Como o Internacional desprezou, e perdeu, Renato Gaúcho
A infância e juventude do maior ídolo da história do Grêmio. Seu talento com a bola nos pés mudou o destino de sua família, dos seus 12 irmãos.
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Aos dez anos, não teve dúvidas.
Estava cansado de ver o pai não poder sequer pagar o aluguel das casas simples que moraravam. As mudanças por falta de pagamento eram constantes.
Doía a agonia da amada e dedicada mãe para alimentar, cuidar, mandar para a escola, tratar dele e dos 11 irmãos.
Tomou uma decisão. Enfrentaria as madrugadas geladas de Bento Gonçalves e pediria emprego na padaria Favaretto. O garoto foi aceito e logo estava acordando às cinco da manhã para entregar ou ainda mais cedo para fazer o pão. Para se divertir, gostava de sair pelas calçadas driblando marcadores imaginários como uma laranja.
Entregava todo o dinheiro para Maria, sua mãe. O pai, Francisco, pedreiro, não tinha como recusar a ajuda.
Aos 14 anos, queria ganhar mais. Não queria ser padeiro. E foi pedir emprego na fábrica de móveis Todeschini. Lá, tinha duas funções. A primeira, carregar e montar móveis. A segunda, e mais importante, jogar como ponta direita em torneios amadores. E
Era o grande atacante da várzea de Bento Gonçalves.
Francisco queria ver o filho jogando pelo seu amado Internacional. Amigos da infância garantem que Renato Gaúcho era colorado também. E decidiu um dia fazer o sonho do pai. Foi participar de uma peneira no Beira Rio.
"Eu fui aprovado. Estava pronto para jogar na base do Internacional. Mas os dirigentes disseram que não havia lugar para mim na concentração. Só queria um lugar no alojamento. Mas disseram que estava cheio. Eu teria de me manter em Porto Alegre. Só que não tinha jeito. Eu não tinha dinheiro nem para comprar um cachorro quente, quanto mais bancar um aluguel. Voltei para Bento Gonçalves."
Confira tudo sobre Copa 2018 no R7 Esportes
Ninguém da direção do Inter foi atrás do talentoso atacante.
Desprezo que provocaria muito arrependimento.
A decepção do pai ainda iria aumentar muito. O filho a esta altura já estava treinando no Esportivo, time principal da cidade. Valdir Espinosa havia ficado impressionado com o talento e a personalidade do garoto que jogava no juvenil. O fez atuar entre os adultos. E quando o treinador foi contratado pelo Grêmio, fez questão de levar o seu principal jogador.
Renato Gaúcho tinha 17 anos, para poder se transferir precisava da autorização de um parente adulto, um responsável. Ele foi com o contrato para o pai Francisco. Ao saber que o filho iria para o maior rival, ele se negou a assinar. Foi um irmão mais velho que deu a autorização.
Leia também
A esta altura, o amor pelo Internacional havia morrido.
Virou rivalidade profunda, já que o clube lhe virou as costas.
Renato iria se dedicar a corpo e alma à equipe que lhe oferecia casa, comida e salário.
O Grêmio revolucionou sua vida.
E ele revolucionou a história do Grêmio.
Quando ganhou o primeiro título gaúcho, nos juniores, levou orgulhoso a faixa para casa, em Bento Gonçalves. O pai se recusou até a vê-la. Não quis tocar. Tamanho era a amargura por ver o filho fazer sucesso no rival do seu time de coração. Com certeza se lembrava que o Internacional o perdeu por não o apoiar, não acreditar no seu futebol.
Por isso, cada Grenal para Renato é muito especial.
R7 Esportes no Facebook. Curta a página!
Ao conquistar o Mundial de Clubes no Japão, em 1983, ele fez o que sempre desejou. Deu uma casa a cada um dos 12 irmãos com a premiação que ganhou. E seguiu ajudando a família. Sua mágoa foi que o pai Francisco morreu logo que começou a jogar no Olímpico. Não acompanhou a carreira vitoriosa do filho. Nem dentro ou fora do campo.
Os olhos marejam de tristeza ao tocar no assunto.
Renato ao menos seguiu muito ligado à mãe Maria. Ela o acompanhou muito de perto, até falecer, em 2010. A relação próxima foi transferida para a filha Carol, que o acompanha onde for.
Tem muito orgulho da sua história no Grêmio. Da estátua que será inaugurada no dia 15 de setembro, em sua homenagem. Da trajetória na Seleção Brasileira. Na sua transformação em um dos maiores treinadores do país, natural candidato a sucessor de Tite.
Mas seu prazer maior é outro.
A mudança na perspectiva de vida que proporcionou à família.
Renato Gaúcho é mais um milagre do futebol.
E um dos maiores erros de avaliação da história do Internacional...
Injustiçadas? As grandes seleções que não foram campeãs do mundo:
Quando o assunto são grandes seleções que não foram campeãs do mundo, a primeira que vem na cabeça de todo brasileiro é a da Copa 1982. Algumas pessoas até hoje têm pesadelos com Paolo Rossi, que fez os três gols da Itália na eliminação nas quartas de ...
Quando o assunto são grandes seleções que não foram campeãs do mundo, a primeira que vem na cabeça de todo brasileiro é a da Copa 1982. Algumas pessoas até hoje têm pesadelos com Paolo Rossi, que fez os três gols da Itália na eliminação nas quartas de final do Mundial