'Consegui deixar meu nome na história', celebra a maior atleta brasileira da ginástica rítmica
Bárbara Domingos quebra recordes pelo mundo e sonha em estar entre as dez melhores do planeta
Mais Esportes|Yasmim Santos*, do R7
Bárbara Domingos, de apenas 23 anos, é o grande nome da ginástica rítmica brasileira. Ela foi a primeira atleta da América Latina a subir em um pódio de Copa do Mundo, em Sofia, na Bulgária, quando levou o bronze na prova individual.
Uma semana depois, a curitibana conquistou a medalha de ouro na fita no Grand Prix de Thiais, na França. Novamente a primeira do Brasil. Em agosto, ficou em 14º no individual do Mundial e garantiu vaga direta para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.
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Babi, como é apelidada, é a melhor da modalidade no país — e ainda tem muito pela frente. No Pan deste ano, o objetivo é superar o resultado de Lima 2019 e trazer o ouro.
Ao R7, ela falou um pouco sobre tudo: as expectativas para Santiago e Paris, os sonhos e as dificuldades que já enfrentou.
Além disso, conta que a ginástica rítmica não era sua primeira opção, mas foi transferida para ela porque tinha pouca força.
R7—Quem é a sua inspiração na ginástica?
Bárbara Domingos — Tenho várias inspirações, mas acredito que a primeira, para eu iniciar a vida de atleta, foi a Daiane dos Santos. Comecei na ginástica artística por conta dela, então ela é uma inspiração para mim até hoje.
Na ginástica rítmica tenho várias, mesmo estando em um lugar que nunca passou na minha cabeça. Sonhava, mas nunca achei que era possível estar entre as melhores do mundo e, hoje, estou, próxima dos meus ídolos. Tenho três ídolos, duas búlgaras e uma italiana: Boryana Kaleyn, Sofia Raffaeli e Stiliana Nikolova.
Como e por que chegou à ginástica rítmica?
Comecei na ginástica artística, entre 4 e 5 anos, depois de ver a Daiane na televisão. Chamei meus pais para assistir e falei: "Quero fazer como ela, quero dar mortal". Insisti para começar no esporte, mas, na época, não sabíamos onde tinha. Meus pais procuraram em tudo quanto é canto e acharam.
Depois de um ano e meio migrei para ginástica rítmica. Essa troca aconteceu porque, quando entrei, as meninas da minha idade já eram mais altas, mais fortes, e eu ainda era muito pequena, não tinha força. Acho que a troca foi o ponto principal para a minha carreira
Qual o seu aparelho preferido e qual o mais difícil?
O que mais gosto, realmente, é da fita. É um aparelho com o qual me identifico mais em competições, e a maioria dos resultados deste ano foi nele. Um dos mais difíceis é a bola, mas cada atleta tem a sua dificuldade.
Eu, por exemplo, adoro a bola. Um que não me agrada muito é o arco. Quando era menor, me dava muito bem com ele, fazia com muita facilidade, hoje, entro com um pouquinho mais de atenção, porque é muito difícil a série.
Qual foi a medalha mais importante para você?
Cada medalha tem um gostinho diferente, mas o bronze em Sofia foi muito especial para mim. Foi a primeira medalha da minha vida em uma Copa do Mundo. Também o ouro no Grand Prix, em Thiais, porque o Brasil nunca havia ganhado uma dessa.
Tivemos um ano mais apertado, em relação às Copas do Mundo, por conta do Mundial e da preparação para ver quem ia pegar as vagas para a Olimpíada. Então acredito que a última medalha, o bronze que tive na Copa do Mundo da Romênia, também foi muito importante, para afirmar aos árbitros e ao mundo que eu estava bem e que era possível estar entre as 18 melhores do mundo.
Qual a expectativa para o Pan? Acha que a prata na fita vem de novo?
As expectativas são as melhores. Sempre esperamos ir muito bem nas competições, é claro. Acredito que, agora, depois de um ano tão cheio, estou mais confiante nas minhas coreografias, então não quero repetir a prata.
Vou buscar o ouro no Pan-Americano
Queremos fazer história no Pan, porque o Brasil nunca foi campeão no individual nos Jogos.
Com a vaga garantida, qual a expectativa para Paris?
Terminei o Mundial em top 11, e isso foi muito bom; o Brasil nunca tinha chegado a essa colocação no individual, foi histórico. Então, já temos a meta de ficar entre as top 10 na Olimpíada.
Você chegou a essas competições (Copa do Mundo e Grand Prix) acreditando que ia conseguir medalha?
A gente, atleta, se apega muito na confiança. Conforme temos resultado, vamos criando mais confiança, isso é fato. É muito bom chegar a uma competição sabendo que já teve bons resultados anteriormente. Dá um gás, uma energia melhor.
Você vê que está dando os primeiros passos para algo muito maior na ginástica rítmica brasileira?
Acredito que sim. Creio que estou deixando meu nome, e, é claro, tem muitos outros talentos vindo atrás, que podem escrever novas histórias, talvez até melhores do que as minhas. Tem muita gente que se inspira, vê meus resultados e quer também, um dia, chegar aonde eu cheguei.
Consegui deixar meu nome na história
Por mais que a cada ano eu consiga fazer algo histórico, crescer mais na ginástica rítmica é muito novo para mim. Não consigo me acostumar com isso, nem minha técnica, a gente até brinca e fala: "Meu Deus, como estamos vivendo tudo isso?".
Qual o seu maior sonho na ginástica?
Ir para a Olimpíada e ficar no top 10.
Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?
A lesão no quadril, em 2020. Já tive lesões no pé, competi com ligamento rompido e tudo, mas a mais difícil foi a do quadril. Passei, praticamente, a quarentena inteira sem poder treinar.
Voltei no fim de 2021. Tive que fazer cirurgia e fiquei seis meses afastada. Acredito que essa foi a parte mais difícil, tive vários sentimentos, emoções, incertezas e indecisões. Também tinha muito medo de não voltar a performar como antes.
Qual competição você performou com o ligamento rompido?
Foi em 2015. Rompi os ligamentos do pé esquerdo e, logo em seguida, tinha o Campeonato Brasileiro, que era uma competição bem importante, porque classificava para o Sul-Americano. Eu era seleção transitória, não competia fixa só com a seleção, competia pelo meu clube também, então tinha poucas competições internacionais. Precisava competir, porque não podia ficar de fora do Sul-Americano, e fui com ligamento rompido.
Temos a sensação de que todo atleta vive com dor. Como é disfarçar essa dor corporal em meio à pressão para ser delicada e perfeita?
Infelizmente o nosso esporte exige muito do nosso corpo, acabamos nos lesionando, tendo algum probleminha. Temos objetivos e acabamos passando por isso. Atleta de alto rendimento é assim, aguenta a dor até o último. Quando entramos em quadra, nem sentimos dor, por conta da adrenalina e das borboletas no estômago.
Quem é a Bárbara fora dos tablados? O que você gosta de fazer?
Quando era pequena, chegava do treino e já ia para a rua brincar, sempre brinquei muito. Hoje, sou mais caseira, até porque a semana é muito corrida, muito cansativa.
Adoro ficar em casa assistindo a filme. Se eu pudesse, ficaria todo fim de semana em casa vendo filme, mas, às vezes, falo: "Não, estou muito em casa, preciso ver pessoas, sair com os meus amigos". É muito bom também dar essa relaxada fim de semana, mas consciente.
*Sob a supervisão de Carla Canteras
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