Ana Animal deixou Cracolândia para virar corredora número 1 do Brasil
A atleta de 56 anos declarou que a corrida mudou a vida dela: "Se não fosse o esporte, acho que eu estava na cadeia ou morta"
Olimpíadas|Camila Juliotti, do R7
Ana Luiza Garcez, mais conhecida como Animal, tem uma história de superação daquelas de filme. Aos 56 anos, ela é conhecida por ser a corredora número 1 do Brasil na categoria 50-59 anos. Mas, antes de chegar ao topo, precisou vencer muitas adversidades e acabar com vícios: morou na rua até os 34 anos, era usuária de drogas e frequentadora da Cracolândia e passou até pela Fundação Casa. A corrida transformou a vida dela.
"Se não fosse o esporte, acho que eu estava na cadeia ou estava morta", declarou Ana, que prefere ser chamada pelo apelido. "Eu vim da rua, gosto que me chamem de Animal, é sinal de respeito."
O interesse da atleta pelo esporte surgiu depois que ela assistiu ao longa Carruagem de Fogo. "Vi o filme e pedi para os meninos que moravam na rua comigo roubarem um tênis, uma camiseta, um boné e um shorts. Disse para eles que ia correr. Eu já corria, corria da polícia quando roubava, pegava as roupas do varal das casas vazias", revelou.
Bastou calçar os tênis e cair na pista pela primeira vez para que Ana não parasse mais de correr. Hoje, ela coleciona troféus e medalhas que conquistou em provas ao redor do mundo, como Inglaterra, China, Nova York, Miami.
Quarto no Ginásio do Ibirapuera
Para alcançar o sonho e sair das ruas, Ana teve o apoio de Fausto Camunha, ex-Secretário de Esportes de São Paulo que a convidou para morar no Centro Olímpico, onde ela ficou por dois anos. Após esse período, a atleta se mudou para um quarto no Ginásio do Ibirapuera, onde está há 20 anos.
É no ginásio, inclusive, que ela treina todos os domingos, às 4 horas da manhã. Ana deu detalhes dessa rotina de exercícios matinal. "Eu acordo e vou correr. Não como nada, só tomo água. Depois, eu volto, tomo café da manhã e vou fazer musculação. Gosto de acordar cedo. Se acordo tarde não consigo fazer nada."
Quem não conhece a corredora, facilmente a identifica nas ruas. Durante os treinos e também nas competições que participa, Ana costuma se produzir e encher o corpo de purpurina. "Se eu não tiver montada, não consigo correr. Quando é prova internacional gosto de ir montada também para chamar a atenção", explicou.
Summit espnW
O bate-papo com Ana Animal aconteceu durante o evento Summit espnW, realizado na véspera do Dia Internacional da Mulher, na sede da ESPN Brasil. O intuito foi promover uma troca de ideias entre os entrevistados e os convidados. Renata Netto, gerente de inovação e desenvolvimento de conteúdo da ESPN Brasil, falou sobre a escolha de trazer Ana Animal para participar do evento.
— Acho que a gente foi muito nesse sentido de provocar mesmo. Não queríamos trazer aquela mulher linda, maravilhosa, bela no Dia Internacional da Mulher e cair de novo nesses esteriótipos. E a Ana é uma mulher incrível, um exemplo. É uma história de vida, mais do que uma mulher exemplar, é um ser humano exemplar. A gente quis ir para esse lado, trazer uma história inspiradora.
Renata também adiantou que a ESPN Brasil pretende promover eventos como este anualmente.
— A gente entende que essa troca é muito rica. Mais do que criar uma matéria, uma pauta... Nosso papel é trazer esses temas para discussão. A gente quer crescer mesmo, a gente tem essa ambição.