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Destaque na São Silvestre, gari Johnatas sonha com Tóquio 2020

'Achava legal os garis correndo atrás do caminhão. É muito feliz o trabalho. A gente coleta sorrindo e brincando', diz 4º melhor brasileiro da prova

Olimpíadas|Do R7

Johnatas ganha vida correndo nas ruas e coletando lixo
Johnatas ganha vida correndo nas ruas e coletando lixo

Johnatas ganha a vida correndo pelas ruas de São Paulo coletando lixo, mas há quatro anos decidiu transformar a atividade na fonte de novos sonhos. Passou a aliar as botas utilizadas no trabalho aos tênis das maratonas. A "brincadeira" virou coisa séria e o atleta foi simplesmente o quarto melhor brasileiro na disputa da última São Silvestre, ao terminar na 13ª colocação a tradicional prova do dia 31 de dezembro.

Mineiro da pequena cidade de São Pedro dos Ferros, Johnatas de Oliveira Cruz chegou a São Paulo aos 12 anos. Na época, sua paixão era o futebol. Ele conta que era aficionado pela modalidade e chegou a tentar a sorte em peneiras por diversos clubes, como Corinthians, Santo André e São Caetano. "Passei em todas, mas como os meus pais não tinham condições de bancar minha ida para o clube, acabei não indo em frente", diz.

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Para ajudar a família a se manter financeiramente, Johnatas começou a trabalhar ainda jovem em um posto de gasolina. Aos 15 anos, auxiliava na lavagem dos carros. Passou a calibrar pneus e, aos 18, conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada: frentista. Ele ainda trabalhou no caixa do posto, mas sonhava com outra vida.


De tanto caminhar em frente à empresa EcoUrbis, responsável pela coleta de lixo nas Zonas Sul e Leste de São Paulo, Johnatas decidiu tentar uma vaga. No fim de 2012, deu certo. "Sempre passava em frente e tinha vontade de trabalhar ali. Achava legal aqueles garis correndo atrás do caminhão. É muito feliz o trabalho. A gente coleta sorrindo e brincando. Sinto e vivo isso até hoje."

Ele não esconde que outro fator pesou na decisão de buscar o novo emprego. Desde 2005 a empresa promove um programa de incentivo aos funcionários que se arriscam no atletismo. "Entrei na EcoUrbis com o pensamento de correr, porque fiquei sabendo que a empresa dava esse apoio. Pelo fato de a gente correr atrás do caminhão, já ajuda bastante na parte aeróbica."


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A empresa explica que percebeu nos funcionários o desejo de transformar a corrida, principalmente a de longa distância, em hobby. De tanto perseguirem os caminhões no dia a dia, os coletores desenvolviam a paixão pela modalidade, o que fez com que a EcoUrbis passasse a realizar seletivas e a bancar as inscrições dos melhores colocados na São Silvestre de cada ano, além de fornecer ajuda de custo e até materiais àqueles que mais se destacassem. E foi justamente assim que Johnatas começou, não sem antes superar novos obstáculos: duas hérnias que o obrigaram a passar por cirurgias e atrasaram sua iniciação no atletismo.


"Comecei treinando em 2015, fui participando de corridas aqui e ali, e gostando. Hoje, encaro como um amor à corrida. Graças a Deus, o resultado está vindo. O fato de ter uma biomecânica boa, a genética, ajuda muito nos treinos. Os amigos aconselham a continuar. Então, seguimos na batalha", relata.

'Brincadeira' virou coisa séria e atleta foi o 4º melhor brasileiro na São Silvestre
'Brincadeira' virou coisa séria e atleta foi o 4º melhor brasileiro na São Silvestre

Apesar de estar com 28 anos, idade considerada avançada para quem ainda inicia no esporte, Johnatas sonha alto. Para isso, treina de segunda a sábado em dois horários: pela manhã, em um parque no bairro Cidade Tiradentes, onde reside, e à noite, durante seu expediente, correndo atrás dos caminhões. Ele tem o auxílio de um treinador e desde o ano passado passou a contar com acompanhamento médico.

Todo esse esforço tem dois objetivos. "Meu sonho é disputar uma Olimpíada e ganhar uma maratona, qualquer uma, principalmente fora do Brasil. Tem que sonhar alto para disputar uma Olimpíada ou uma edição dos Jogos Pan-Americanos, mas eu sonho sim", admite.

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Johnatas reconhece a importância e a transformação que a corrida lhe trouxe. "Encaro a vida com muito mais paciência. Os fundistas pensam muito. Você está ali correndo 5 km, 10 km, 20 km e até 42 km. Tem de pensar bastante, e isso acaba mexendo contigo. A gente foca muito no que fazer e acaba levando isso para o dia a dia", diz.

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