Encurralado, Diniz arrisca tudo contra a Argentina. Time escancarado. Previdente, CBF acalma dirigentes e garante que Ancelotti vem
Acumulando fracassos contra Venezuela, Uruguai e Colômbia, Diniz sabe que não vai ficar. Mas quer provar sua tese ofensiva. E escancara o Brasil diante da Argentina, hoje no Maracanã. O risco é enorme
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Situações surreais, hoje, no Maracanã.
Diante dos fracassos da seleção brasileira de Fernando Diniz, empate com a Venezuela e derrotas contra Uruguai e Colômbia, já se antecipando a novo fracasso, contra a Argentina, a cúpula da CBF já tomou providências.
E fez chegar aos presidentes de federações e principais aliados que não se preocupassem. Porque Diniz não ficará de maneira alguma após junho de 2024.
O presidente Ednaldo Rodrigues teria até provas por escrito de que o italiano comandará a seleção no fim da temporada europeia no próximo ano. Apesar dos rumores de que o Real Madrid acena com a prorrogação de contrato por dois anos, Ancelotti tomará as rédeas do time da CBF até o final da Copa dos Estados Unidos, em 2026.
Sabendo dessa situação, Fernando Diniz tomou uma decisão.
Se for para sair, não seguir mais no comando da seleção, vai fazer a equipe jogar do seu jeito, no mais temido confronto destas Eliminatórias: enfrentar a Argentina de Messi, no Maracanã.
Para Diniz será "tudo ou nada".
Ou ele se consagra, montando uma equipe escancaradamente aberta, com quatro atacantes e apenas dois jogadores de marcação no meio-campo, e conseguindo uma vitória marcante, ou passa vexame, diante do compactado, vibrante e reativo time argentino.
Ao optar por Raphinha, Rodrygo, Gabriel Jesus e Martinelli, Diniz dá sua maior cartada. Foi com essa formação tática 4-2-4 que o Brasil quase foi goleado pela Colômbia, na última quinta-feira, quando perdeu por 2 a 1. Mas sofreu nada menos do que 23 arremates, com o time completamente aberto.
"Eu não enxergo o futebol da maneira que vocês enxergam, que se colocasse mais um jogador, um volante ou meia o time ficaria mais protegido. Não encaro assim. O Brasil na Copa do Mundo jogou com uma formação parecida.
"O Neymar, que também é atacante, dois pontas abertos, um centroavante, e o Paquetá, com característica mais ofensiva até do que o Bruno Guimarães. Tratam o quarteto como uma coisa inovadora, coisa que não é. O que muda é que tem um novo jeito de jogar, com mais agressividade, e a equipe vai se adaptando, isso leva um pouco de tempo", tentou se justificar Diniz, ontem, na sua entrevista coletiva obrigatória, antes do confronto.
A maior crítica dos presidentes de federações é exatamente essa: para impor a sua maneira de jogar, Diniz precisa de muito tempo. Foi assim no Fluminense, único clube da elite que conseguiu ser campeão. Levou quase dois anos, treinando todos os dias, para fazer os jogadores entenderem a maneira com que queria o time atuando.
Os convocados da seleção chegam da Europa, onde atuam em equipes diferentes, e nunca jogaram em um esquema tão aberto, com o meio de campo tão sem marcação, como o adotado por Diniz.
A Argentina atua de maneira muito mais equilibrada. Scaloni faz questão de preencher o campo. A estratégia é lutar por cada metro do gramado. A distribuição dos seus atletas é básica: 4-2-1-2-1. Ou seja, cinco jogadores ficam circulando pelas intermediárias, setor em que o Brasil deverá ter dois atletas: André e Bruno Guimarães.
De Paul, Enzo Fernández, Mac Allister, Messi e Dí Maria circularão pelo meio-campo. Para que Lautáro Martínez possa enfrentar a zaga brasileira.
Diniz aposta no talento individual, no improviso, na velocidade, na explosão de Rodrygo para servir Raphinha, Gabriel Jesus e Martinelli.
Os laterais brasileiros têm sido pontos fraquíssimos do time de Diniz.
Emerson Royal e Carlos Augusto defendem mal e mostram muitas deficiências ao atacar.
Diniz sabe que tudo mostra que será seu último jogo oficial como treinador da seleção. Antes da Copa América, quando Ancelotti deverá assumir, só amistosos. Em março de 2024, contra a Inglaterra e a Espanha.
Diante da Argentina, a derradeira partida de Diniz no Brasil.
O técnico, que é psicólogo, tentou aparentar tranquilidade ontem, diante da sua "despedida" da torcida brasileira como técnico da seleção.
"Estou muito bem. Eu não fico pensando que é o último jogo. Para mim, é o grande jogo, os dias que tenho para treinar é o que tenho para fazer o melhor possível. Minha conexão com o presidente é muito boa, sinceridade desde o primeiro momento. Tenho que fazer o melhor que posso. Desafio está posto, oportunidade muito grande. Todo mundo sonha estar na seleção. Para mim é um grande desafio, me sinto bastante feliz e honrado."
Por trás de suas declarações previsíveis, há o seu desejo maior, antes de deixar o lugar para Carlo Ancelotti.
O de mostrar que seu esquema não é utópico para a seleção.
E vai para o "tudo ou nada" justo com a seleção campeã mundial.
Com Messi também provavelmente se despedindo dos gramados brasileiros.
Ou Diniz se consagrará hoje à noite.
Ou o Brasil sofrerá novo fracasso.
Não haverá meio-termo.
Uma derrota poderá jogar o Brasil na zona da repescagem nas Eliminatórias.
A seleção jamais passou por tal vexame...
Brasil e Argentina se enfrentam no Maracanã com muito mais que os três pontos em jogo
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