Isaquias flertou com decepção, mas sai de Tóquio 2020 coroado
Baiano de Ubaitaba vibrou com inédita conquista do ouro em Jogos Olímpicos: 'Estava na raiva para ganhar essa medalha'
Olimpíadas|André Avelar, do R7, em Tóquio, no Japão
Isaquias Queiroz desembarcou em Tóquio 2020 como candidato a recordista de medalhas para o Brasil em Jogos Olímpicos. A decepção de ficar fora do pódio na primeira prova em que disputou na Sea Forest Waterway foi canalizada em vontade de conquistar a medalha de ouro neste sábado (7), no C1 1000 metros. E o baiano de Ubaitaba conseguiu o sonho que perseguia desde quando descobriu a canoagem.
Com a conquista na capital japonesa, Isaquias agora soma quatro medalhas em Jogos Olímpicos: bronze no C1 200 metros e prata no C1 e C2 1000 metros na Rio 2016, além do ouro no C1 1000 metros de Tóquio 2020. O recorde de cinco medalhas ainda pertence ao velejador Robert Scheidt, que passou em branco nesta Olimpíada.
O brasileiro (4min04s408), de 27 anos, é o atual campeão mundial da prova e não poderia ficar fora do pódio. O seu histórico rival, o alemão Sebastian Brendel, havia ficado para a final B. O chinês Hao Liu (+1s316), o segundo colocado na prova, não aguentou o ritmo nos 250 metros finais e viu o brasileiro cruzar a linha de chegada com sobras.
O atleta havia se cobrado publicamente após ficar com a quarta colocação no C2 1000, na canoa com o parceiro Jacky Godmann — Erlon de Souza, seu companheiro há cinco anos, sofreu com uma lesão no quadril e não pôde competir. Um nome que revolucionou a história da modalidade no Brasil precisava dessa conquista.
Isaquias não esqueceu o último resultado, mas demonstrou ótima preparação psicológica para converter a decepção em ouro.
“Queria ganhar a medalha no C2 independente da posição. Então, foi frustrante. Não tem como a gente ficar feliz como quarto lugar”, disse Isaquias, ainda ofegante pela medalha conquistada. “Mas a energia maior foi na raiva, por que estava na raiva para ganhar essa medalha de ouro. Desde o começo, quando entrei no C1, falei que sairia daqui com o ouro. Foram cinco anos doidos e tinha que sair com o ouro.”
O começo de tudo
Mesmo coroado medalhista de ouro em Olimpíada, Isaquias não esquece do seu mentor. O espanhol Jesús Morlán, que morreu em outubro de 2018, depois de uma batalha de dois anos contra um câncer no cérebro, lapidou o diamante que havia encontrado nas águas de Ubaitaba.
As medalhas conquistadas na carreira foram uma forma de honrar a memória do lendário treinador. O sonho, como ele mesmo havia tido o cuidado de dizer, era de conquistar duas medalhas de ouro, mas o coroou como um dos maiores nomes da história do esporte brasileiro.
O atual treinador de Isaquias, Lauro Júnior foi outro que aprendeu muito com Morlán. Pinda, como também é conhecido, ressaltou a metodologia de trabalho deixada pelo espanhol.
“Eu tinha uma proximidade muito grande com o Jesús, estava com ele na lancha todos os dias, em todos os momentos e, no dia em que ele faleceu, a gente prometeu que iria seguir essa luta. Sempre tive isso na minha cabeça. Meu maior medo era frustrar o Jesús. Tinha essa responsabilidade de seguir com ele”, disse Pinda.
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