'Burro, burro, burro.' O coro da torcida do líder do Brasileiro a Bruno Lage. Egocêntrico, técnico do Botafogo corre risco de demissão
Torcida e imprensa carioca pressionam o Botafogo pela demissão de Lage. Com o português, o clube vem jogando mal, perdendo a vantagem que tinha na liderança do Brasileiro. Ontem, foi xingado de 'burro', sem piedade
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Burro, burro, burro."
Foi o maior coro ofensivo neste Campeonato Brasileiro de 2023.
Voltado pela torcida do Botafogo, clube líder do torneio nacional, a Bruno Lage.
Sim, os fãs do primeiro colocado desprezavam seu técnico.
O português ouvia e ainda teve a coragem de agradecer (ou ironizar) aos torcedores que lotaram o estádio Nilton Santos, ontem à noite, e acompanharam, revoltados, o empate em 1 a 1 com o Goiás. Resultado que consolida uma derrocada assustadora.
Na 15ª rodada do Brasileiro, a vantagem do time carioca na liderança era nada menos do que 15 pontos.
O Botafogo era comandado, com muita competência, por Luis Castro.
Agora, na 25ª rodada, a diferença para o segundo colocado é menos da metade, sete pontos.
Faltam 13 rodadas para o Campeonato Nacional acabar.
E a certeza que havia, de que o Botafogo, depois de 28 anos, voltaria a conquistar o desejado título, não existe mais.
A culpa está personificada em Bruno Lage.
O português, que veio a peso de ouro, cerca de R$ 1,6 milhão mensal até dezembro de 2024, não conseguiu dar o padrão intenso, vibrante, arrasador do time montado por Castro. E não só com os mesmos jogadores. Com a equipe reforçada.
Ganhou, por exemplo, Diego Costa, jogador com carreira consagrada: Atlético de Madrid, Chelsea e seleção espanhola.
A decepção com o treinador que ganhou o Campeonato Português em 2018/2019, com o Benfica, é enorme.
Há pressão da mídia carioca para que ele seja demitido.
E que John Textor, bilionário americano, recoloque o ex-jogador Caçapa, que substituiu Castro, disputando quatro partidas e vencendo as quatro.
Utilizando a simples fórmula de repetir a estrutura tática, os jogadores e a maneira de comandar os atletas.
Era, sim, uma cópia assumida de Castro. E estava dando muito certo.
Mas Textor queria status.
E foi atrás de Lage.
Treinador campeão português com o Benfica, mas que havia fracassado na Premier League, demitido do pequeno Wolverhampton.
Mas 'Liga Inglesa é Liga Inglesa', para Textor.
Conseguiu convencer Bruno a trabalhar no Brasil.
Foi além dos dirigentes do Atlético Mineiro e Corinthians, que não conseguiram fazê-lo comandar seus times. Mesmo oferecendo muito dinheiro.
Lage assumiu contra o Santos, em um empate em 2 a 2. O Botafogo manteve 11 pontos de vantagem na primeira colocação do Brasileiro.
Terminou o primeiro turno alcançando o recorde de pontuação: 47 pontos.
Parecia que o Brasileiro estava decidido.
O clube estava com 19 partidas sem perder, quando Lage, no jogo decisivo das quartas da Sul-Americana, decidiu entrar com oito reservas diante do Defensa y Justicia. E o time foi eliminado da competição, que tinha enorme chance de vencer. Perdeu por 2 a 1.
A perda de credibilidade diante da imprensa e da torcida botafoguense começou aí.
Bruno começou a impor a "sua" maneira de enxergar futebol. Em vez de intensidade, uma maneira mais lenta de jogar, trocando jogadores de posição, espaçando mais a equipe. Dificultando principalmente o ataque, que parou de ter tantas oportunidades nos jogos.
E a defesa, com recomposição menos rápida, se tornou mais vulnerável.
Com menos poder de conclusão e defendendo pior, os adversários logo perceberam que era um 'outro' Botafogo. Mais frágil.
Os pontos de vantagem passaram a ser perdidos, desperdiçados.
No empate de ontem, diante do Goiás, time que luta para escapar da zona do rebaixamento, Lage chegou à heresia de colocar Tiquinho, seu melhor jogador, no banco de reservas.
Só depois de ser muito xingado e ouvir o estádio inteiro gritar o nome de seu artilheiro, Bruno fez Tiquinho entrar em campo. Ele marcou um gol belíssimo que fez o Botafogo escapar de mais uma derrota. 1 a 1.
Nas últimas quatro partidas, 12 pontos em disputa. E o Botafogo só conquistou um. O clube ainda tem sete pontos de vantagem na primeira colocação do Brasileiro.
Só que o desconforto é imenso em relação a Bruno Lage.
Nas coletivas, ele vem se mostrando cada vez mais desequilibrado.
Já colocou o cargo à disposição da diretoria.
Deu soco na mesa.
Falou palavrões, de forma artificial, pensada, sem naturalidade.
Apenas para tentar impressionar os jornalistas.
Mas ele já avisou a Textor, não pedirá demissão.
Se for demitido, quer seus salários até dezembro de 2024, como foi combinado.
Ao contrário do que acontecia com Castro, que montou o time, escolheu cada atleta, Lage não conta com o apoio explícito dos jogadores.
Caçapa, contratado de Textor, foi treinar outra equipe que pertence ao americano, a RWD Molenbeek, da Segunda Divisão da Bélgica.
Basta o americano mandar, que ele voltará ao Botafogo.
Lage nunca esteve tão pressionado no Brasil.
Com a influente mídia carioca e a torcida do clube contra ele.
Mas garante que vai continuar.
Só que, no domingo, há um jogo de alto risco, nova derrota pode mudar todo o panorama.
O clássico contra o Fluminense pode valer sua sobrevivência.
O descontentamento com o português é algo impressionante.
E o técnico líder do Brasileiro pode ser demitido.
Ele está pagando o preço por não fazer o óbvio.
Seguir a fórmula que estava dando muito certo com Luís Castro.
E que ele levou um ano e meio para desenvolver.
Lage paga por sua teimosia egocêntrica...
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