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Naomi Osaka disputa Tóquio 2020 para levar espírito olímpico ao tênis

Em meio a polêmicas, grande campeã ficou de fora de torneios de Grand Slam, por estresse ligado à pressão no esporte

Olimpíadas|Eugenio Goussinsky, do R7

Naomi chegou a ser número 1 do ranking do tênis feminino
Naomi chegou a ser número 1 do ranking do tênis feminino

Foi na base da diversidade que Naomi Osaka, 23 anos, entrou para o elitizado mundo do tênis. Desde criança, ela vivenciou essa diversidade, e as dificuldades que vieram na sequência. Seu pai, Leonard Maxime François, nascido no Haiti, colocou nas filhas, Naomi e Mari, a expectativa de se tornarem tenistas famosas. Nos mesmos moldes que o pai de Vênus e Serena Williams, Richard Williams, fez com ambas.

Naomi Osaka conquistou o último Australian Open
Naomi Osaka conquistou o último Australian Open

Em 2018, Naomi foi a primeira japonesa a vencer um Grand Slam, o US Open, ao superar Serena Williams. Desde então, conquistou outros três torneios de Grand Slam, o último deles o Australian Open, no início deste ano.

Naquele momento, ela mesma viu, em Serena Williams, toda a pressão que o circuito do tênis impõe. E se solidarizou com a americana, que não concordou com a marcação do juiz e se descontrolou na quadra. Na premiação, por empatia, Naomi comemorou com discrição.

Cerca de três anos depois, foi a vez dela ter uma espécie de descontrole e, pressionada, se negar a participar da coletiva após a sua primeira partida no Roland Garros de 2021, prevista no contrato.


Punida pela organização, Naomi resolveu então deixar a competição. Foi uma forma de desabafo. Alegando depressão e uma crise emocional, ela passou a mensagem de que seu bem-estar, e o dos atletas em geral, é mais importante do que as exigências do Esporte.

Naomi, agora, já refeita deste episódio, entra para a Olimpíada com outro espírito. Tentando ficar mais leve para representar seu país, focada mais na essência do esporte do que nas responsabilidades comerciais. Na base do dito de Pierre de Coubertin, o idealizador dos Jogos na era moderna: "O importante é competir".


Claro, que, vencendo é sempre melhor, segundo ela.

"Representar o Japão nos Jogos Olímpicos e ganhar o ouro para o Japão significaria muito", disse Naomi recentemente.


Na opinião da ex-tenista Patrícia Medrado, prata nos Jogos Pan-Americanos de 1975 e por 11 anos tenista número 1 do ranking brasileiro, a cobrança excessiva tem predominado no tênis e gerado reações de ansiedade, depressão e um estresse constante nos esportistas. Portanto, reações como a de Naomi são totalmente legítimas.

"Estou ao lado dela nesta questão, ela é uma menina tímida, esses aspectos nunca são avaliados quando estamos assistindo um jogo de fora. A gente quer ver a eficácia dos golpes, os vencedores. Mas além da quadra existem seres humanos com suas questões existenciais", afirma.

Atleta mais bem paga

Nascida em Osaka, em 16 de outubro de 1997, Naomi, se tornou a esportista mais bem paga de todos os tempos, segundo a Forbes, ao faturar 37,4 milhões de dólares (R$ 190,4 milhões) em 2020.

Naomi busca um esporte mais humano
Naomi busca um esporte mais humano

Para Patrícia, já é difícil a própria cobrança que os atletas fazem em relação a si mesmos.

"Os atletas têm de se provar a cada semana, pode até ganhar um torneio e na semana seguinte perder na primeira rodada, pode se lesionar, então é um estado de alerta constante que o atleta vive, ainda mais neste mundo do esporte totalmente profissionalizado, os atletas com essa exigência toda de treinamentos físicos. Reações como a de Naomi são uma consequência natural disso", diz.

Infância nos EUA

O histórico da família de Naomi é marcado por turbulências emocionais. François deixou seu país, em meio à pobreza haitiana, para estudar na Universidade de Nova York. Mas sua ânsia em encontrar um porto seguro o fez parar no Japão, onde passou algum tempo. Lá conheceu Tamaki Osaka e o casamento de ambos motivou o rompimento dela com sua família, que ficou contrariada com o fato de Tamaki se unir a um negro.

Diante das adversidades da vida, cercada de preconceitos, François definiu que o caminho era um só: fazer suas filhas vencerem no Esporte. E os Estados Unidos, na Flórida, eram o melhor local para isso. Naomi estudou em locais como a Broward Virtual High School e a Elmont Alden Terance Primary, mas já tinha o tênis como seu destino. Seu pai, que foi seu primeiro técnico, a orientava desde os 3 anos.

