Pezão promete processar médico e revela desejo de fazer reposição de testosterona nos EUA
Peso-pesado foi flagrado no teste antidoping após o empate contra Mark Hunt no UFC Austrália
Mais Esportes|Diego Ribas, do R7

A notícia de que o peso-pesado Antônio ‘Pezão’ foi flagrado no exame antidoping caiu como uma bomba no mundo do MMA na madrugada da última terça-feira (17). Testado com níveis de testosterona acima do normal, o atleta causou nova surpresa aos fãs ao ver seu tratamento de reposição hormonal, popularmente chamado de TRT, ser tornado público.
Com tal cenário negativo, que lhe custou o prêmio de melhor luta da noite do UFC Fight Night 33, na Austrália, o gigante paraibano se apressou em se defender e, através de sua conta no Facebook, jogou a responsabilidade do erro no Dr. Márcio Tannure, diretor médico da Comissão Atlética Brasileira de MMA, que teria receitado indevidamente o aumento da dosagem do hormônio em questão.
Suspenso por nove meses do MMA, Pezão, de 34 anos, conversou com a reportagem do R7 e, em conversa ampla, prometeu recorrer juridicamente para limpar seu nome, relembrou a primeira vez em que foi flagrado no exame antidoping, relacionou seu hipogonadismo (queda na produção de testosterona) com o gigantismo, doença detectada anos antes, e revelou que pretende seguir com o polêmico método. Mas desta vez sob a supervisão de um médico nos EUA.
R7 – Pezão, você ficou surpreso ao ser flagrado no antidoping?
Pezão – Sim. Achei muito decepcionante porque eu procurei a forma legal para fazer os exames. Mas, mesmo assim, fiquei com uma taxa elevada. Para mim, foi uma surpresa. Procurei um médico, uma pessoa da área de saúde para eu fazer a coisa certa. Mas caí num erro e me senti um rato de laboratório.
R7 – E qual foi esse erro?
Pezão - O erro foi a dosagem que eu tomei. Até então, o nível tinha ficado baixo, mas na segunda dosagem meu nível ficou muito alto. A primeira dosagem era de uma ampola por mês, mas ficou baixa, então, na segunda, ele mandou tomar uma por semana.
R7 – O médico a que você se refere é o Dr. Tannure?
Pezão – Sim, o Márcio Tannure. Justamente.
R7 – Essa foi a primeira vez que você fez uso da TRT?
Pezão – Sim, foi a primeira vez que fiz a TRT. Em setembro, fui ao Rio e Janeiro e, uma vez que o Márcio era o médico do UFC no Brasil, achei que ele era o mais indicado para o tratamento. Por conta da cirurgia que fiz em 2006, por causa da acromegalia, que faz com que o hormônio de crescimento (GH) aumente, a testosterona tende a baixar. Eu só queria ficar com o nível correto de uma pessoa normal. Mas, infeliz, passou do ponto. Não tinha como saber disso. Não sou médico, confiei nele. Se o médico manda tomar um remédio, tem que tomar e seguir o que ele manda. Eu não tinha a mínima ideia de qual dosagem seria perfeito, por isso entreguei nas mãos dele. Agora é arcar com as consequências. Vou procurar provar que foi um grande erro.
R7 – Você falou com o Tannure desde então?
Pezão - Troquei e-mail antes do resultado [do doping]. Depois, não consegui nenhum contato. Liguei, deixei recado, mas ele não me ligou de volta. Estou desapontado. Ele tem nome no Brasil, e eu tinha um grande respeito por ele. Ele é médico do Flamengo e do UFC. O brilho da minha luta foi manchado, minha moral manchada. Além do prejuízo financeiro em relação a bônus e patrocínios. Fiquei desapontado por não receber resposta dele.
R7 – Além da perda do bônus, qual prejuízo você teve?
Pezão – Um patrocínio que eu tinha, infelizmente, me enviou um e-mail dizendo que vai cancelar. Ninguém que ver sua imagem com alguém que está manchado. Tinha outros dois patrocínios quase fechados que cancelaram a negociação também.
R7 – Quando você descobriu que sofria de hipogonadismo?
Pezão - Em 2006, descobri que tinha acromegalia, e tudo começou. Com essa doença, o GH aumenta muito e a testosterona desce muito. Então, em 2006, fiz a cirurgia e sempre fui acompanhado por médicos. Tomo uma injeção por mês e dois comprimidos por semana para que o GH não suba novamente. Fiz várias lutas com testosterona abaixo do normal. Mas, hoje, o nível do esporte está muito alto. Tenho 34 anos, e não 20. Procurei a forma certa e viável, autorizada, para nivelar meu nível de testosterona. Jamais quis tirar proveito do Mark Hunt. Não quis burlar nenhum exame, eu sabia que seria testado antes e depois da luta. Em setembro, comecei a reposição. Agora vou ter que parar e procurar um médico aqui nos EUA. Se isso acontecesse aqui, seria mais fácil de resolver. No Brasil vai ser mais complicado, mas vou tentar entrar com um processo.
