Depressão. Não é fácil para Edson. Depois de ter sido o semideus Pelé
Edinho, seu filho, falou o que muitos já sabiam. O melhor jogador de todos os tempos está recluso. Sem forças para andar. Depressivo. É compreensível
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Ele está bastante fragilizado em relação à mobilidade."
"Fez o transplante do quadril e não realizou a reabilitação adequada, ideal."
"Então, ele está com esse problema, que acaba acarretando uma certa depressão."
"Imagina, ele é o rei, sempre foi uma figura tão imponente e hoje ele não consegue mais andar direito."
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"Ele fica muito acanhado, muito constrangido."
"Não quer sair, se expor, estar na rua. Fazer praticamente nada que tenha que sair de casa."
"Está muito acanhado, recluso."
Depressão, acanhado, constrangido, recluso.
Palavras que Edinho escolheu para definir o pai, Pelé, e sua atual situação, aos 79 anos.
Suas definições repercutiram pelo mundo.
O melhor jogador de todos os tempos 'em depressão'.
Recolhido em uma cadeira de rodas.
Longe de todos.
Edinho ficou assustado.
Geralmente, os filhos não têm noção real da importância do que representam.
Quando percebeu o que havia feito, ele tentou voltou atrás.
E falou ontem que foi 'alfabetizado em inglês', daí ter usado palavras fortes demais.
Só que, evidente, as frases foram significativas demais.
Óbvio que a segunda entrevista de Edinho não foi levada em consideração.
A assessoria de imprensa de Pelé tratou de divulgar uma nota oficial.
Para tentar amenizar o constrangimento.
"Obrigado por suas orações e preocupações. Eu estou bem. Estou completando 80 anos este ano. Eu tenho meus dias bons e maus. Isso é normal para pessoas da minha idade. Não tenho medo, sou determinado, sou confiante no que faço."
"Na semana passada, tive a honra de me encontrar com o presidente da CBF no estúdio em que eu estava gravando meu documentário. Eu tive duas sessões de fotos no mês passado para campanhas que utilizam a minha imagem e testemunho."
"Tenho vários eventos futuros agendados. Eu não evito cumprir compromissos da minha sempre movimentada agenda."
"Continuo aceitando minhas limitações físicas da melhor maneira possível, mas pretendo manter a bola rolando."
"Deus abençoe todos vocês."
A 'nota oficial' confirma o que todos sabem.
A imagem de Pelé continua valiosíssima.
E muito explorada.
Quanto ao seu estado físico, ele segue preso, a maior parte do tempo, à uma cadeira de rodas.
Pessoas que foram muito próximas de Pelé sabem.
Ele sempre se orgulhou do físico privilegiado com que nasceu.
Misturava explosão muscular, velocidade, força, impulsão.
Foi o atleta perfeito para jogar futebol.
Acrescido de um talento espetacular.
Casou três vezes.
Teve inúmeras namoradas.
Inclusive Xuxa que, por coincidência, revelou essa semana como era seu namoro com Pelé.
"Na minha primeira relação, que foi com o Pelé, eu era traída de cabo a rabo. Muito, mas muito. A ponto de olhar pra ele e uma vez ele estar com batom na boca vermelho e eu não estava de batom."
"Pra ele era normal."
"O Pelé ficou com fulana de tal. Guarda bem esse nome (...) Ele falava assim: 'As mulheres querem ficar com o Pelé'. Eu era muito novinha e não tinha experiência nenhuma. O que ele falava eu achava que era verdade. Ele foi meu quase primeiro tudo. E eu achava que era normal trair."
Pelé e sua assessoria de imprensa não desmentiram a apresentadora.
Nas entrevistas que deu ao longo da vida, sempre fez questão de destacar essa sua facilidade para 'namorar'.
Um bom exemplo foi a entrevista que deu aos 71 anos, explicando sua propaganda para um medicamento contra disfunção erétil.
"Nunca usei Viagra, nunca precisei, só fiz promoção."
"Na propaganda, eu pedi que quem precisasse fosse procurar um médico."
"Mas não é o meu caso."
A reviravolta começou em 2012, quando Pelé não suportava mais as dores no quadril. Provocadas por artrose. Provavelmente pelo esforço sobre-humano na carreira.
As sessões de fisioterapia não resolviam mais.
E ele decidiu se submeter à cirugia do quadril, colocar um artificial.
A operação foi feita por Roberto Dantas Queiroz. Presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Uma das referências no mundo em cirurgias de quadril.
A cirurgia aconteceu no hospital Albert Einstein, um dos melhores da América Latina.
Pelé acreditava que ficaria 'normal'.
Mas ele começou a sentir dores na lateral da coxa. Roberto Dantas Queiroz fez inúmeros exames e chegou à conclusão que o problema era fibrose, uma hipercicatização que estava dificultando os movimentos.
Queiroz indicou uma nova cirurgia para retirar esses tecidos.
Pelé não quis ouvi-lo.
Decidiu fazer uma nova cirurgia, desta vez nos Estados Unidos.
Roberto Dantas insistiu que seria um erro e que poderia ter consequências graves.
E foi o que aconteceu, em 2016, Hospital for Special Surgery.
"Estou pronto e sem dores. Posso até jogar a Olimpíada, como um dos jogadores com mais de 23 anos", tentava brincar.
Mas, infelizmente, a tese de Queiroz estava certa.
Pelé não tem estabilidade para andar.
Desde então passou a passou a usar 'andador'.
E cadeiras de rodas.
Daí a 'depressão', o recolhinento.
Compreensível para quem se viu como um 'semideus'.
A marca 'Pelé' vale muito dinheiro.
É sinônimo de sucesso, melhor de todos os tempos.
Não combina com tristeza, constrangimento.
Muito menos o legado que o ex-jogador quer deixar.
Daí, a necessidade de desmentir.
Edinho, as fotos em cadeiras de roda...
A dor de se enxergar um'ser humano' no fim da vida.
Como ele tanto gostou de fazer na carreira...
O melhor é tratar Pelé como um personagem.
Imortal, inatingível, semideus.
Separá-lo de Edson Arantes do Nascimento.
Um senhor às portas dos 80 anos.
Que tem problemas como todo idoso.A ONU aponta que são 705 milhões com mais de 60 anos.
Provavelmente todos tiveram seu ápice na vida na juventude.
Edson Arantes não está sozinho.
Não há motivo para se esconder do mundo.
Basta se assumir com um simples mortal.
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