COB lamenta cortes no Pinheiros e se diz apreensivo com coronavírus
Tradicional clube de SP fechou time masculino de basquete e pode estar com estrutura de alto rendimento comprometida. Pessoal já recebe 25% menos
Olimpíadas|André Avelar, do R7
Responsável por 12 das 129 medalhas dos atletas do Brasil na história dos Jogos Olímpicos, a estrutura profissional do Esporte Clube Pinheiros tem sido abalada com cortes em equipes de alto-rendimento, em muito, por conta do novo coronavírus. Tanto que até o COB (Comitê Olímpico do Brasil) lamentou a diminuição de investimento e se mostrou apreensivo com os efeitos da pandemia no caminho rumo a Tóquio 2020, agora reservados para de 23 de julho a 8 de agosto do ano que vem.
Na semana passada, os jogadores e a comissão técnica do time masculino de basquete receberam por carta o anúncio da não-renovação de contrato e, pior, da dissolução da equipe. Anteriormente, Claudio Castilho, ex-gerente de esportes olímpicos, com 24 anos de história no clube de São Paulo, havia sido demitido em um movimento que foi entendido por fontes internas como uma virada na política de atletas e times profissionais. A pandemia do coronavírus, então, teria sido “a desculpa perfeita” para o fim de um time por exemplo, na briga entre associados e times profissionais.
“O Esporte Clube Pinheiros não tem intenção em formalizar proposta para sua renovação quando do seu vencimento, ficando V. Sa. desde já dispensado de sua atividade laboral”, diz um trecho do documento enviado para os profissionais do basquete, que ainda serão convocados para assinar suas rescisões na quarta-feira (29). O time, de Caio Torres, Betinho, Montrell Dawkins, havia se classificado para os playoffs do NBB e teria pela frente o clássico contra o Paulistano.
“Este ano, o cenário estava um pouco mais rígido porque o time de basquete estava sem patrocinador. Nós, como diretores do ECP, antes mesmo da pandemia, já estávamos com campanhas de captação de patrocinadores para o esporte de alto rendimento. Entretanto, com a pandemia instalada no país, a intenção de patrocinadores para investir nos times do ECP diminuiu”, explicou em nota distribuída à imprensa o presidente Ivan Castaldi.
O clube não respondeu, até o fechamento desta edição, aos questionamentos da reportagem sobre a “pretensão para a retomada das atividades profissionais” e se “demais esportes olímpicos também estão com a sua continuidade ameaçada”.
Como não poderia deixar de ser, o assunto, claro, foi parar no COB — e não por se tratar apenas do Pinheiros, com 120 anos de histórias, mas por outros grandes clubes com atletas em delegações nacionais também estarem passando por dificuldades. Por mais que se comunique com as federações de cada esporte, a pedido do R7, o comitê enviou uma nota na qual “ lamenta a queda de investimento do Pinheiros” e espera que “seja uma decisão passageira”.
“Todo o sistema esportivo (COB, Confederações, Federações, Clubes, Atletas e a Secretaria Especial de Esportes), assim como toda a sociedade, está apreensivo com o momento enfrentado e trabalha em busca de soluções. O COB entende que é hora de reavaliar, replanejar e reorganizar o esporte de alto rendimento para estarmos fortes e prontos quanto tudo passar”, diz a nota.
Segundo a Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, o COB esperava receber R$ 312 milhões este ano com porcentagem da arrecadação das loterias federais, previstas pela Lei Agnelo/Piva. Com a quarentena, houve queda de 56% nas receitas desse mecanismo na segunda quinzena de março. Por isso, interlocutores do comitê estimam um faturamento até 30% menor quando a vida voltar ao normal.
Ex-presidente da Comissão de Ética do COB e provável candidato da oposição nas eleições previstas para novembro deste ano, Alberto Murray, que foi atleta do Pinheiros, entende que além da saúde, a crise afetará os negócios do esporte. Por isso, uma conversa franca entre empregadores e empregados na área esportiva se faz necessário. O clube de São Paulo já acertou a redução de 25% da remuneração de funcionários do clube, incluindo atletas.
“A desmobilização de estruturas que já existem no Pinheiros é anterior à pandemia e vejo com bastante preocupação. O que destaca o Pinheiros no cenário nacional e internacional é produzir atletas e fornecê-los para as seleções desde as categorias de base. Acho perigoso que haja uma retração embora respeite uma decisão”, diz Murray, que ainda gostaria de ver maior aproximação do COB com os clubes. “O comitê tem que caminhar mais perto daquilo que é a base do esporte do nosso país. Embora fale com as federações, ele tem que ser o mediador de um debate mais amplo e transparente com os clubes.”
Na Rio 2016, o Pinheiros enviou 64 dos 465 atletas para a competição. Além dos medalhistas Arthur Nory (ginástica) e Rafael Baby (judô, com duas medalhas na história das Olimpíadas), Leandro Guilheiro (judô), Cesar Cielo (natação, com duas medalhas), Gustavo Borges (natação, com três medalhas), Douglas Vieira (judô), João do Pulo (salto triplo) e Manuel dos Santos Jr (natação) também fazem parte do quadro de medalhistas olímpicos do clube da zona oeste de São Paulo.
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