Alison corria de boné para esconder queimaduras; hoje exibe medalha
Brasileiro dos 400 metros com barreiras ficou com medalha de bronze inédita para o país em edições dos Jogos Olímpicos
Olimpíadas|André Avelar, do R7, em Tóquio, no Japão
Até bem pouco tempo, um menino chamava a atenção do esporte brasileiro por seus resultados e também por um incomum boné nas pistas de atletismo. Era Alison dos Santos, medalhista nesta terça-feira (3), em Tóquio 2020. O menino, que chegou a esconder as marcas de queimaduras na cabeça, hoje, aos 21 anos, exibe orgulhoso a medalha de bronze dos 400 metros com barreiras nos Jogos Olímpicos.
O atleta de São João da Barra, no interior de São Paulo, fez o terceiro tempo (46s72) na prova mais rápida da história dos 400 metros com barreiras. O norueguês Karsten Warholm cravou o novo recorde mundial (45s94), seguido pelo norte-americano Rai Benjamin (46s17).
“O atletismo me fez ser uma pessoa diferente, fez melhorar o meu jeito de ser, entender e me aceitar mais que antes, realmente, era muito tímido, tinha muita vergonha e tudo mais. Só que hoje eu sei que isso faz parte de mim não tem por que eu querer ficar tímido, por isso não tenho vergonha alguma e isso faz parte de mim. Já levo isso como orgulho como como lutas que eu venci”, disse o atleta, na área de entrevistas do Estádio Olímpico.
Aos 10 meses, o bebê Alison entrou na cozinha e de casa e viu uma panela com óleo quente virar sobre a sua cabeça. As queimaduras de terceiro grau o deixaram dois meses em um hospital, sendo 15 dias na UTI, em Barretos, próximo de onde nasceu. Ana Fidélis, com natural com toda mãe, ainda hoje se culpa pelo acidente e já revelou ter passado dias e dias aflita com o filho entre a vida e a morte.
Felizmente, o jovem não se lembra daqueles dias. O bullying na escola era muito grande e, esse sim, demorou a ser superado. Preto, de família humilde, com o lado direito do rosto com cicatrizes e marcas que impedem o crescimento de cabelo no topo da cabeça, a vergonha o fez se esconder em um boné durante muito tempo. Quando faltava o boné, o capuz mesmo em dias quentes era uma opção para o garoto sentado no fundo da sala de aula.
“Era questão de timidez mesmo, de olhares, de alguns comentários que faziam pelas minhas costas e isso mexia um pouco. Abalava um pouco a confiança e tudo mais só que o atletismo me fez entender que isso não não era não era necessário ter essa vergonha, não é necessário ter essa timidez quanto a isso porque todos nós somos iguais ninguém é melhor que ninguém por nada”, completou o atleta.
Um projeto social, no entanto, convidou o menino para umas aulas de atletismo. Os primeiros convites foram recusados, já que para correr seria preciso tirar o boné. Até que um dia, por incentivo de um amigo, decidiu frequentar as aulas. Não demorou muito e, aos 16 anos, já estava no meio dos adultos, conquistando tempos expressivos. Em uma dessas competições, Alison chegou a usar uma touca de natação, ainda com medo da repercussão por suas queimaduras.
Alison desembarcou na capital japonesa credenciado pelo título no Pan Lima 2019 nos 400 metros com barreiras e pelo vice-campeonato no 4x400 misto no Mundial de Revezamentos 2021. Como se não bastasse, ainda via o número 3 no placar indicando a sua posição no ranking. O caminho da medalha estava claro e contou com uma classificação à final na segunda posição geral, a 0s01 do norueguês Karsten Warmholm, que pulverizou o recorde mundial na final.
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