'Cyborg' solta o verbo contra Dana White e Ronda e se oferece para negociar luta sem empresário
Brasileira deixou clara a sua insatisfação com as críticas recebidas do presidente do UFC
Mais Esportes|Diego Ribas, do R7

Nada como um dia após o outro na vida de Cris ‘Cyborg’, atual campeã peso-pena (66 kg) do Invicta FC que, após meses de polêmica sobre sua possível contratação pelo UFC emendados a uma suspensão por uso de doping, voltou a estabilizar sua carreira internacional.
Com três combates vencidos por nocaute em 2013, dois de MMA e um de muay thai, a brasileira parece mais calma e confiante sobre seu futuro nos ringues para adotar postura mais crítica sobre a avalanche de polêmicas em que foi envolta.
Além do teste positivo no exame antidoping, em dezembro de 2011, Cyborg foi constantemente provocada e desafiada pela então desconhecida Ronda Rousey, e, claro, ouviu quase que calada ofensas e provocações de Dana White, presidente do maior torneio de MMA do mundo que parece não ter aceito sua recusa em baixar de categoria.
Caso aceitasse, e conseguisse, a curitibana teria a promessa de enfrentar a rival Ronda na disputa do título dos galos (61 kg), meta que foi considerada fisiologicamente inatingível pela atleta que costuma pesar cerca de 73 kg no seu dia a dia.
Disposta a abrir o jogo e orientada pelo manager Tito ‘Bad Boy’ Ortiz a não fugir de polêmicas quando necessário, Cris, que passa os próximos dias no Brasil, onde realiza uma série de seminários, conversou com exclusividade com a reportagem do R7. Vale a pena conferir:
R7 – Cris, você já tem alguma definição sobre sua próxima luta? Vai ser no Invicta?
Cyborg - Volto para os EUA no dia 12 novembro. Minha próxima luta vai ser em janeiro, mas ainda não sei o dia exato e nem qual será a adversária, e será a última do contrato com o Invicta. Como o Tito cancelou sua luta, aproveitei e adiei minha volta. O pessoal do evento é bem maleável, é só pedir que eles me deixam lutar em outros eventos também. Tanto que lutei muay thai no Lion, e volto no ano que vem para disputar o cinturão.
R7 – Nos últimos dias, li críticas suas sobre a postura do Dana White em relação ao Tito Ortiz...
Cyborg – Olha, eu sou atleta e nenhum evento tem que amar meu manager. Tem que admirar o meu trabalho. Faz tempo que eu nem falo mais dele, sigo meu caminho no Invicta e no Lion e sempre me destacando. O Dana é que sempre fica falando de mim e do Tito. Diz que é por causa dele que não vou para o UFC, diz que eu pedi muito dinheiro, que eu não aceitei descer de peso. Ele levou para o lado pessoal essa história toda. Se o problema dele é o Tito, eu posso levar meu advogado e negociar direto com ele para casar essa luta contra a Ronda. Mas ele fica arrumando desculpas...
R7 – Bom, você se colocou à disposição para negociar sem o Tito. Acha que haveria outras desculpas, como você disse?
Cyborg – Com certeza. Ele sempre vai arrumar outra desculpa, essa é a realidade. Todo mundo me vê lutando e sabe que eu estou bem. E eu errei e paguei por isso, fiquei suspensa, assumi erro e voltei ao topo. Continuo a mesma pessoa e conquistei tudo de novo. Estou evoluindo cada vez mais.
R7 – Você disse que ele fala de você, mesmo sem motivo. Por quê?
Cyborg - Ele não esquece de mim. Ele fica revoltado porque os fãs cobram por essa luta minha com a Ronda. Mas eu não estou lá no UFC porque não tem a minha categoria. Se eu conseguisse baixar para 61 kg, eu já teria feito isso.
R7 – Mas você não teme ficar sem oponentes de alto nível fora do UFC?
Cyborg – É por isso que eu lutei no Lion Fight. Lá tem muitas meninas boas de muay thai. Minha adversária se machucou e tinham três opções do meu peso. Com certeza eu quero manter esse ritmo de lutas. Se não tiver luta de MMA, luto muay thai, e se não tiver nenhum dos dois, vou competir no jiu-jítsu. Gosto de ficar em ativa. Sofro com isso desde o início da minha carreira. Sempre fiquei sem adversárias, estou vacinada. Não perco motivação.
R7 – Sobre a falta de sua categoria no UFC, você acha que o evento abrirá vaga para pesos-penas num futuro próximo?
Cyborg - O Dana White é o dono da bola, igual ao futebol. Ele faz as regras. Então, se ele quiser, ele faz. Depende só dele mesmo. Até no 61 kg, mesmo, tem um “quarteto fantástico” ali apenas, tem pouca gente. Agora que chegaram algumas brasileiras e a categoria esquentou.
