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'Seleção brasileira feminina é só a 9ª melhor do mundo', diz Emily Lima

Emily Lima, técnica do Santos, também disse que não adianta ter atletas em categorias de base da seleção, se não existem competições para elas jogarem 

Olimpíadas|Carla Canteras, do R7

Emily Lima será a treinadora do time feminino do Santos até fim de 2018
Emily Lima será a treinadora do time feminino do Santos até fim de 2018

O Santos contratou Emily Lima para ser treinadora das Sereias da Vila, time de futebol feminino do clube paulista, na temporada de 2018.

O R7 conversou com a ex-treinadora da seleção brasileira e ela foi dura quando falou sobre a atual situação do futebol feminino no Brasil.

“O último ranking da Fifa colocou o Brasil no lugar que a seleção tem de estar. Em 9º do mundo. Abaixo disso, a situação é muito precária”.

Veja como foi a entrevista completa: 


R7 - Por que você aceitou a proposta do Santos? Logo depois da sua saída da seleção, você afirmou que iria para o exterior. O que fez você mudar de ideia?

Emily Lima – A ideia de ir para fora continua. Tivemos algumas propostas de seleções, só que eu e a minha comissão técnica não achamos interessante. Fiquei esperando proposta de fora. Se não aparecesse nada bom, no Brasil só aceitaria uma proposta do Santos. Sabíamos das três competições que o time iria disputar (Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro e Copa Libertadores) e como o Santos leva a sério o trabalho do futebol feminino. Recebemos a proposta e fizemos o contrato de um ano. Caso apareça uma boa proposta de fora, vamos porque nossa prioridade continua sendo essa.


R7 - O que Santos tem que os outros clubes não têm?

EL - Eu conheço a estrutura de outros clubes nacionais. Sei que algumas coisas estão mudando por causa das exigências da Fifa e da Conmebol (a partir de 2019 só poderá participar da Copa Libertadores os clubes que tiverem times de futebol feminino). Mas aqui as jogadoras já são profissionais com contratos assinados e elas têm toda estrutura para que um atleta de futebol exerça da melhor forma sua profissão.


R7 - Vamos falar agora sobre a modalidade do futebol feminino no Brasil. Entre 2013 e 2015, você trabalhou com as seleções de base na CBF. Em 2017, foi técnica da seleção brasileira principal e pode falar sobre isso. A Cristiane se aposentou. A Marta está com 31 anos. Outras atletas que construíram a época mais vitoriosa do futebol brasileiro também pararam. Você acha que temos atletas para continuar esta história?

EL - Temos, sim, jogadoras para substituir Marta, Cristiane, Formiga. Mas, se continuarmos sem competições na base, vamos ficando cada vez mais para trás. Não adianta ter categoria sub-17 da seleção e não ter competição. Precisamos colocar estas meninas para trabalhar. Muitas vezes as atletas passam do sub-17 ou até sub-15 direto para a categoria adulta. Com isso, todo o desenvolvimento de base que é necessário elas não fazem.

R7 - Elas estão preparadas para trabalhar com as adultas?

EL - Não estão. O desenvolvimento natural de uma criança vai até os 14, 15 anos e tudo acaba interrompido quando estas meninas vão para categoria principal. Elas têm de se desenvolver de uma hora para outra. Tudo fica atropelado e temos de tomar cuidado com estas meninas. Normalmente, nós das comissões técnicas perdemos muito tempo passando para estas jogadoras os ensinamentos que deveriam ser passados na base.

Emily foi a primeira mulher treinadora da seleção feminina
Emily foi a primeira mulher treinadora da seleção feminina

R7 - Você diria que a seleção brasileira de futebol feminino está em que lugar do mundo?

EL - O último ranking da Fifa colocou o Brasil no lugar que a seleção tem de estar. Em 9º do mundo. Abaixo disso, a situação é muito precária. Nós não estamos nesta situação, porque temos Campeonato Brasileiro Série A1 e Série A2, temos alguns campeonatos estaduais.

R7 - Qual foi o grande erro dos últimos anos no futebol brasileiro feminino?

EL - O fim da Copa do Brasil, em 2016. Quando a CBF acabou com a Copa do Brasil, 16 equipes ficaram sem atividades nenhuma. Porque as federações mantinham os campeonatos estaduais só para saber que time participaria da Copa do Brasil. A competição acabou e elas ficaram sem atividades.

R7 - Como o fim de uma competição afeta tanto a modalidade?

EL - Temos de fazer mais meninas jogar futebol. Com atitudes assim, estamos fazendo exatamente o contrário. Temos de pensar no desenvolvimento da modalidade. A CBF gastava R$ 10 milhões para organizar toda a Copa do Brasil feminina e pararam. Quando você pensa que só a premiação do masculino são R$ 50 milhões, dá tristeza porque é muita diferença. Por isso, também, saimos do Brasil. 

R7 - A sua saída da Seleção está resolvida?

EL - Minha saída foi muito esclarecida naquela época. A partir do momento que saí eu comecei a pensar no meu futuro. Minha vida hoje é voltada apenas para o Santos.

R7 - Você pode dizer que sua saída da seleção feminina foi melhor para sua vida?

EL - Não posso dizer se foi melhor ou não. Eu queria fazer com que a modalidade crescesse no país e não só a seleção brasileira. Acredito que a seleção é o produto final. Não consegui dar continuidade ao trabalho. Não posso descartar o que passei na seleção, porque foram momentos muito bons. Mas hoje posso dizer que estou muito feliz onde estou.

Seleção Feminina treina na Granja para Copa América
Seleção Feminina treina na Granja para Copa América

R7 - No mês de abril a seleção brasileira vai disputar a Copa América, no Chile. A competição garante duas vagas para o a Copa do Mundo. Você acredita que a seleção vai conseguir classificação?

EL - Olha eu tenho que torcer para que a seleção consiga a vaga. Não é porque não estou lá que vou torcer contra. Eu conheço muito as meninas e sei o sacrifício que elas fazem para estar na modalidade. Eu acredito que passa, porque o sul-americano é muito tranquilo. Mas no mundial, a história muda e começa a complicar um pouco. Vou continuar torcendo por elas, como sempre fiz. Mas o mundial é muito difícil.

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