R7 – Você pretende processar o Dr. Tannure, é isso?
Pezão – Sim. Infelizmente vou ter que fazer isso. Estou sendo prejudicado por um erro que não foi meu. Prejudicado financeiramente e moralmente, e não tive o contato dele depois disso. Não posso fazer de conta que não aconteceu nada. Não tive culpa e não posso ficar com esse prejuízo.
R7 – porque você decidiu fazer a TRT no Brasil e não nos EUA, onde você mora?
Pezão - Eu tinha ido aos médicos em Las Vegas uma vez com exames que provavam que minha testosterona era baixa. Conversei com ele e ficaram de me dar uma resposta. Estava certo que eles iriam aprovar, mas pediram para eu ir de novo para Vegas, e eu não pude ir porque a luta com o Velasquez estava próxima e eu iria perder uns três dias de treino, e era uma luta pelo cinturão, muito importante. Resolvi não fazer. Quando fechou a outra luta, contra o Hunt, eu já iria ao Brasil para treinar na Team Nogueira, então juntei uma coisa com a outra. Fui fazer um tratamento no ombro com o Tannure e aproveitei para fazer isso tudo no Brasil com ele.
R7 – Você pretende continuar a fazer essa reposição hormonal de testosterona?
Pezão - Eu vou procurar os meios cabíveis. Não sei o que vai acontecer, mas vou tentar provar de todas as formas que a falha não foi minha. Esse nível de testosterona deu alto por uma dosagem errada passada pelo médico. Vou fazer novos exames, mas se puder continuar com a TRT, eu vou continuar, até mesmo pela minha vida. Meu nível hormonal é muito baixo. Quem tem essa doença sabe do que eu estou falando. Fiz várias lutas com testosterona baixa. Lutei contra o Fedor, Arlovski, Velasquez duas vezes, Overeem... Agora estou com 34 anos e é muito importante para a minha vida.
R7 – Em 2008, você foi flagrado no doping e condenado por excesso de GH. Essa reincidência pode atrapalhar sua licença para seguir com a TRT, certo?
Pezão - Sou o primeiro atleta na história do MMA a mover uma ação civil contra uma Comissão Atlética. Algumas pessoas acreditam, outras não, mas quem sabe dessa relação de saúde sabe o que quero dizer. Da primeira vez que fui pego, mandei toda a suplementação e foi provado que foi um suplemento que gerou o teste positivo. Mesmo assim, não me absolveram. Dessa vez, foi pelo nível de testosterona. Eu estava sendo liberado pelo médico, tomei exatamente o que ele receitou, e isso vai ser provado. Não vou deixar para trás. No futuro, vou provar por A mais B, e acho que vão me deixar fazer uso da TRT. O normal de uma pessoa é ter 300 [nano gramas por decilitro], e o meu nível era de 153. Depois da primeira dosagem subiu para 157. Meu caso não é apenas melhorar performance, é uma necessidade médica.
R7 – Porque você acha que ele receitou esse aumento na dosagem?
Pezão – O médico achou que poderia chegar ao nível certo. Mas a gente não pode achar, tem que ter certeza. Sou um atleta testado diariamente. Sou testado. Médico não pode achar, tem que ter certeza para mandar tomar a medicação toda semana. Se não tinha certeza, deixasse para depois da luta. Não pedi para aumentar a dose. Mandei e-mail dizendo que sentia alguma melhora. Não sei o que passou na cabeça dele.
A título de esclarecimento, o endocrinologista Márcio Macini afirmou à nossa reportagem que não existe relação direta, como dita pelo atleta, de que anos de convívio com a acromegalia, ou seja, o excesso de GH no corpo, com a redução da produção de testosterona (hipogonadismo).
De acordo com o especialista, Pezão poderia ter lesionado a hipófese de duas formas que acarretassem a necessidade de fazer uso da TRT. Ou tumor, que foi descoberto apenas em 2006, era muito grande e acabou por comprometer outras funções da glândula, ou a lesão foi gerada no pós-operatório.
Procurado pela reportagem do R7 via telefone e e-mail, o médico Márcio Tannure, que está na Califórnia, nos EUA, não respondeu a nenhuma das perguntas enviadas.