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Judoca Ketleyn Quadros retorna após feito de 2008: 'Me superei'

Primeira medalhista individual brasileira, ela ficou de fora de 2012 e 2016, e volta a Tóquio, como referência para as mulheres

Olimpíadas|Eugenio Goussinsky, do R7

Ketleyn se sente representante das mulheres
Ketleyn se sente representante das mulheres

Tudo na vida de Ketleyn Quadros, 33 anos, não aconteceu por acaso. Aconteceu por vocação. Desde quando a mãe dela a colocou para fazer natação, no Sesi de Ceilândia, cidade onde nasceu, e ela faltava às aulas para ver as lutas de judô no local. Ela se encantava com a beleza dos golpes duros contrastando com a leveza dos atletas, como se as quedas, as piruetas, os músculos rijos, os gritos fossem um espetáculo de dança. Ou de teatro.

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E no teatro da vida, todos podemos interpretar vários papeis. No caso de Ketleyn, representando a maior de suas verdades, a de fazer o que gosta, ela se tornou a primeira mulher a ganhar uma medalha olímpica para o Brasil em prova individual, ficando com o bronze em Pequim 2008, após vencer a australiana Maria Pekli.

Judoca se inspira em gerações anteriores
Judoca se inspira em gerações anteriores

Aos 33 anos, ela se prepara para a sua segunda Olimpíada, a de Tóquio 2020. Como uma das mais experientes, Ketleyn tem em mente que sua responsabilidade se estende também para fora do tatame.

Ketleyn, afinal, ajudou a abrir ainda mais o caminho para a igualdade no Esporte, com sua façanha em 2008.


Na terça-feira (13), ela embarcará com um grupo de judocas rumo ao Japão, para treinar na cidade de Hamamatsu e se aclimatar ao país. Uma parte da delegação já viajou na quinta-feira (8).

"Estou muito feliz com este momento e agradecida porque me superei, aprendi, cresci e me transformei através dessa jornada que considero vitoriosa. São inúmeras as dificuldades, mas acredito que fazem parte e superar ajuda a transformar e fortalecer. Mas penso que a maior dificuldade que terei é precisar 'provar' a capacidade como atleta mais experiente", diz a judoca, em entrevista ao R7.


Após a conquista da medalha olímpica, a vida de Ketleyn mudou em termos de fama e reconhecimento. Mas seu estilo simples permaneceu o mesmo. Assim como a determinação em seguir treinando forte.

Como um golpe em que a força alheia dá o impulso, ela se espelhou em mulheres que superaram as dificuldades neste esporte, para se firmarem em suas atividades. Em tempos ainda mais difíceis para elas do que os atuais.


"Me sinto privilegiada e muito feliz em fazer parte da história do judô feminino e tenho muito orgulho de todo o processo. Em especial de nossas guerreiras, que iniciaram e insistiram pelo espaço dentro da modalidade quando ainda era proibido. Essas mulheres plantaram a semente e eu segui este caminho", observa.

Ketleyn conquistou medalha em 2008
Ketleyn conquistou medalha em 2008

A partir de 1941, após decreto do presidente Getúlio Vargas, em plena ditadura do Estado Novo, as mulheres estavam proibidas de praticar vários esportes, entre eles o judô. A proibição só foi derrubada em 1971.

"Não é permitida [à mulher] a prática de lutas de qualquer natureza, do futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo aquático, polo, rugby, halterofilismo e baseball", impunha um trecho da legislação.

Ketleyn tem consciência de que sua conquista foi uma vitória para todas as judocas que, em gerações anteriores, estiveram proibidas de lutar. Dentro do tatame, é claro. Porque fora dele, a insistência em permanecer no Esporte, mantendo a própria identidade, foi uma batalha árdua e digna, na qual elas nunca sofreram ippon.

"As lutadoras das gerações anteriores nos permitiram sonhar e dar continuidade mostrando que o judô é uma realidade para as mulheres. O crescimento é natural e importante, já que no judô temos o privilégio de treinar com nossos ídolos. Eu tenho muito orgulho de ajudar a transformar o judô brasileiro, para que ele fique cada dia melhor", destaca.

Caminhos abertos

A medalha olímpica fez Ketleyn, filha de Rosemery, cabeleireira, que criou três filhas após se divorciar, ser a porta-bandeira do Brasil nos Jogos Sul-Americanos de Medellin, em 2010. Depois, a própria concorrência que ela ajudou a fomentar, acabou atrapalhando sua continuidade em Jogos Olímpicos.

A judoca ficou de fora de Londres 2012, perdendo a vaga para Rafaela Silva, que se tornou campeã olímpica em 2016. Já nos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro, perdeu a classificação para Mariana Silva.

Seu trabalho de abrir caminhos, no entanto, a fez estar presente, de certa forma, nos Jogos em que ficou de fora. Ela viu, afinal, após seu impulso (lembram-se do golpe com a força alheia?), Sarah Menezes ser campeã olímpica em Londres 2012 e Mayra Aguiar conquistar o bronze na mesma Olimpíada.

Agora, é a vez dela voltar a fazer seu papel no tatame, após conquistar com dificuldade a vaga da categoria até 63 kg, ao terminar em quinto lugar no Campeonato Mundial de Judô, realizado em Budapeste, na Hungria, no último dia 9 de junho.

Ketleyn promete lutar na sua segunda Olimpíada com a mesma disposição com que entrou no tatame pela primeira vez, ainda criança, aos 8 anos.

"Eu amo a modalidade que escolhi e foi assim desde do primeiro dia de aluna. As conquistas após essa escolha aconteceram de forma natural. A dedicação foi abrindo portas e oportunidades. Penso que onde cheguei foi consequência de muito amor pelo o que faço", completa.

Ketleyn sabe que, com toda essa bagagem e devoção, é a vez dela ser a referência para as mais jovens. A única proibição, agora, é deixar de sonhar.

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