A recompensa de Calleri para sete meses de dores lancinantes. Fará a operação de que precisava desde fevereiro
Wesley Santos/SPFCSão Paulo, Brasil
25 de fevereiro, noite no Morumbi.
São Paulo e São Bernardo.
Bola levantada na área.
Dividida.
Matheus Salustiano, com seu 1,82 metro e 76 quilos, subiu para cortar a bola e, sem querer, caiu com todo o seu peso depositado no pé direito.
E ele atingiu em cheio o tornozelo de Calleri, que urrou de dor.
Salustiano torceu o joelho e teve de ser substituído.
Mas a contusão do argentino foi muito pior.
Ele sofreu estiramento fortíssimo de ligamentos no tornozelo direito.
Os médicos foram claros para o jogador.
Poderia sofrer uma cirurgia para a reconstituição dos ligamentos.
Mas ele ficaria entre três e quatro meses parado.
A temporada ficaria comprometida.
O jogador perguntou se era possível seguir jogando sem operar. Esperar pelo fim da temporada.
Os médicos alertaram que ele sofreria muitas dores, mas que seria possível.
Com tratamento intensivo, fisioterapia e proteção extra no tornozelo durante as partidas.
Apesar do prejuízo técnico, Calleri não queria ficar sem jogar futebol por conta da separação da sua namorada, Micaela Fusca, que voltou a viver na Argentina.
Os médicos também fizeram questão de avisar que uma entrada violenta de um adversário ou uma violenta torção poderiam custar caríssimo. E seus ligamentos, ser rompidos de vez.
Mas ele foi corajoso.
E quis seguir atuando, mesmo sentindo dores lancinantes.
Ou seja, faz sete meses que Calleri poderia ter rompido de vez os ligamentos.
O rendimento do jogador, lógico, baixou.
Ele depende muito de sua força física para poder atuar.
E, no futebol moderno, um décimo de segundo faz diferença nas divididas, nas jogadas de gol.
O argentino, para a preocupação de quem sabia de sua contusão, continuou firme nas divididas, um verdadeiro guerreiro.
Ele estava obcecado em fazer o São Paulo campeão de uma grande competição em 2023.
Acreditava que fosse a Sul-Americana.
A eliminação do São Paulo, no Morumbi, contra a LDU foi especialmente frustrante para ele.
Com direito a muitas críticas, pelo futebol baixo que mostrou.
Até porque os jornalistas não sabiam da gravidade de sua contusão.
E o argentino apostou tudo, de vez, na Copa do Brasil.
Com dores cada vez mais fortes, ele repetiu o que fez Ronaldo Fenômeno na Copa de 2002.
Ele tinha fortes dores no músculo adutor da coxa direita. E, para mudar o assunto, diminuir as cobranças, fez o que ele mesmo batizou de "corte ridículo". O que ficou conhecido como "Cascão", que teve a imitação de uma legião imensa de crianças, há 21 anos.
Calleri não foi tão radical.
Preferiu a descoloração.
Que também ficou feia e chamou a atenção da mídia, que não olhava para o seu tornozelo direito.
Daí sua alegria imensa no Maracanã, ao marcar o gol da vitória, na primeira partida final, contra o Flamengo.
E a comemoração emocionada, ontem, no Morumbi, com o título inédito para o São Paulo.
"Estou muito fodi... do tornozelo. Meu objetivo era ser campeão, consegui, dei a vida. Estou machucado desde o dia do São Bernardo, acho, em março. Ninguém sabe. Dei a vida por esse clube e acho que mereço parar e me recuperar bem.
“Depois da final Sul-Americana [contra o Independiente del Valle], fui muito criticado, me doeu muito, muitos torcedores do São Paulo deixaram de acreditar em mim.
"Mas, um ano depois, mostrei que o Calleri está vivo e ganhou a Copa do Brasil. Ninguém sabe, mas estou machucado há seis, sete meses. Vou parar de jogar agora e vou operar.
“Faz tempo que lesionei o tornozelo, não me recuperei bem. Com o tratamento conservador, deu para jogar, mas me atrapalha demais. Já falei para todo mundo que, se fôssemos campeões, ia tentar arrumar o tornozelo. É o que vou fazer”, afirmou.
“Não sei [quanto tempo ficará fora]. Vou ver alguns especialistas, mas o clube sabe que vou fazer o que tenho que fazer. Tenho que pensar na minha carreira. Claro que valeu a pena. Fomos campeões."
A previsão é que Calleri opere o mais rápido possível.
Talvez nesta semana.
Ele não quer mais jogar com dores, arriscar seus ligamentos.
Ainda mais depois que conseguiu o grande objetivo.
"Deu a vida" para o seu time "do coração" ser campeão da Copa do Brasil.
Aos 30 anos, Calleri confirma.
É um dos grandes guerreiros a vestir a camisa do São Paulo...
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