A pressão, portanto, era algo presente de forma intensa na vida da menina. Pressão em vencer no esporte. Pressão com a corajosa opção pela diversidade. Com um pai haitiano, a mãe japonesa, ela mesma japonesa e morando, desde os três anos, em outro país, os Estados Unidos.

O tênis, então, se tornou um meio de vida. Uma identidade. Mas, ao mesmo tempo, uma forma de cobrança exagerada. Dizem até que Naomi se irrita com seu pai, considerado muito exigente.

Neste sentido, o circuito do tênis, conforme conta Patrícia, precisa ter maior flexibilidade para as questões humanas. Ela até propõe um acordo, para que, por outro lado, os atletas também cumpram alguns protocolos para se comunicar com a imprensa. Mas de uma maneira mais acolhedora.

"O patrocinador tem de ser sensível às necessidades do seu atleta, estão investindo ali pela performance dela, é excelente tenista e a imagem dela é condizente com as necessidades e os produtos do patrocinador. E acredito que não houve probelma quanto a isso. Naomi não vai aparecer menos na mídia por não dar entrevista após o jogo, essa importância foi exacerbada, os fotógrafos estão ali para tirar fotos, ela pode dar entrevistas de outra forma. Acho muito plausível essa questão dela propor uma conversa, para colocar o tema na mesa. Ela pode ter sido radical colocando isso em Grand Slam, mas às vezes você precisa radicalizar para chamar a atenção para a temática", observa.

A ex-tenista considera que o tênis, como um exemplo para outros esportes, precisa de uma maior humanização.

"Os atletas de ponta ganham muito porque o evento e os patrocinadores ganham muito mais. E não é porque alguém é milionário que não tem sentimentos e não passa por sérios problemas emocionais. É preciso humanizar o esporte neste sentido", ressalta.

Patrícia coloca também em parte da mídia a responsabilidade por essa atmosfera pesada.

"Vejo as perguntas absurdas que fazem aos atletas às vezes, acompanho entrevistas com perguntas capciosas, mal-intencionadas, para irritar, para ver se o tenista perde o controle. Há jornalistas que querem ser diferentes, então eles também são caçadores de notícias. Não falo de todos, mas há aqueles que querem sangue. Sou totalmente favorável a se conversar mesmo, acho que existem alternativas, dar um tempo maior para dar a coletiva, mandar as perguntas por escrito, selecionar melhor esse tipo de confronto jornalista x atleta", observa.

Naomi e a imprensa

Em artigo na revista Time, Naomi analisou a situação.

"Nas últimas semanas, minha jornada tomou um caminho inesperado, mas que me ensinou muito e me ajudou a crescer. Aprendi algumas lições importantes. Você nunca pode agradar a todos, o mundo está tão dividido agora que questões que são tão óbvias para mim, como usar uma máscara em uma pandemia ou ajoelhar-se para mostrar apoio ao antirracismo, são ferozmente contestadas. Então, quando disse que precisava perder as coletivas de imprensa do Aberto da França para cuidar de mim mentalmente, deveria estar preparada para o que se desenrolou", escreveu Osaka.

Ela ressaltou que jamais quis entrar em uma "guerra" com os jornalistas.

"O problema nunca foi a imprensa, mas sim com o formato tradicional das entrevistas coletivas. Vou repetir: eu amo a imprensa, sempre gostei de um relacionamento incrível com a mídia e já dei inúmeras entrevistas mais detalhadas e individuais. Mas não amo as entrevistas coletivas", explicou.

No texto, ela se disse assídua em entrevistas, mas ressaltou que, no tênis, a severidade é excessiva. Mas considerou positiva a sua atitude, por ter sido acolhida por um grande número de pessoas.

"Ficou evidente para mim que literalmente todo mundo sofre de problemas relacionados à saúde mental ou conhece alguém que sofre. O número de mensagens que recebi de um grande número de pessoas confirma isso. Acho que podemos concordar quase universalmente que cada um de nós é um ser humano e está sujeito a sentimentos e emoções"

Após ela não ter participado também do Torneio de Wimbledon, os Jogos de Tóquio 2020 têm uma importância simbólica para Naomi Osaka, a primeira japonesa a liderar o ranking. A Olimpíada será a sua porta de entrada para retornar ao Esporte, em um evento importante, de integração, que contraria algumas diretrizes do circuito profissional.

A opção de Naomi representar o Japão, desde o início da carreira, foi em função da nacionalidade da mãe. Agora, Naomi Osaka quer, além de renascer para o tênis, contribuir para o esporte incorporar mais o espírito olímpico. Nada mais propício, para ela, do que um ouro neste momento. Mas sem pressão.

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