Deboche. Bruno volta e é capitão. Rio Branco envergonha o Brasil
Estará em campo hoje, no Acre. Mesmo ainda cumprindo pena em regime pelo assassinato de Eliza Samudio. Direção do Rio Branco não se importa
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Capitão tem de ser mais do que líder.
"Mas exemplo de vida.
"Dentro e fora de campo.
"Representa o caráter do clube, da seleção.
"Ter a faixa no braço é enorm responsabilidade."
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A definição do que significa ser capitão de um time de futebol me foi dada pelo mais marcante deles, Carlos Alberto Torres.
Mesmo com Pelé, Gerson, Piazza líderes naturais, ele foi escolhido pelos companheiros e por Zagallo como o capitão da Seleção Brasileira, em 1970, na conquista do tricampeonato mundial.
Ele já tinha a faixa no excepcional Santos, com o melhor jogador do mundo, Pelé.
Em 1970, o Brasil vivia o 'auge' da Ditadura Militar. E a vida de Carlos Alberto Torres foi investigada para haver a certeza de que ele poderia representar o caráter do povo brasileiro.
50 anos depois, o Rio Branco, do Acre, vai por um caminho inacreditável.
Bruno, condenado a 22 anos e três meses de prisão, por homicídio triplamente qualificado e sequestro do próprio filho.
A justiça obteve provas de que o jogador planejou a morte e o desaparecimento do corpo da modelo Eliza Samudio, mãe do seu filho Bruno, em 2010.
Ele cumpriu cerca de nove anos de detenção.
E, depois, de a sociedade rejeitar sua volta ao futebol em vários clubes, ameaçando patrocinadores de boicote, ele encontrou o empresário Valdemar Neto, presidente do Rio Branco do Acre.
Clube minúsculo do cenário nacional, Valdemar queria a atenção do Brasil. Fosse qual fosse a maneira. E por isso contratou Bruno.
Perdeu o único patrocinador que o clube tinha.
A Rede Arasupe de Mercados.
Clientes avisaram que não frequentariam suas lojas enquanto Bruno fosse goleiro do Rio Branco.
A Rede Arasupe deixou o clube.
Mais de 90 garotos, a maioria muito pobre, que recebiam refeições da empresa, foram prejudicados, deixaram de almoçar e lanchar no Rio Branco.
Bruno escolheu bem o estado onde foi jogar.
Os grupos feministas protestaram de forma insipiente, sem repercussão no restante do país.
Sem força para pressionar a direção do Rio Branco.
A reação negativa foi menor do que Valdemar e o goleiro esperavam.
E Bruno fará voltará hoje ao futebol.
Contra o Náuas, na primeira rodada do Segundo Turno do Campeonato Acreano.
Na Arena Acreana, vazia, por conta da pandemia.
Não bastasse ter como goleiro um assassino, o Rio Branco foi além.
Para desprezo da sociedade, do próprio futebol, o técnico português, João Mota, decidiu que Bruno será o capitão do time.
"O capitão à mim não diz nada. É mais um jogador de campo, quem manda na minha equipe sou eu. É alguém que, perante a equipe, mais relacionadamente ao árbitro e a coisas internas, é o capitão que fala em nome da equipe. Pode até ser um jogador suplente, só que em campo vai ter que entrar um.
"Eu tinha falado que poderia não sobrecarregar o Bruno com essas situações, mas a coisa acalmou, já não tá essa polvorosa toda que estava no início, então achei que, por uma questão de respeito dos colegas todos, que têm respeito por ele, achei interessante ele ser capitão. Mas sempre disse que poderia ser e poderia não ser. Nunca defini isso como uma prioridade, até porque pra mim isso não diz muito."
A ignorância de João Mota é indecente.
Bruno não só usará o uniforme.
Mas representará um clube de 101 anos, sua trajetória, sua torcida.
Alguém responsável por tirar a vida de outra pessoa.
Da mãe de seu filho.
Algo pesado demais, mesmo para o Acre.
Segundo estado em feminicídios no Brasil.
Valdemar Neto e João Mota desrespeitam o clube.
O futebol.
Desprezam a história do Rio Branco.
Esse é o legado que escolheram para suas vidas.
Fazer de um assassino, ainda cumprindo pena, não só o goleiro titular, mas o capitão do time.
Bruno é o exemplo de jogador, de homem, de vida que os dois acreditam representar o clube acreano.
O Rio Branco envergonha o país...
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