Desembarque em Tóquio 2020 desmistifica organização japonesa
'Problema no sistema' foi internacionalizado com aglomeração e quatro horas de espera para exame da covid na chegada aos Jogos
Olimpíadas|André Avelar, do R7, em Tóquio, no Japão
As mais de 4 milhões de vidas perdidas para a covid-19 em todo o mundo justificam qualquer rigidez no protocolo sanitário. A chegada de delegações esportivas e de jornalistas para Tóquio 2020 deveria então ser seguida com o rigor da disciplina japonesa. Essa organização, no entanto, foi em parte desmistificada no desembarque do R7, na última quinta-feira (15), no aeroporto de Narita, para a cobertura dos Jogos Olímpicos.
Os problemas apontados frustram o próprio povo japonês, que aceitou o desafio de realizar “os Jogos Olímpicos mais restritos da história”, como definiu o próprio presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Thomas Bach. A por enquanto falha logística para receber as 79 mil pessoas envolvidas com o evento fez o jornal japonês, Asahi Seibun, relatar em editorial o que classificou como “buracos assustadores” nos protocolos de saúde da organização.
“À medida que atletas e delegações olímpicas começam a descer no Japão, vindos em massa de todos os lugares, sinais preocupantes estão surgindo de suposições otimistas e falta de preocupação em relação à segurança, o que está causando confusão”, começa o editorial.
Por mais que não seja uma obrigatoriedade para entrar no Japão, as vacinas fornecidas pelo COI, em convênio com o Comitê Olímpico Chinês e a Pfizer, facilitaram a aceitação dos estrangeiros. Junto do comprovante de vacinação, o resultado negativo de dois testes PCR contra a covid-19, colhidos até 96 horas antes do embarque, foi disponibilizado em inglês e japonês um complexo sistema para o escritório local do mega-evento.
Junto desses documentos, um plano de atividades para os próximos 14 dias desde a chegada ao país também foi enviado. Depois de três dias em isolamento no hotel credenciado pela organização — com refeições feitas apenas no quarto — os profissionais precisam ficar mais 11 dias sem frequentar locais públicos, se locomovendo apenas pelo transporte oficial para as coberturas dos eventos previamente aprovados no plano inicial de duas semanas.
Mas aí começam a ficar aparente os problemas mais simples de serem resolvidos. Ainda antes de passar pela imigração no aeroporto, é necessário outro exame de covid-19, desta vez, o colhido pela saliva, menos incômodo que o nasofaringe. Os funcionários, sempre solicitos e de uma educação sem igual no mundo, precisam checar todos os documentos. É quando percebe-se que o “sistema” falha mesmo na terra do sol nascente.
Com um atraso na identificação de boa parte dos passageiros vindo de uma conexão de Doha, no Qatar, um grupo de 50 pessoas com problemas nesse cruzamento de dados logo é escalonado para cem, 150, 200… O que então era um livre corredor de passagem, livre, sem acesso sequer a um caixa eletrônico, por exemplo, logo vira um potencial foco do novo coronavírus devido à aglomeração de voos e mais voos chegando a uma semana da cerimônia de abertura.
“Os organizadores prometeram garantir bolhas de isolamento para prevenir novos casos de covid-19, mas estamos ouvindo muitas histórias perturbadoras sobre como os participantes não são estritamente separados de outros passageiros”, escreveu o jornal.
Já fora do aeroporto, depois de quatro horas para passar pelo ponto de coleta de saliva, ter toda a documentação checada e enfim receber a credencial olímpica, o transporte oficial é infimamente menos turbulento. Um ônibus destinado leva os profissionais da imprensa, em geral, a um terminal de onde é possível pegar um taxi individual até o hotel. E aí começa o processo de quarentena, sempre monitorando e a temperatura e reportando-a em um aplicativo designado.
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