R7 – E por falar nelas, você acha que elas podem chegar ao topo da divisão?
Cyborg – Sim, com certeza. Eu boto muita fé na Amanda [Nunes]. Ela é agressiva e tem um jogo bem maneiro, para frente mesmo. A menina que lutou semana passada, a Jéssica também. Durante a luta recebi mensagem dizendo que ela era agressiva igual a mim [risos]. Fiquei bem feliz e torço pelo sucesso de todas elas. As brasileiras são diferenciadas, sofremos muito para chegar lá, e por isso temos o algo a mais.
R7 – Você acompanha o TUF liderado pela Ronda Rousey e Miesha Tate? O que tem achado dos episódios?
Cyborg – Sendo bem sincera, acho que vi, no máximo, três episódios. Acho bacana esse crescimento. Quando a mídia dá importância, o povo também dá importância. Se começar luta feminina o tempo todo na TV, as pessoas vão apoiar mais. Já quebramos muitas barreiras. Tem mulheres no UFC, mulheres no TUF...
R7 – Mas você chegou a ver a postura das treinadoras? O que achou?
Cyborg – Eu não gosto disso, de xingar e mostrar o dedo. Gosto de respeitar minha adversária. Existem outras maneiras de chamar a atenção. Claro, tem o Sonnen que faz palhaçadas dele e consegue luta. Tudo depende de cada pessoa. Eu não seria assim. Sou a mesma pessoa em casa que sou no octógono. Não gosto de papagaiada. Acho infantil fazer o que a Ronda faz. Mas vende, né?
R7 – Você mencionou o Sonnen. Mas, se lembrarmos, o Tito Ortiz, seu manager, foi o primeiro lutador a fazer uso do trash talk no MMA?
Cyborg – Sim, as pessoas gostam disso, porque vende. A minha postura é no octógono mesmo. Só falo que vou tentar nocautear. Nunca vou falar mal da família de alguém. O Tito sempre foi um cara polêmico, tanto que era conhecido como Bad Boy. É o estilo dele.
R7 – No ano passado, você se esquivou das polêmicas com o Dana White e com a Ronda Rousey. Essa sua mudança no discurso tem a ver com os conselhos do próprio Tito?
Cyborg – É que às vezes eu me revolto. Ela falava muito de mim quando eu estava suspensa. Pedi para lutar com ela no Strikeforce, mas defenderam muito ele no evento e não deixaram, mas ela continuou falando m... de mim. Não falei nada na época porque estava suspensa. Agora posso falar, porque posso lutar. Eu quero lutar, e ela não fala mais nada porque sabe que agora pode acontecer. Quando ela quiser, a gente luta em um peso combinado.
R7 – Mas os conselhos do Tito sobre promover uma luta te ajudaram a soltar esse lado mais crítico nas entrevistas?
Cyborg – Essa luta com a Ronda eu quero muito fazer, mas ela está correndo. Mas, com certeza, ele me dá muitos toques. Não mudou em nada a minha característica. Nós conversamos muito sobre isso, e ele fala sobre essas coisas [promover a luta]. Conversamos muitas vezes e ele dá muitos toques, mas faço do meu jeito, adequo a uma forma que não me faça me sentir desconfortável.
R7 – Quando você diz que ela está correndo, quer dizer que ela está com medo de lutar com você?
Cyborg – Não sei se é medo, mas ela está correndo. Não fala mais de mim e diz que é a melhor do mundo. Antes dela lutar MMA, eu já era a campeã, e nunca perdi uma luta desde então. Agora ela não fala mais nada de mim, é falta de humildade. Coloca a gente em uma luta casada. Foi um absurdo falar que eu não queria baixar de peso. Juro que tentei, mas tenho que ver a minha saúde. Atleta é assim. Se você falar para um lutador de 80 kg que se ele bater 60 kg ele entra no UFC, ele vai tentar, mesmo se não tiver acompanhamento profissional. E, hoje, eu tenho suporte.
R7 – Voltando ao TUF americano. Quem vence o duelo das treinadoras em dezembro?
Cyborg – Eu acho que a Miesha Tate tem muito mais armas, já que a Ronda só tem queda e armlock. Se a Miesha fizer treino bom, ele tem tudo para vencer. Em pé as duas estão aprendendo ainda. Mas a Miesha é mais corajosa e disse que aceitaria lutar comigo depois de vencer a Ronda. Ela tem mais jogo, mas qualquer uma que vencer está bom para mim.
R7 – Para terminar, como seria um duelo seu com a Ronda?
Cyborg – Eu venceria. Ia anular o jogo de queda dela e deixaria ela frustrada. Com certeza eu venceria.