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'Será difícil surgir estrela olímpica em Tóquio 2020', diz dirigente

Prejuízo financeiro dos clubes tem se tornado uma ameaça real para os atletas, além dos atrasos na preparação por causa da pandemia

Olimpíadas|Eugenio Goussinsky, do R7

Michael Phelps é uma das lendas olímpicas
Michael Phelps é uma das lendas olímpicas

Homem-relógio. Locomotiva Humana. Tubarão. Filho do Vento. Raio. Em Jogos Olímpicos, o homem se mistura às forças da natureza, da mecânica, da biologia, do próprio universo. Desafia a gravidade, as leis de Newton e chega ao pódio não só como um exemplo de superação mas como um símbolo da relação entre o ser humano e o seu tempo.

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Paavo Nurmi, Emil Zatopek, Mark Spitz, Michael Phelps, Usain Bolt, todos eles donos dos apelidos citados, acrescidos de Larissa Latynina, Nadia Comaneci e alguns outros nomes se tornaram lendas por atingirem limites que apontavam para os próprios limites humanos. A serem batidos.

Como no caso de Jim Hines, após ter conquistado a façanha de, em 1968, ser o primeiro homem a correr os 100m abaixo dos 10 segundos e, décadas mais tarde, Usain Bolt ter conquistado tempos muito menores, o que, de forma alguma, tira o mérito de Hines. Tudo se coloca em uma escala evolutiva e a Olimpíada é um registro disso.


Nesta pandemia de coronavírus, um novo desafio está se formando. Haverá a possibilidade de, mesmo com tantas dificuldades de preparação, adiamento, ameaça de desemprego, surgir alguma nova lenda em Tóquio 2020, a ocorrer em 2021?

Foi exatamente sobre isso que o especialista em Esportes e candidato à presidência do Comitê Olímpico Brasileiro, Alberto Murray Neto, conversou em uma teleconferência com médicos, dentro de um dos comitês que estruturam sua candidatura. E, como em todos os Jogos, a tendência é a de que o homem continue a ser reflexo do mundo em que ele vive.


"Pensando globalmente, acho que de fato a dificuldade de performance extraordinária vai ocorrer na próxima Olimpíada. Alguns países estão treinando com 60%, 70% de sua capacidade. E outros mais pobres estão totalmente parados. Esse desnível, que já ocorre em ocasiões normais, vai se agravar e vai dificultar o surgimento das chamadas lendas do esporte", afirma.

Esperança e responsabilidade


Ele ressalta, porém, que, apesar de mais difícil, não é impossível que um novo gigante esportivo desponte.

"Há um fator que não se deve ser deixado de lado: quem é extraordinário surpreende, justamente em situações de adversidade. Esses nomes talvez apareçam em menor número, mas podem entrar para a história como atletas que superaram as dificuldades de uma pandemia. Essas sagas fazem parte do esporte e não podem ser descartadas", diz.

Murray já viu de tudo em Olimpíada. Ainda menino, estava em Munique no dia do fatídico atentado, que matou atletas da delegação israelense, em 1972. Seu avô, Sylvio de Magalhães Padilha, então presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e membro do COI (Comitê Olímpico Internacional), até se ofereceu em troca dos reféns, em meio às negociações que não surtiram efeito.

Agora, Murray, que é advogado e foi competidor em atletismo, acredita que a situação seja menos grave, no tocante à Olimpíada.

"A questão agora é relativa à saúde de milhões, mas o inimigo é invisível e se busca controlá-lo. Naquele momento, a situação foi surpreendente, motivada pelo terror político e que provocou mortes em um evento esportivo. Não se tratava de um adiamento, mas de um ataque brutal", descreveu.

Em sua proposta para o COB, do qual comandava o conselho de ética até janeiro último, ele montou uma agenda positiva, por meio de estudos, conversas com grupos de apoio formados por especialistas em várias áreas, como medicina, jurídica e financeira.

"Inicialmente, a nossa equipe havia previsto uma queda de 10% na arrecadação do COB para 2021. Com a pandemia, a queda prevista passou a ser de 50%. Mas, se atividades começarem a ser retomadas em junho, a queda possivelmente passará a ser de 20%. Com esses números, ainda assim daria para o COB trabalhar bem a preparação das equipes para os Jogos Olímpicos", garante.

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Murray ressaltou que, além do COB, os clubes, as federações e as confederações dividem responsabilidades na estrutura do esporte brasileiro. 

E são os clubes, segundo o consultor esportivo Antonio Afif, os maiores responsáveis em não permitir a destruição o projeto olímpico e esportivo brasileiro neste momento.

Para ele, o prejuízo financeiro destas agremiações, nas quais os atletas se preparam, é uma ameaça real, que precisa ser contornada, sem precipitações e atitudes desmedidas, como demissões e encerramento de atividades.

"Os clubes têm até mais recursos para se virar do que os atletas. Buscam empréstimos, negociam parcelas. Mas, e os atletas, principalmente os que ainda não são estrelas e lutam para realizar o sonho de chegar a uma Olimpíada? Além de não saberem quando poderão se preparar com toda a infraestrutura, vivem a ameaça de ficarem desempregados. É preciso tomar muito cuidado para que, neste momento, a pandemia não comprometa ainda mais o esporte no País, que ficaria prejudicado por muitos anos. É hora dos clubes assumirem essa responsabilidade, pensando no futuro", destacou.

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