jogadores, fechando os espaços para os adversários.
E roubando a bola, buscando contragolpear em velocidade.
Vale muito lembrar que Deschamps está na Seleção da França desde 2012.
São 12 anos seguidos.
Já perdeu a Eurocopa em casa, caiu no Mundial de 2014, como no de 2022.
Venceu a Copa da Rússia em 2018.
A França virou uma potencia nas suas mãos, time intenso, marcação rígida, com variações táticas e espaço para o talento na frente.
A Espanha escolheu Luis de la Fuente, que comandou suas seleções de base desde 2013.
Em 2022 assumiu o time principal.
Na Olimpíada de 2020 tinha sete atletas que estão no grupo nesta Eurocopa.
Ele é adepto também do time com muita marcação nas intermediárias.
E exige contragolpes mais racionais, com troca de passes, deslocamentos.
Mas tudo concatenado, estudado.
Os jogadores das duas seleções não precisam, muitas vezes, nem levantar o olhar.
Sabem onde estão os companheiros.
Pachecos de plantão vão lembrar, que em março, o Brasil empatou com a Espanha em 3 a 3. Mas vão se esquecer, de propósito ou não, que o time de Luis de la Fuente estava desfigurado taticamente, com vários testes, no segundo tempo. E o time de Dorival, que estava jogando o amistoso como se fosse um final de Copa, empatou em um pênalti nos acréscimos.
O Brasil está muitos degraus abaixo de franceses e espanhóis.
Depois de desperdiçar quase dois anos esperando Carlo Ancelotti e fazendo o Brasil passar vexames com Ramon Menezes e Fernando Diniz, Dorival assumiu e também montou uma equipe que fracassou feio na Copa América.
Em vez de prometer que muitos terão de ‘engolir’ sua Seleção, ele precisa estudar a Eurocopa.
Já que a CBF não consegue contratar um treinador de alto nível europeu, que o nosso treinador saiba copiar o que mais moderno acontece no futebol mundial.
E não custa também as semifinais da Copa América.
E entender o motivo que fez o Brasil estar atrás da Argentina, Colômbia, Uruguai.
E Canadá...